sábado, 17 de dezembro de 2011

Resplandecer

Algumas palavras muito importantes e muito significativas acabam por ser muito pouco usadas por nós. Dentre estas palavras especiais, está uma que outro dia me veio a mente ao ler um texto bíblico: RESPLANDECER.
Há uma música de Aline Barros com este tema, que diz em sua letra "...ser como Davi, ser como Jesus, ser luz e resplandecer na escuridão...". Algo que resplandece chama a atenção, faz com que os olhos se voltem pra luz, e principalmente em um mundo escuro, pessoas que resplandeçam são extremamente necessárias.
Fui ao dicionário para tentar pensar DE UMA OUTRA FORMA sobre esta palavra, e encontrei além do significado real e figurado, alguns sinônimos que ampliram minha visão e contribuiram em muito para esta reflexão. Resplandecer significa luzir, brilhar intensamente, rutilar. No sentido figurado, quem resplandece é aquele que se sobressai, que torna-se notável, que é engrandecido. Resplandecer têm com sinônimos cintilar, brilhar, fulgurar (e fulgurante é algo próprio das estrelas). Radiante é também um sinônimo de resplandecer, que me faz pensar em distribuir, compartilhar a luz que recebe.
De certo modo, fomos criados para resplandecer, para superar as expectativas. Fomos destinados a buscar por excelência, a ter conteúdo que valha a pena, a fazer diferença. Devemos fazer isso pelo simples fato de ter nascido pra isto, e não por resultados ou por motivação frívola. Precisamos tomar cuidado com o modo acanhado de pensar e começar a sonhar alto, pensar grande.
O texto bíblico que me fez pensar em resplandecer foi o versículo 16 do capítulo 5 do evangelho de Mateus. No grande sermão da montanha, Jesus declara, nos versículos 14 e 15, que seus discípulos são a luz do mundo, e que não devem ficar escondidos, mas se colocarem em lugares onde possam levar luz aos outros. Então, no versículo 16 Ele diz que nossa luz deve brilhar diante dos homens, para que vejam nossas boas obras e glorifiquem a Deus.
Durante todo o ano observando e conversando com muitos alunos da escola onde trabalhei, observei que existem algumas coisas que podemos fazer para resplandecer. Podemos e devemos fazer estas coisas, tomar estas atitudes, colocando-as no lugar de muitas coisas que fazemos que nos fazem quase invisíveis. Se o desejo de Jesus pra nós é que brilhemos, podemos com a ajuda dEle dar alguns passos e resplandecer de verdade.
A primeira coisa que devemos fazer é procurar realçar nossos pontos fortes. Todos nós temos algo que fazemos bem, que gostamos de fazer. Todos nós temos um talento, uma inclinação, um jeito ou dom especial que nos destaca. Procuremos fazer disto nosso cartão de visita. Vivemos em um mundo que parece promover o erro. Parece ser cultural mostrar pontos fracos, como se fóssemos vítimas de nós mesmos, ou então tentar obter atenção de forma agressiva, fazendo o que é errado. Mudemos isso! Fazendo aparecer nosso melhor, realçando o melhor que temos!
Devemos encantar as pessoas e a nós mesmos! Usar a emoção e agir com um pouco mais de sentimento diante das situações. Aprender a ver a beleza das pequenas coisas e, como crianças, seguir o conselho de Rubem Alves, que diz que as crianças olham para as coisas com olhos encantados. Quando nos encantamos com as coisas e com as pessoas, de forma quase automática nos tornamos encantadores e resplandecemos. Acredite! Funciona mesmo!
Selecionar o que é verdadeiramente bom é o próximo passo. Escolher estar nos melhores lugares, aprender a dizer não para aquilo que não é excelente, que é vazio e que só vai roubar nosso tempo. Não precisamos ver qualquer filme, ouvir qualquer piada ou falar qualquer besteira quando podemos ouvir lindas músicas, palestras estimulantes, ler histórias fantásticas ou assistir a filmes sensacionais! Selecionar o que é melhor, e se recusar a receber menos do que merece, e a fazer tudo com um espírito excelente é distintivo do ser que resplandece.
Aprender a partilhar tudo é outra atitude de quem ilumina os outros. Abrir as mãos para que o que temos se espalhe e para que novos presentes possam ocupá-las. É uma espécie de lei natural: quando você espalha as sementes, multiplica infinitamente suas provisões. Se você tostá-las e comer, terá apenas ganho uma refeição.
Preparar um legado legítimo, honroso e digno para se deixado faz com que sua vida brilhe diante dos homens. É perguntar o que você vai deixar quando for embora. E não falo daquele "ir embora definitivo" que é a morte. Falo das pequenas ausências a vida também. O que você deixa quando se despede dos colegas de trabalho? Que sentimento fica quando bate o sinal da última aula e você vai pra casa? O que seus colegas sentem com sua ausência? O que você deixa por onde passa? Esperança? Inspiração? Amizade? Saudade? Deixar um legado legítimo e positivo faz você brilhar.
Viver em abundância em um mundo de escassez é também muito importante para fazer diferença. Não precisa ser rico. Você pode dispor de muitos outros bens como humor abundante, alegria abundante, amizade abundante. Você talvez não resolva os problemas do mundo, mas pode matar a fome de uma pessoa por um dia. Pode não trazer alegria perene para as nações, mas pode levar consolo ao um amigo que sofre. Pode não vestir todos os miseráveis da cidade, mas pode poupar uma garotinha de uma noite congelamente. Mentalidade de abundância, de ser abençoado faz de você alguém radiante.
Nutrir-se é fundamental. Nutrir o corpo e a alma. Cuidar da alimentação, do brilho dos olhos, da energia da voz, da força das mãos. Comer bem, descansar adequadamente, exercitar-se bem. Nutrir a mente com estudo e a alma com meditação, oração e adoração. Coisas simples, mas que se negligenciadas podem apagar a luz que rutila na escuridão e fazer com que você perca o caminho correto.
Quem deseja ser fulgurante não pode deixar de desafiar-se! Diga todos os dias a si mesmo que pode fazer melhor, que pode fazer mais! O segredo é pensar em superação e em fazer sempre um pouco mais do que aquele famoso "assim já está bom". Quando paramos no "bom" estamos a um passo do excelente! Só mai um pequeno esforço, só mais um pequeno detalhe... Desafie-se! Faça mais! Desafie os outros a darem o melhor. Fazendo isso você, e quem aceitar seu desafio, brilharão intensamente.
Jesus disse que a luz deve ser posta em um lugar de destaque para que a casa seja iluminada, e não debaixo da mesa ou de algum objeto... Aprenda a expor-se, a mostrar-se, a colocar-se na frente e a ser exemplo. Diga "eu quero!", diga "eu vou!", diga "eu estou aqui!". Expor-se deve indicar que você não tem do que se envergonhar, e suas obras são reflexos de um caráter íntegro. Podemos até não nos orgulhar muito de nosso passado ou de algumas coisas que já fizemos, mas daqui pra frente, desafiados a resplandecer, devemos viver de forma a ficar longe do erro que nos faz querer nos esconder com vergonha, e sim fazer coisas dignas que nos façam desejar ser vistos para que Deus seja glorificado pelo que fizermos em Seu nome!
Busque capacitar-se todos os dias, com novos conhecimentos, com novos amigos, com novas oportunidades. Coopere com o bem e não cruze os braços quando puder compartilhar algo para fazer coisas boas acontecerem.
Busque energizar a si e aos outros através de relacionamentos ricos, de momentos de inspiração e pela prática dos conselhos acima. O bom exemplo de outros e as realizações incríveis de muitos que já passaram por este mundo são excelentes para carregar nossa bateria de desejo por realizações.
E, por fim, realize. Não fique só no "eu concordo com tudo isto". Faça algo prático, agora mesmo. Para resplandecer é preciso estar aceso, iluminando, queimando, vibrando e FAZENDO. Comece agora. Faça a diferença. Pense nisto.

Eu recomendo

No filme UP – Altas Aventuras, há uma frase que se repete ao logo da trama e que é um dos temas motivadores da história: a aventura está lá fora! Gostei muito da abordagem do teólogo Robert Velarde, comentando sobre este filme cativante da Pixar. Velarde percebe, sutilmente, que embora só em idade avançanda o personagem principal saia com sua casa voadora para experimentar o gosto dos sonhos sendo realizados, durante toda a sua vida, em seu trabalho, casamento e nas pequenas coisas do cotidiano, ele viveu altas aventuras.
A maioria de nós é como Karl Friderichsen, o velho rabugento que pensa ter passado pela vida sem sentir o sabor da aventura, quando na realidade passou por momentos fantásticos de alegria, de aprovação, de descoberta e de sonho. Aproveitando a ótima história da Pixar e a fantástica análise de Robert Velarde, quero recomendar a você experimentar altas aventuras DE UMA OUTRA FORMA!
Viaje. A primeira coisa que eu recomendo é que você amplie seu mundo. Saia de onde você está e conheça outros lugares. Não precisa ser uma viagem longa e nem um lugar famoso e caro. Pode ser para uma cidadezinha pacata, para uma fazenda ou um passeio em um local histórico. Você pode até mesmo ir para um lugar onde não conheça ninguém, e passar alguns momentos andando por ruas que não conhece, provando coisas diferentes e conhecendo pessoas que talvez você nunca mais veja...
A noção da amplidão do mundo e da multiplicidade de possibilidades é um caminho excelente para experimentar aventuras e dar sabor e colorido a vida. Lembro-me de ter conhecido lugares lindos, como as cataratas. Quando subi o rio em um potente barco do macuco safari, e o piloto nos levou bem para o centro do local onde as águas caiam, num som ensurdecedor e com um show de cores pelos raios do sol no prisma das gotas e vapor d´água, eu alimentei meu coração com a certeza do poder de Deus, da beleza do mundo, da vibração da vida e experimentei a sensação boa de ser abençoado pela oportunidade de estar ali.
Em outra oportunidade, quando trabalhava com o projeto do clube de desbravadores, fui a uma cidadezinha do interior de minas. Praça, igreja e pequenas ruas... Andei por ali, sentei no banco da praça, olhei os senhores idosos em sua marcha lenta e paciente. Experimentei a cordialidade e hospitalidade das pessoas em toda a sua simplicidade. Senti que a vida pode ser extremamente satisfatória mesmo quando vivida em alguns poucos quarteirões, cercados de verde, de pequenas hortas, de escola no fundo da igreja e de lojas que ficam abertas sozinhas enquanto os donos vão até em casa tirar os netinhos da cama.
Estive em outros estados e descobri meus semelhantes sendo diferentes no jeito de falar, mas exatamente iguais nos sonhos e desejos. Fui agraciado com a oportunidade de conhecer outros países, estar em lugares onde a história deste mundo foi mudada e que nos conduziu a muito do que somos e temos hoje. Em cada lugar, altas aventuras, perto ou longe, diante de uma enorme beleza natural ou de uma serena pracinha com palmeiras, o mundo expandido faz de você alguém maior. Viaje, e lembre-se da máxima de UP: a aventura está lá fora.
Abrace. Uma vez que você já expandiu seu mundo, você tem a oportunidade de torna-lo terno. Viva a aventura de tocar e deixar-se ser tocado. Abrace afetuosamente as pessoas que são importantes pra você. No começo pode parecer desconfortável pra você, e depois talvez seja embaraçoso e até estranho para os outros, mas logo se torna natural. Comece e você verá.
As pessoas tem texturas diferentes, temperaturas distintas e cada uma delas tem um perfume que lhe traz o sentimento gostoso da multiplicidade. Estes aromas e formas diferentes, combinados em muitos abraços energizam você. Experimente!
Se entregue completamente. Claro que não pra moça que está te vendendo sapatos e nem pra o rapaz do correio que vai lhe entregar uma encomenda. Não estou falando de entrar no ônibus e ao olhar para o motorista e contar toda a sua vida pra ele. Mas quando falamos de amigos próximos, da pessoa que compartilha a vida com você, do irmão que nunca te abandona ou dos pais apaixonados e filhos amados, ai sim o exercício da entrega é algo fundamental que eu recomendo muito e com veemência.
Se entregar é confiar. Contar as coisas que passam pela cabeça, deixar que o outro conduza você de vez em quando, falar das lembranças da infância sem medo, provar o que o amigo lhe traz, aceitar favores sem pensar em “ficar devendo”, expressar suas frustrações, rir das piadas sem graça e contar outras piores ainda.
Eu fazia isto com maestria em minha adolescência. A gente se deitava debaixo da sobra de uma árvore, quando em fazia o ensino médio, e um monte de amigos, cada um fazendo do outro seu travesseiro, formando uma coisa parecida com uma centopeia, fica horas desfiando sonhos, problemas de casa, preocupações com as notas, falando da fome e da vontade de comer coisas diferentes, rindo de coisas bobas, e simplesmente curtindo o calor daquele momento, seja pela presença do amigo que admira ou pela oportunidade de segurar a mão da pessoa que fazia o coração acelerar... Totalmente entregues, sem defesa e em extrema confiança. Nada de pensar em ser passado pra trás, em ter um segredo revelado, em cobrar aquele R$ 1,00 que comprou balas pra todos... Muitas destas pessoas a quem nos entregamos e que se entregaram a nós partem e não voltam mais, mas as lembranças delas são as mais fortes e vívidas em nossa mente e coração, afinal elas nos proporcionaram altas e fantásticas aventuras e conferiram muito sabor as nossas vidas. Eu recomendo isso do fundo do coração...
As brincadeiras com meu irmão, no fundo do quintal, as visitas dos primos que comparavam seus brinquedos, a turma da faculdade que se esquecia do trabalho de sociologia contemporânea pra dar conselhos sentimentais para a colega que perdeu o namorado... Entrega aos outros e entrega completa a uma missão, a um projeto ou trabalho.
Assim como você se entrega a estas pessoas especiais, você pode se entregar, vez ou outra, àquilo que está fazendo, dando ao mundo uma boa dose de excelência. A muita experiência, os melhores recursos e um vasto conhecimento não conferem tanta excelência a um trabalho quanto a entrega total e irrestrita que podemos dar à sua execução.
Estude. Quando eu era pequeno, gostava de seguir a trilha das formigas que cortavam folhas nos canteiros de minha mãe. Elas passavam pela horta, atravessavam o muro, subindo e descendo por ele do outro lado como alpinistas, seguiam pelo canto da calçada e atravessavam a rua, naquele tempo rua sem calçamento, e entravam no terreno vago do outro lado. Em meio ao mato alto, eu via a trilha delas lá embaixo, limpinha e o constante movimento das formiguinhas indo e vindo, umas carregadas e outras iniciando a nova jornada para buscar mais um pedacinho da couve que minha mãe tinha plantado...
Algum tempo depois, na escola, vimos um formigueiro em atividade, mas num corte transversal, cercado por vidro, que nos permitia entender o que as formigas faziam lá embaixo. Vi os túneis, as câmaras, a forma como elas guardavam as folhas, e o local onde ficava a rainha. Enquanto a professora falava, explicando sobre a organização e o trabalho daquelas formiguinhas, eu imaginava as formigas que andavam pela trilha no canteiro lá de casa. No outro dia pela manhã, acompanhei de novo a trilha, e vendo a entrada do formigueiro, minha imaginação correu solta e criou histórias sobre a imensidão do reino que existia ali, bem pertinho da minha casa, poucos metros abaixo do campo onde eu jogava futebol, sem saber quanta complexidade e riqueza estavam sob nossos pés...
O conhecimento não roubou o meu encatamento pelo o trabalho das formigas. O conhecimento apenas o tornou mais profundo, mais intenso e real. Olhar para as coisas belas e poder, além de senti-las, entender como e porque existem é uma forma maravilhosa de saborear mais intensamente a vida. Por isso, eu recomendo que você estude sempre, muito e com prazer.
Conheça gente. Se você seguir meus conselhos de viajar, abraçar e estudar, vai conhecer muita gente. Vai achar alguns extremamente interessantes e outros muito irritantes. Vai se extasiar com a beleza de uns e achar outros meio sem brilho. Vai perceber que alguns falam tanto que chegam a perder o ar, e outros talvez o levem a pensar se realmente possuem voz.
O importante é que todas estas pessoas tem algum ingrediente para tornar sua aventura mais completa. Aproveite isso! Gente de todo o tipo está ao seu alcance nos ônibus cheios, nas filas de banco, no trabalho e na escola. Há gente correndo conosco no parque, disputando mesas nas lanchonetes lotadas, olhando você passar da janela e olhando seu perfil na internet por curiosidade simples de quem te achou ali por acaso, enquanto procurava outra pessoa.
Então, aproveite. Quando falo de conhecer gente não estou falando necessariamente de se apresentar, saber seu nome e começar um relacionamento ou estabelecer um convívio diário. Estou recomendando que você se torne um observador das pessoas, e que se maravilhe com a diversidade delas. Estou falando de ser agradável com aquela pessoa que você não vai ver mais, e aprender um novo jeito de colocar mostarda no seu sanduiche olhando o cara magro da mesa ao lado.
Conhecer gente é deixar rolar aquele papo despretensioso que começa quando o ônibus demora e que de repente se torna meio desabafo, meio lição de vida, meio aula de melhores lugares pra passar férias.
Conhecer gente é ficar na fila do banco admirando a paciência que aquela mulher tem com a filha inquieta que parece estar sendo mordida por todas as formigas do formigueiro da minha infância e aprender com ela a sucessão de estratégias que usa para entreter a filha a cada 3 minutos.
Conhecer gente é se encantar com o desenhista do parque municipal ou da feira livre, que sentado em um banquinho faz em minutos uma caricatura ou retrato perfeito, enquanto você leva quase meia hora pra desenhar uma casinha com uma cerca de riscos no quintal.
Conhecer gente é trocar ideias, ouvir opiniões, discordar e concordar completamente. É ouvir histórias, guardar lembranças, ser amistoso e sentir-se sem jeito por ter sido ajudado com tanto carinho por uma pessoa que você nunca tinha visto e talvez nunca mais vai voltar a ver.
Conhecer gente é evitar fazer o mesmo que aquela pessoa que te irrita faz, e procurar imitar aquela outra que você admira. Eu recomendo que você conheça gente, de todo tipo, e que aproveite cada momento. Ah, conhecer pela internet ou num programa de TV também vale, mas ao vivo é muito melhor.
Brinque. Brincar mesmo! Fazer palavras cruzadas e o jogo dos sete erros. Juntar os amigos em casa e ficar horas com um jogo de tabuleiro ou aquelas gostosas brincadeiras de adivinhação. Jogue água na esposa e corra pro quarto, esconda o travesseiro dela ou esconda bilhetinhos por toda parte, faça cócegas e saia do sério de vez em quando.
Sempre que posso brinco com as situações e com as pessoas. Na escola onde trabalhei em Uberlândia, sempre que pegava uma colega distraída eu me aproximava e a jogava no chão (e no dia da revanche uma turma me derrubou também). Sempre que está ao meu alcance procuro tornar as coisas mais leves, como por exemplo, junto com quem trabalha comigo, aposto pra ver quem termina suas tarefas primeiro. Isso torna o trabalho mais divertido, e faz com que as coisas que fazemos tenham mais significado.
Gosto de brincar com a imaginação. Se você é da mesma época que eu vai se lembrar de um desenho animado chamado carangos e motocas, onde os carros falavam e aprontavam muitas confusões (se você é mais novo, outro filme da Pixar, Carros, é um bom exemplo). Quando saio de carro, imagino que ele é como um daqueles personagens e brinco com isso. Os carros que tive todos tiveram seus novos, e o atual se chama Fortunato. Além dos carros, minhas bolsas também tem seu nome, e as três que uso agora são a Maristela, a Astride e Desirré. Brincar é ótimo para a saúde, para o tempo se tornar saboroso ao invés de penoso e para as pessoas se sentirem bem com sua presença.
Claro que você não precisa brincar como eu. Liberte a criança que existe em você e as brincadeiras surgirão, e o seu olhar vai ser transformado e voltará a se encantar com as coisas simples que estão a sua volta, tornando sua vida de aventuras ainda mais divertida. Experimente!
Acampe. Tudo bem, eu reconheço. Tem quem não goste da sensação de dormir numa barraca e de ficar enrolado num cobertor perto de uma fogueira enquanto espera batatas ou maçãs enroladas em papel alumínio assarem nas brasas, mas se você ainda não experimentou, eu recomendo.
Foi acampando que conquistei algumas das minhas maiores amizades. Foi em meio a natureza que descobri que tenho potencial e mais força do que imagino, superando o cansaço da caminhada, fazendo o fogo brotar da lenha molhada, conseguindo fazer uma comida gostosa (mas nem sempre) num caldeirão preso a uma forquilha.
Sentir a madrugada chegando quando a lona da barraca fica ainda mais fria, ver o sol nascer e a neblina subir das águas do rio e conviver de perto, sem as distrações do conforto moderno, com pessoas que assim como você gostam dos prazeres simples, faz com que suas percepções de mundo mudem bastante.
Eu digo acampe, mas você pode escolher escalar, fazer trilhas, andar de bicicleta, fazer um pic-nic, nadar em uma represa ou qualquer coisa do tipo. O que recomendo mesmo é contato com a natureza, abrir mão por um tempo das comodidades e entender que você pode superar muitas situações difíceis com criatividade.
Eu recomendo uma boa caminhada com mochila, uma boa comida de fogueira e uma noite em uma barraca batendo papo com amigos até o sono ir colhendo um por um...
Declare e expresse amor. Pra algumas pessoas este é um exercício maior do que ir acampar na selva amazônica. Mas é algo extremamente importante para ter uma vida plena. Não é só dizer, e também não basta apenas demonstrar. Para que o efeito seja completo, você precisa fazer as duas coisas, e com a maior frequência que você conseguir. Faça isso é você vai descobrir que muito mais do que demonstrar que você ama, você vai se sentir muito amado.
Pois aí estão algumas coisas que eu recomendo. Recomendo como alguém que aprendeu a gostar imensamente das pessoas. Recomendo como alguém que está sempre tentando aprender a vive e a enxergar as coisas DE UMA OUTRA FORMA. Recomendo como alguém que tem experimentado tudo isso, e que se descobriu muito dependente de Deus para viver. Vá em frente, experimente! Eu recomendo.

domingo, 11 de dezembro de 2011

As coisas da vida







Eu perdi a conta de quantas vezes voltei pra casa com os joelhos esfolados. Cortes, arranhões, pés furados com espinhos, dedos ralados por jogar descalço nas ruas, mãos cheias de bolhas e cortes pelas brincadeiras nas árvores ou por fazer meus próprios brinquedos...



Tenho algumas marcas ainda hoje. Os tombos de bicicleta me custaram uma cicatriz no braço direito e dentes da frente separados. Os acampamentos da boa época do clube de desbravadores me renderam algumas marcas de corte de faca nos dedos.

Uma vez levei três pontos na pálpebra esquerda, quando correndo pelo quintal fui "fisgado" pelo arrame farpado que servia de varal. Mas isso foi depois de ter ficado todo empolado por ter não sei quantos carrapatos pelo corpo, que foram lembranças de brincar no lugar onde os cachorros dormiam...


O curioso é que não deixei de fazer meus brinquedos. Continuei correndo e subindo em árvores. Ainda de bicicleta ainda muitas outras vezes. Acampei até ficar adulto (e continuei me machucando). Entendia, mesmo sem muita consciência disso, que os joelhos ralados eram simplesmente coisas da vida...


Em um dos acampamentos que Willian (grande amigo do coração) e eu promovemos (um acampamento de carnaval no sítio da mocidade para cristo, em Belo Horizonte) comecei a conversar com uma garotinha de uns 4 aninhos. Ela me perguntou se eu tinha "consequências", e fiquei perdido, sem saber bem o que ela queria dizer. Então, ela levantou o bracinho, dobrado contra o corpo, e me apontou com o indicador da outra mão um arranhão já cicatrizado, e disse eu tenho essa "consequência aqui"... Imaginei quantas vezes ela tinha ouvido a mãe exasperada dizer "tá vendo a consequência, minha filha."

Consequências, coisas da vida. Hoje estou tentado a pensar nestas coisinhas que a vida nos apresenta DE UMA OUTRA FORMA. Quero vê-las como marcas distintivas das aventuras vividas. Quando era criança, mesmo que com as "consequências" viesse alguma dor, um choro sofrido, um remédio ardido ou uma surra pra gravar bem o que não se devia fazer, a vontade de continuar tentando continuava. Afinal, por mais que se ralassem os joelhos, sempre havia o bom e velho curativo, band-aid ou esparadrapo com um pedacinho de algodão, que resolvia tudo.


As vezes eu ficava olhando uma cicatriz e me lembrando do que vivi para que aquela marquinha estivesse ali. Não foram poucas as vezes em que senti o calor do momento, ouvi os sons e senti até mesmo o vento soprar comemorando a aventura vivida, o instante desfrutado. Olhando pro curativo no joelho, sentia muitas vezes que cada marca tinha valor, que o preço pago por viver intensamente tinha até sido barato, e que cada cicatriz tinha valido a pena.


Aquelas pequenas coisas da vida eram marcas da atividade, e nos faziam sentir a dor da atitude, da ação e da realização. Quando a gente cresce, as marcas diminuem e os joelhos ralados começam a ser substituídos por corações pesarosos, consciências pesadas, mentes cansadas. A dor física da atividade pouco a pouco se torna a dor física da inatividade (joelhos doloridos por fala de exercício, costas que doem pela acomodação imprópria na cadeira do escritório) e é acompanhada pela dor emocional, oriunda da frustração ou de outros sentimentos e sensações parecidas...


Mas para estes cortes e dores é bem mais díficil arrumar um curativo. Porém, em uma coisa os ferimentos de dentro de parecem com os de fora. Nunca foram impecilhos pra continuar a fazer. Assim como joelhos ralados não nos impediram de continuar correndo livres quando crianças, corações feridos não devem nos impedir de continuar amando.


Insisto na questão da infância porque é o melhor caminho de recuperação da essência. Precisamos continuar a ralar os joelhos em todos os sentidos se isso significa continuar vivendo, crescendo e fazendo diferença, nem que seja somente na nossa própria vida a princípio. Seria muito bom se tivéssemos uma enorme coleção de "consequências" por fora e por dentro, pra nos mostrar as muitas aventuras que vivemos, com recordações vívidas que nos façam desfrutar de novo cada dia glorioso do passado, e que nos façam sonhar com novas aventuras futuras. Veremos que um bom band-aid pode nos colocar de novo em forma, e que joelhos ralados serão um preço pequeno por tudo que a vida em essência oferece.


De novo uso a sabedoria do apóstolo Paulo, que disse de forma muito profunda, e muito mais direta, o valor de nossas marcas deixadas pelas coisas da vida. Quando ele percebeu o quanto desfrutava da vida em Cristo, da vida em essência, exclamou para os cristãos da Galácia quando falava daquilo que realmente importa: "Quanto ao mais, ninguém me moleste; por que eu trago no corpo as marcas de Jesus" - Gálatas 6:17. Pense nisto.


sábado, 10 de dezembro de 2011

Libertar-se de si mesmo: um exercício essencial




Romper as correntes. Para viver em essência, nosso desafio é bem maior do que romper com correntes e cadeias reais. Para desfrutar completamente de nossa identidade e estar desimpedido para seguir nosso chamado, para cumprir uma missão e para saborear as coisas maravilhosas que estão a nossa volta, é preciso romper os grilhões do condicionamento...


As formas de pensar e agir que outros lançam sobre nós acabam por nos envolver, criar uma armadura, uma couraça que nos priva de ver as coisas de um jeito mais profundo, mais atraente em alguns casos e mais cuidadosamente em outros. Esta "casca" se cristaliza e acaba nos dando uma forma falsa, dura, sem graça... Para viver em essência, de forma plena, precisamos arrebentar esta capa e libertar-nos a nós mesmos.


Não que haja um "verdadeiro eu" ou uma "outra personalidade", como entes ocultos em uma mentira que rege nossa vida. Não estamos falando de algo tão dramático e tão complexo, mas de cadeias de ideias, atitudes e comportamentos que acabam por nos impedir de experimentar mais da vida.


Penso que a primeira coisa a fazer para tornar-se livre de si mesmo (do condicionamento, da forma de ver as coisas com as lentes que nos foram impostas) e usar e abusar das lembranças dos tempos de criança. Naquela fase em que éramos autênticos, em que manisfestavámos nossas ideias e sábiamos muito bem onde queríamos ir e o que queríamos fazer. Recuperar estas memórias, além de nos fazer bem, pode nos mostrar, num bom exercício de comparação, o quanto mudamos e também o quanto nos afastamos de nosso caminho original, de nossos sonhos dourados e, às vezes, até de nossos relacionamentos mais importantes e significativos...


Depois de recuperadas, use sua imaginação e se coloque de novo como alguém sedento de respostas, repleto de ideias e vontades. Use sua imaginação para criar novos conceitos e para entender melhor aquilo que está a sua frente. Não se contente com ideias prontas e comportamentos engessados ditados pela moda corrente. Você não precisa ir a lugares só porque todos acham que aqui ou lá é muito legal, e nem assistir ou ouvir o que todo mundo assiste e ouve.


Com imaginação, com liberdade, ouça aquilo que lhe inspira, veja aquilo que lhe traz paz, vá a lugares que lhe tragam satisfação: crie seu mundo de novo! Não é quebrar regras e fazer o que quiser da vida, não! É mais que isto! É redescobrir que você pode escolher, e que muitas vezes a sua resposta pode ser não.


Lembranças vívidas da infância somadas ao uso da imaginação têm como resultado a brincadeira! Então, brinque um pouco. Seja mais solto e leve. Ria de si mesmo, faça coisas engraçadas e se solte um pouco. Brincar, e de verdade, é o exercício libertador por excelência. Quando você faz cócegas em quem ama, corre um pouco pela rua, entra numa guerra de travesseiros, faz barquinhos de papel, desenha óculos e bigodes nas fotos da revista, estoura sacos de papel, e tantas outras coisas do tipo, as correntes se soltam... Experimente.


Exponha-se um pouco. Deixe que as pessoas vejam você chorar ou contar uma piada. Se tem defeitos, mesmo que seja algo que te incomode, revele isso pra alguém em quem confia. Faça alguma atividade onde tem que se mostrar. Pode ser cantar em um coral, falar em público ou gravar um video ensinando a fazer um bolo. Qualquer coisa! Mostre-se! E o que é mais importante neste exercício: veja-se.


Aproveitando-se das lembranças, usando sua imaginação e a leveza que o brincar e o expor-se lhe trazem, escolha um momento divertido, inspirador e único da sua vida e procure recriar, reviver aquele momento. Pode ser indo a lugares de sua infância onde você nunca mais voltou, pode ser revendo aquele filme antigo que você curtia (morrendo de rir dos efeitos especiais de antigamente) ou marcando um encontro com a turma da escola de quem você nunca se esqueceu... Reviver momentos felizes é trazer uma alegria legítima de volta, até com mais intensidade. Lembre-se que estas alegrias sempre foram suas. Falar que elas fazem parte do passado é tirar o sabor de algo que pode ser eterno...


Estes exercícios, feitos com sinceridade, trarão a tona vários sentimentos ternos e despertarão muita emoção. Procure traduzir tudo isto em palavras. Crie metáforas, crie histórias, ou simplesmente partilhe através de abraços, gestos carinhosos ou serviço abnegado. Quando você traduz estas sensações de ternura e de alegria, você se expande e torna impossível que a velha "casca" de condicionamento se forme outra vez. A luta para ser livre é constante, e como aprendi com a minha instrutora dos Vigilantes do Peso, Andrea Fafinni, o preço da liberdade é a constante vigilância...


Acione sempre seus amigos de verdade. Aqueles que escolhem você, que gostam da sau presença e que te fazem sentir-se acolhido, acarinhado e aceito. Sempre que sentir que está se prendendo, que está voltando ao velho estilo "todos fazem isso", procure seus companheiros de aventuras, de brincadeiras e os convide pra uma guerra de bolinhas de papel, pra uma noitada de "imagem e ação" ou uma sessão de desenhos e filmes do tempo em que eram felizes e sabiam (e como sabiam...).


Por fim, rompa com a mentalidade da conformação. Paulo, apóstolo de Cristo nos aconselhou, inspirado pelo Santo Espírito, a não nos conformar com este mundo, mas sermos transformados pela renovação (tornar novo outra vez: reencontrar a infância, a imaginação, as brincadeiras, as alegrias de expor-se e a aventura de reviver os melhores momentos com os amigos) de nossa mente. Tudo começa e termina bem aí, na sua fantástica fábrica de sonhos que é sua mente. Pense nisto.


sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Sucesso de uma outra forma

Porque algumas pessoas, com apenas 19 anos, já são ricas (algumas bilionárias) e famosas, enquanto tantas outras, com maturidade, estudo e inteligência, depois de muitas realizações significativas e muito esforço, ainda lutam para pagar as contas do mês e obter algum reconhecimento?

Esta pergunta foi o objetivo de minhas reflexões durante um bom par de dias. Eu fiquei remoendo os possíveis motivos, incomodado por ser parte das tantas pessoas que lutam pra pagar as contas. É normal nos sentirmos frustrados pelos frutos aparentemente pouco promissores de nossos esforços, mas vez ou outra este sentimento de "parece que tudo é em vão" nos agride com mais força, e isso nos deixa tristes e desmotivados...

Por isso, para não cair nas garras da frustração permanente, e para não parar de produzir e fazer diferença, mesmo que em uma escala menor de reconhecimento, precisamos refletir sobre uma boa resposta para esta questão. Aqueles dias pensando sobre o assunto me levaram a um entendimento diferente, então aqui vai uma pequena análise no lugar de uma resposta:

1) O mundo não é justo. Em função desta simples verdade, entendemos que as oportunidades não são as mesmas para todos. Mesmo quando temos uma boa chance de fazer algo, nossos esforços podem não ser reconhecidos. Muitos tem uma oportunidade e não tem preparo, enquanto outros ficam prontos a vida toda e as portas não se abrem. Chefes tomam as ideias dos liderados, filhos dos donos das empresas ocupam os cargos de liderança, a moça com corpo perfeito são as escolhidas para apresentar um programa que foi preparado por uma outra, que usa óculos grossos e aparelho nos dentes... Este mundo não tem ainda a justiça que torna todos iguais. Gente passa fome, filhos desejados nascem doentes, pais são abandonados nos asilos ou nas ruas, bancos tomam os bens de famílias que perderam sua condição de trabalho... O mundo não é justo.
2) Existe escassez em vários sentidos. Não há tudo para todos. Estejamos falando de recuros, de bons empregos ou de vagas nas melhores escolas, precisamos entender que não há espaço para todos ao mesmo tempo. Some-se isso ao fator injustiça, e teremos milhares de pessoas com talento e nenhum recurso, ou ainda alguns poucos com muitos recursos e nenhum talento. Gente de potencial que não consegue estudar. Alunos brilhantes que não conseguem vagas no mercado. Gente capacitada e preparada sem jeito para relacionamentos e sem amigos.
3) Valores diferentes. Precisamos reconhecer que nosso mundo está repleto de valores confusos e superficiais. Aquilo que é valorizado em um momento não o é em outro. Aquilo que um grupo tem como precioso, outros grupos descartam como refugo. Muitas vezes as pessoas não querem abrir mão daquilo que valorizam. Quem tem como valor o desenvolvimento de outros através da educação, dificilmente vai procurar trabalhar com outra coisa. Quem ama a música tem enorme dificuldade em se ver administrando uma equipe de vendas. Há gente que se recusa a ganhar dinheiro fácil com coisas triviais, que não promovem o bem-estar ou o desenvolvimento. Muitos jovens sonham com o sucesso como o dos cantores de hip-hop ou funk, mas existe um bom grupo que não vê valor algum neste estilo de música que promove a sensualidade, o descompromisso e que passa sem deixar nada de duradouro...
4) Nem todos possuem equilibrio. Existe gente com muita dificuldade em atender aos apelos do trabalho sem desconsiderar sua família e o tempo que ela merece. Muitos profissionais tem sua carreira abreviada por não conseguir dedicar tempo ao estudo e atualização. Não são poucos aqueles que sacrificam a saúde no processo de obtenção de fama e dinheiro. É comum ver gente de sucesso que não consegue um casamento estável, que não tem os filhos reunidos em torno da mesa, que não têm amigos presentes e que não consegue tempo para desfrutar das coisas que o sucesso alcançado pode proporcionar. O equilíbrio é necessário até mesmo para prolongar o sucesso, pois alguns que chegaram cedo ao topo, ganhando milhões e tendo muito reconhecimento, ficam poucos anos em evidência, e depois passam o resto da vida em obscuridade. Há inúmeros exemplos assim entre as celebridas do mundo da música e do esporte.
5) Escrúpulos e disposição. Nem todos estão dispostos a fazer "aquilo que é preciso" para alcançar a fama. Existe gente que não abre mão daquilo que acredita, como família e amigos, sendo impossível pra eles sacrificar o tempo com os filhos ou passar por cima de um amigo. Quem tem uma crença fundamentada em princípios bíblicos não consegue trabalhar em qualquer função, como por exemplo promovendo alcool ou cigarros, nem faz da sensualidade um recurso para ganhar dinheiro. Nem todos estão dispostos a pagar o preço pelo enriquecimento rápido e pela fama, mesmo quando isso não envolve procedimentos que firam a moral. Não querem se comprometer com horas de estudo, com sacrificios em prol do aperfeiçoamento, com responsabilidades crescentes e constantes. Tudo isso, somado ao que já foi dito, são grandes impecílhos para atingir o objetivo do reconhecimento.
6) Talentos alinhado com valores sociais. Quem nos dera, se pudessemos sempre ter nosso talento aproveitado nas diversas formas como ele se manifesta. Chega a ser irritante ver um jogador de futebol, que não conhece seus admiradores, que não contribui para a saude ou bem-estar deles, que não investe em causas nobres (salvo algumas poucas excessões) ganhar salários em torno de R$ 250.000,00 por mês, enquanto médicos, professores, policiais e outros profissionais que promovem o crescimento e a saúde precisam de dois ou mais turnos de trabalho para pagar as contas. Uma moça que conseguiu aparecer na TV mostrando o seu corpo, ganha uma fortuna divulgando bebidas (que acabam com a saúde, provocam acidentes e roubam a lucidez), enquanto tantos outros não conseguem produzir algo realmente bom. A socieade celebra os craques do campo, os astros da música e os galãs da TV. Se o seu talento (somado a seus escrúpulos e disposição) não estão alinhados com estes valores, suas chances de ficar milinário e ser reconhecido por um trabalho bem feito ainda na juventude são muito pequenas.
7) A âncora dos princípios. Como um resumo de tudo o que foi dito, quem tem princípios sólidos tem muito mais obstáculos no caminho. Graças ao bom Deus, muitos ainda conseguem vencer e obter fama com um comportamento adequado, com valores elevados e com um procedimento impecável. Mas devemos reconhecer que os princípios são âncoras que nos impedem de obter a fama fácil e mesmo dinheiro que não possa ser conquistado com dignidade.

Mas pensando DE UMA OUTRA FORMA, como sempre nos propomos a fazer neste espaço, é possível fazer algo em prol do desejo do reconhecimento sadio e da recompensa justa. Só precisamos exercitar nosso modo de entender as coisas e trabalhar um pouco nossa mentalidade. O grande problema é o entendimento que temos de alegria, de felicidade, de satisfação e realização apenas como resultado de fama e recurso.

Não precisa ser assim. Podemos nos satisfazer com nosso sucesso na medida em que ele é manisfesto em nossa vida. Quando consideramos os sete pontos acima, podemos superar a frustração os encarando da seguinte forma:

1) Podemos equilibrar o quadro. Fama e dinheiro não são errados em si mesmos, mas desejáveis e possíveis em certa medida. Não precisamos ganhar milhões e sair em todos os jornais para sermos felizes, mas podemos obter um excelente patrimônio e ser muito bem conhecidos no meio em que trabalhamos e na sociedade onde vivemos. Não precisamos ter tudo isto aos 19 anos, e podemos sim, numa idade mais avançada obter tudo o que nos torna plenos, com uma satisfação ainda maior: a da luta e da conquista mesmo em um mundo injusto.
2) Determinação e disciplina são ingredientes essenciais. Não adianta nos lamentarmos das injustiças e nem chorar a falta de oportunidade se não nos preparamos para vencer. Insistir, tentar de novo, cada vez com mais afinco, aprendendo com os erros e se recusando a parar de tentar são caracteristicas dos que vencem.
3) Identidade é fator determinante. Qualquer sucesso e todo o dinheiro que se possa ganhar em detrimento de quem somos de verdade, atropelando aquilo que gostamos de fazer, negando nossa essência é mais um castigo do que um prêmio. Saiba quem você é, e coloque em destaque os valores que lhe são preciosos e os princípios que trazem paz a sua vida. Só assim as coisas passam a fazer sentido.
4) Conheça sua missão, ouça seu chamado. O serviço, ou seja, atingir a outros positivamente, fazendo diferença dá um gosto todo especial ao viver. Não é sem razão que tantos famosos e ricos tentam de todas as formas criar programas que ajudem os carentes e tragam um pouco de conforto aos necessitados. Saber que você nasceu com um talento único e que Deus o abençou com dons especiais para alcançar as pessoas, fazer algo único, tocar corações ou causar um impacto positivo na vida de alguém é o que o torna digno e lhe traz verdadeira satisfação.
5) Capacitação. Nunca podemos nos dar ao luxo de parar de trabalhar nosso desenvolvimento pessoal. Não existe lugar seguro neste mundo de injustiça, e por isso é preciso que estejamos sempre mais aptos, maduros e conscientes para sofrer os golpes que a vida, com certeza, vai desferir contra nós.
6) Proucure desenvolver uma mentalidade voltada para a eternidade. Quando vemos tudo pelas lentes da eternidade, aquilo que é efêmero não nos agride mais. Focar naquilo que realmente importa, no que é perene e que nunca será tirado de nós faz toda a diferença na forma como vivemos e como encaramos os revezes desta vida.
7) Viva em princípio. Nem sempre os efeitos de uma vida pautada em princípios são instantâneos, mas em compensação eles são muito mais duradouros.

Por fim, como meu grande amigo Willian L Felicio disse quando falávamos sobre tudo isto, "é preciso que aprendamos a viver com serenidade". Acalmando o turbilhão de nossos sentimentos e sensações e trabalhando de forma serena os nossos desejso (que por vezes são avassaladores), teremos condição de entender melhor todas estas coisas e trabalhar de forma objetiva para atingir o sucesso que tanto merecemos, na medida correta, no momento correto e com plena satisfação. Pense nisto.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Paciência e Persistência


Vivemos em um mundo injusto. Constatar isso é mais fácil do que entender e aceitar o fato. Mas o entendimento desta realidade é fator crucial para que possamos nos posicionar adequadamente e conseguir algumas vitórias neste cenário de injustiça. Após entender que o mundo não é um lugar onde recebemos graciosamente tudo aquilo que esperamos, e só após entender isso, é que começamos o verdadeiro processo de crescimento, de desenvolvimento e conquista.

Infelizmente muita gente escolhe as armas inadequadas para a luta, e tantos outros, mesmo armados adequadamente erram o caminho e se metem em batalhas secundárias, que apesar de renhidas, não são primordiais para que a vitória seja alcançada. Sem uma orientação clara e sem um líder que nos mostre como lutar, estaremos apenas desferindo golpes em sombras que o inimigo se diverte em criar.

Constatar a injustiça do mundo nos deveria levar a buscar com afinco pelo menos três elementos essenciais: armas adequadas, caminhos verdadeiros e um líder que nos leve a vitória. Sem estes três elementos, corremos o risco de entrar no exército errado (aquele que já perdeu a guerra), ou de mesmo estando do lado certo, perder a vida nos caminhos de erro e de batalhas sem importância (lutando pelas coisas efêmeras deste mundo que trazem alívio momentâneo ao invés de alegria perene). Sem estes elementos diferenciais, corremos também o risco de lutar bravamente e ser derrotados antes mesmo de visualizar o inimigo, ingenuamente nos colocando a frentes de tanques blindados e os atacando com um tacape, uma arma inadequada e ineficaz (como nossas atitudes, crenças e princípios e escolhas).

Não há a opção de neutralidade nesta guerra. Não lutar é estar derrotado e desprovido dos direitos da vitória. Não lutar é perder as glórias da conquista. Não se posicionar e escolher por negação o lado perdedor. Por isso, quero convidar você a pensar sobre este mundo injusto e suas batalhas DE UMA OUTRA FORMA.

Começando pela questão das armas (atitudes, crenças e princípios), quero sugerir dois armamentos muito eficientes para as batalhas em um mundo injusto: PACIÊNCIA E PERSISTÊNCIA. Se não vivemos em um mundo onde podemos obter de imediato aquilo que precisamos para sermos felizes e se neste mesmo mundo sofremos ainda do grave problema da escassez, seremos muito feridos se não nos defendermos com a paciência e se não atacarmos com a persistência.

Paciência é a atitude da tranquilidade. Mesmo enxergando o mal, cultivar paz e estar sossegado, sabendo interiormente que mesmo os piores períodos da vida são passageiros. Ser paciente e desenvolver uma quietude interior que nos dá tempo de entender o quadro dos acontecimentos e nos posicionar adequadamente.

A virtude de ser paciente nos conduz a serenidade. Quando somos serenos, a pressão externa não pode interferir em nossas decisões e causar mudanças negativas em nosso comportamento. Mesmo que as coisas estejam agitadas, barulhentas e ferventes, nós estamos calmos. Paciência é a certeza da bonança após a tempestade, como a arte das pequenas árvores flexíveis, que resistem ao vento apenas se dobrando no momento certo e voltando a posição depois dos sopros mais fortes.

Quando somos pacientes, fazemos as coisas sem pressa, sem precipitação e sem irreflexão. Fazer deste modo nos livra dos erros e nos ajuda a entender os detalhes e a atribuir valor a eles. Quando somos pacientes somos resignados e renunciamos aquilo que é secundário sem apego, sem correr perigo e sem aquela paixão orgulhosa e irracional.

A paciência é uma arma de defesa poderosa em um mundo injusto porque ela nos ajuda a ajustar nossa perspectiva, e a nos conformar com as situações de perda. Mais do que isso, a paciência nos ajuda a encontrar a verdadeira forma, e a nos encaixar no molde do qual saímos, cumprindo os propósitos para os quais fomos criados. Propósitos estes que a pressa e a luta irrefletida não nos deixa ver...

Já ser persistente é uma arte que precisa ser aprendida e internalizada para que não nos dobremos diante da força do inimigo. A persistência é a virtude da constância, que nos leva a não abandonar uma tarefa que tenhamos iniciado. Vamos do início ao fim, independente de quanto tempo leve, não importando o trabalho que isso exija e sempre com a mesma força.

Quando somos persistentes nós nos enxergamos durando mais do que os obstáculos. Entendemos que precisamos ser firmes e manter nossa posição. Podemos ser até vencidos, mas nossa solidez de propósito fará o adversário pensar duas vezes e se gastar nas investidas que fizer.

O simples fato de não esmorecer aumenta nosso ânimo. Temos uma visão positiva de que se continuarmos, se formos um pouco mais, se insistirmos mais alguns minutos vamos alcançar uma vitória em excelência, derrotando a escassez e as impossibilidades que o inimigo divulga.

Perseverantes, tenazes e obstinados foram todos os que fizeram diferença neste mundo, e podemos aprender deles e a atacar positivamente, com persistência, todos os inimigos que nos impedem de viver em plenitude.

Gosto muito das imagens da infância que me ajudam a entender melhor os conceitos de minha vida adulta. Há uma imagem que me faz entender de forma clara estas duas armas atitudinais tão importantes. É uma lembrança de uma brincadeira de criança, de um garoto de 7 anos que não gostava de matar as formigas, mas que não tinha puder em incomodá-las.

Eu gostava de assistir ao trabalho das formigas. Elas existiam aos montes em meu quintal. Eu gastava uma tarde inteira seguindo as pequenas operárias que cortavam os brotos mais altos da laranjeira, desciam pelo tronco e seguiam uma trilha sinuosa até o formigueiro. Eu me encantava com a pequena estrada, limpinha, entre o mato alto e através da grama.

Por vezes, para me divertir, eu gostava de pegar as folhas que elas carregavam. As formigas não soltavam os pequenos pedaços de folha, então eu as erguia e colocava de volta no início do trilho. A formiga caminhava de novo, com a mesma velocidade, com o mesmo vigor. Eu a acompanhava, e quando estava prestes a entrar no formigueiro eu a levava outra vez para o início do trilho. E, sem alteração, ela voltava a caminhar com a mesma resignação.

Muitas vezes, acho que em todas as vezes, eu era quem desistia, me cansava daqueles jogos e me entediava com a formiga conformada e persistente. Esta visão de infância não só resgata a estratégia do adversário, que quer fazer parecer que nossa luta e vã e que nunca chegaremos ao destino, como também revela o valor da persistência e da paciência em um mundo injusto e cheio de obstáculos imensos e muitas vezes invisíveis aos nossos olhos...

Falamos apenas de duas armas, e imagino que isso já tenha feito diferença na forma como vemos as coisas. Gosto de imaginar o que seríamos capazes de fazer se além de armados com atitudes corretas estivéssemos no caminho certo, sendo guiados e liderados por um comandante sábio, justo e inspirador... Pense nisto.

domingo, 9 de outubro de 2011

Merecimento

Não é sensato apontar e julgar as atitudes de outras pessoas. Nem sensato e nem muito correto. Mas posso, com tranquilidade, falar de minhas próprias atitudes contraditórias para ilustrar o que tenho pensado sobre merecimento. Continuo fazendo isso com a imagem da parábola do filho pródigo em mente. Tenho tentado extrair lições desta fantástica história de Cristo DE UMA OUTRA FORMA.

Bom, vamos então falar de minhas atitudes. Basicamente funciona assim: eu sei que podia fazer algo, como um trabalho ou projeto, de forma muito mais envolvente e melhor. Algumas vezes não faço deste modo, mas espero um grande resultado. Mesmo não me envolvendo tanto como podia, fico irritado quando o resultado é inferior às minhas expectativas. E fico assim porque eu simplesmente acredito que mereço um bom resultado independente de qualquer coisa. Eu acredito que mereço que isso aconteça. Simplesmente mereço.

Mereço não ser esquecido. Mereço o melhor lugar. Mereço ser servido primeiro (fila ninguém merece). Mereço também um reconhecimento bem maior pelas coisas que faço. Mereço ganhar mais, trabalhar menos, ter mais alegrias, não ser incomodado, e mereço até mesmo que as pessoas entendam que eu mereço merecer tudo isso.
Afinal, se eu sou bom, mereço o melhor sempre. E é claro, mereço também muitos créditos de confiança quando erro, pois quando isso acontece (eu errar) existem dezenas de justificativas plausíveis para me inocentar do fato. Mereço ser tratado como o injustiçado que não tem culpa nenhuma.
Deixando tudo bem claro: eu mereço muito, mereço o melhor e mereço com urgência. Tudo isso e muito mais deve me ser dado sem tardança porque eu simplesmente sou EU. Pouco me importa que outros também mereçam e que até recebam o que querem, desde que eu receba minha parte, o mais rápido possível, porque a vida é curta e eu mereço desfrutá-la.
Há um pouco de exagero nestas afirmações (ou não), mas gostaria de convidar você a pensar se por acaso não se identifica um pouco com este quadro nada alentador... Eu muitas vezes luto com isso, com estes sentimentos de merecimento exagerado, mas devo reconhecer que muitas vezes me ressinto com o que recebo por achar que mereço sempre muito mais. Eu vejo um quadro muito semelhante na parábola do filho pródigo: uma visão egoísta e urgente de merecimento.
Este tipo de entendimento nos causa problemas tanto no mundo material quanto no espiritual. A beleza da parábola, na forma como foi contada, é que podemos nos enxergar nela e entender para onde este tipo de mentalidade pode nos levar. Entendendo o que se passa com os personagens, podemos aprender algo que nos ajude a escapar desta armadilha de achar que somos mais do que somos e que merecemos sempre o melhor. É uma armadilha perigosa, pois vivemos em um mundo nada justo.
No mundo material, nosso primeiro problema é que não basta acreditar com força que somos merecedores. Para receber qualquer coisa precisamos convencer a todos que somos. E precisamos fazer isso o tempo todo. Isso consome uma energia incrível, porque os argumentos precisam ser muito fortes. E como os melhores argumentos são ações - e ações de envolvimento, determinação e coragem - precisamos nos preparar mais e melhor e apresentar muitos resultados. O problema aumenta, porque se eu julgo que mereço, muita outras pessoas (pra falar a verdade, praticamente todas as outras pessoas) julgam merecer mais do que eu e acabam se esforçando tanto como eu para provar isso. Muitos querendo o que merecem, escassez impedindo que estas expectativas aconteçam...
Alguns, quando não convencem pelos resultados, tomam a força o que desejam. Ninguém podem tirar da cabeça de uma pessoa fascinada pelo próprio sentimento de merecer que ele não tem direito de simplesmente pegar o que é seu, com urgência e paixão. Acredito que este sentimento estava muito presente no filho mais novo, que exigia do pai a parte que ELE TINHA DIREITO.
Já no mundo espiritual, pelo que a Bíblia diz, não precisamos merecer para receber o que Deus quer nos dar. Mas o problema é que muitos de nós simplesmente não aceita isso. Precisamos de alguma maneira entender que somos merecedores. Estender a nós graça e justiça é a fórmula de Deus para nos mudar, de transformar cada um de nós em pessoas melhores através do amor, e quando recusamos receber livre e gratuitamente esse amor, por achar que devemos "merecer", ou melhor, "ter um mérito nosso" para receber paz, alegria e salvação estamos sabotando nosso crescimento e desenvolvimento espiritual. Na verdade não merecemos nada. Pouco importa o que somos, o que fazemos, o que doamos. Não merecemos pelo que somos, mas recebemos pelo fato de Deus ser quem Ele é.

sábado, 8 de outubro de 2011

Dependência


Estava pensando outro dia na fantástica simplicidade do cristianismo. Este estilo de vida que se baseia na adoração a Cristo Jesus tem as mais lindas respostas para os maiores dilemas da vida,e de forma tão simples que as vezes parecem ser improváveis.

Precisamos disto porque vivemos em um mundo que exige de nós, e cada vez mais rápido e em maior quantidade, independência. Desde pequenos começamos a ser cobrados neste sentido, e devemos ser capazes de resolver nossos próprios problemas.

Me lembro de quando era pequeno, e o medo do escuro ou das fantasias infantis me impedia de dormir. Eu não pensava duas vezes em gritar por minha mãe, que vinha passar horas desconfortáveis na beirada da minha cama até que eu caísse no sono. Hoje ainda tenho meus medos, mas preciso ser independente de minha mãe para lidar com cada um deles...

Esta história de ser independente também dominou as discussões sobre liderança durante um bom tempo. Os grandes líderes eram então aqueles que conseguiam brilhar pelo próprio esforço, que não se deixavam abater pelas comparações, que não se escondiam de seus erros e culpas e que superavam suas fraquezas.

Stephen Covey trabalhou um ponto muito interessante quando, em seu livro “os sete hábitos das pessoas muito eficazes”, sugeriu que devíamos ser interdependentes. Nem totalmente dependentes, nem totalmente independentes, mas entrar num processo equilibrado de troca, de relacionamentos...

Mas o fato,e muito verdadeiro, é que precisamos ser dependentes as vezes. Na parábola bíblica do filho pródigo, no capítulo 15 do evangelho de Lucas, esta verdade me atingiu com muita força. Leia o texto na Bíblia caso você não o conheça ou se não se lembra muito bem.

A saída do filho de casa representa a nossa busca por independência. De algum modo achamos que seremos mais felizes agindo por nossa própria conta. Tomamos os recursos como se fossem nossos, e acreditamos que são mesmo nossos. Queremos nossa parte. Dizemos cheios de convicção que o que temos ganhamos com nosso esforço. Mas dizemos isso sempre esquecendo que alguém veio antes, que havia um suporte para nossas conquistas "independentes".

Muitos que se gabam de ser inovadores criaram em cima das descobertas de outros. É fácil falar em tecnologia hoje, mas no passado se usava pena de bico, tinteiros e se anotavam as ideias à luz de lâmpadas de querosene.

Nossa independência tão adorada se deu em função da educação que recebemos, do investimento dos pais, da alimentação que nossa mãe nos deu, das descobertas dos sábios e da persistência em ensinar de nossos professores. Moramos sozinhos em casas que outros construíram, andamos rápido em carros que outros projetaram e fazemos nossa própria comida usando receitas antigas ou alimentos rápidos do supermercado sem nem ao menos considerar a genialidade de quem os idealizou para facilitar nossa vida independente...

O filho pródigo saiu de casa levando recursos que julgava seus, mas na realidade dependia da fonte geradora. Ele dependeu de amigos (interesseiros e falsos) para sentir-se realizado. Foi dependente de sua glutonaria (bebida e comida farta) para se sentir saciado, e totalmente dependente de sensações (orgias, toques sensuais, música excitante) para se sentir vivo. Sua independência era uma mentira, e na verdade uma dependência doentia de quem não podia sustentá-lo. Os recursos chegaram ao fim, e com eles as regalias.

Dependeu da suposta bondade de um empregador. Dependeu de restos de comida para sobreviver. Sem o pai, sem a fonte que gera os recursos, entendeu por fim que não podia continuar e conseguir viver plenamente.

A parábola representa bem a nossa luta para sermos independentes. A vontade de persistir no caminho da independência vai tão longe, que mesmo depois de derrotado, o pródigo apresenta ao pai uma proposta orgulhosa: Gastei tudo, não tive sorte, não fui sábio, mas trate-me como um de seus empregados (jornaleiro). Vou comer do seu pão, mas como fruto do meu trabalho...

Espiritualmente falando, você se enxerga nesta cena? Não quero pecar, mas vai ser pelo meu esforço que vou atingir a santidade. Vou ser puro, mas porque tenho determinação suficiente para isso. Vou aprender sobre Sua palavra, mas porque sou estudioso e inteligente. Vou pregar um lindo sermão, mas ele vai tocar as pessoas por causa meu carisma. Vou ser salvo, mas não admito não pagar o preço por isso...
Na parábola, o pai simplesmente desconsidera a proposta absurda. Envolve o filho, o salva, resgata, cobre, alimenta e restitui... Ele é a fonte geradora. Estando com ele os recursos não se esgotam.

O filho mais velho afirma sua independência de outra maneira, embora bem parecida. Julga o irmão mais novo e afirma que merece sua recompensa por estar ao lado do Pai. Mas leia com atenção a história. O Pai dividiu a herança entre os dois. Mesmo sem sair de casa, o primogênito pensa que o que tem é seu apenas por seu esforço e por seu trabalho, mas isso não é verdade.

Lutamos por ser independentes, mas acabamos sendo obrigados a reconhecer nossa eterna dependência. Somos dependentes (interdepentes) uns dos outros e completamente dependentes de Deus. Só Ele é capaz de existir, ser pleno e completo por Si só. Nós não somos assim...

Uma vez ouvi uma crítica ao cristianismo que abordava justamente este problema. Um homem dizia que não se sentia confortável em aceitar a crença cristã porque ela servia como uma muleta. Os cristãos não se responsabilizavam por sua salvação, por seu comportamento e nem mesmo por seus sonhos, crenças e esperanças. Para aquele homem, o cristianismo tornava as pessoas fracas. Pobre homem. Não compreendeu que é justamente essa a maravilha de ser cristão!

Deus não se importa que sejamos dependentes! Ele até nos incentiva! Venham a mim e tereis descanso, coloquem sobre mim o julgo de vocês! Eu ajudo! Eu fortaleço! Eu sustento! Eu salvo! Tudo é graça!

É tão simples que parece improvável! Não precisamos fazer nada. Podemos ser dependentes. Deus bondosamente nos diz que sejamos. Alguns de nós precisam sair de casa, consumir recursos, vê-los se esgotar, lutar contra o orgulho e entender que a única maneira é voltar e assumir nossa condição de filhos. Outros ainda lutam contra isso, mesmo estando em casa, insistindo em achar que as bênçãos são fruto do esforço que fazem, que estam sendo privados daquilo que lhes pertence, quando na realidade já são donos de tudo. O pai diz “que tudo o que é meu é seu, meu filho... Simplesmente assuma que depende de mim".

Esta parábola, como disse antes, me golpeia com força. Me faz pensar em minha própria inclinação para tentar me independer de Deus. Faço isso quando julgo que meus talentos são simplesmente a manifestação de minha natureza. Me esqueço que fui criado, dotado e destinado a viver imerso no amor de Deus, pois nEle nos movemos e existimos...

Busco uma independência perigosa quando quero usar os mesmos talentos que me foram dados para a adoração e louvor de Deus para meus objetivos, e quando sonho em coisas pequenas que duram apenas o que vai durar este mundo. Quero me satisfazer, quero gozar, experimentar, e entendo que fazendo isso estou simplesmente usando o que é meu por direito. Quero agora, imediatamente, a parte dos bens que me cabe. Foi essa a afirmação do filho pródigo que acabou por levá-lo ao charco de barro e imundícia. Desconheço que todos os meus recursos, desconectados do Pai, irão minguar depressa. Quando julgo que tenho direito de desfrutar de forma profana e equivocada, sou o filho mais novo que de maneira pérfida (consciente ou inconsciente) deseja a morte antecipada do pai para sentir-se independente, livre de seus compromissos, regras e leis.

Quero me independer de Deus quando faço a obra por mim mesmo. Sou severo com os outros e muito mais comigo mesmo. Entendo que devo merecer a graça, e guardo-a com carinho em um lugar secreto e inatingível para mim. Trabalho duro, de forma insana, para merecer o que já tenho por herança, o que já me foi dado. Reprovo duramente quando vejo um irmão desfrutar dos recursos do pai sem ter demonstrado ser digno deles. Cobro. Discordo. Critico. Me retiro. Me recuso a participar. Quando busco me independer deste convívio sou o irmão mais velho, que de forma arrogante vê o Pai como injusto e condescendente.

A parábola me agride por que mostra que é bom ser dependente. Às vezes me rendo e sou envolvido, e me entrego e recebo tudo em minhas mãos através da graça de Deus. Outras vezes me revolto, e acho que preciso ser forte e conquistar por mim mesmo aquilo que preciso.

Ser dependentes é o remédio precioso para o desamparo que a imagem acima representa. Pense nisto.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Aumentando a intensidade

Aprendemos muito quando observamos a reação das pessoas. Diante dos acontecimentos, principalmente daqueles decepcionantes, é normal sofrer, ficar magoado e sentir-se injustiçado. Mas alguns comportamentos e atitudes parecem ter o poder de intensificar o sofrimento.
Tive a oportunidade de aprender um pouco sobre isso observando a reação de algumas pessoas diante de acontecimentos frustrantes. Entendi que elas intensificaram seu sofrimento aplicando os seguintes passos:
1) Atribuiram valor demais a coisas muito pequenas. Parece que o mundo vai acabar quando um pequeno detalhe é esquecido. Para intensificar ao máximo seu sofrimento basta que você atribua mais valor a um arranhão na pintura do carro do que tratar com carinho sua esposa. Para sentir rancor profundo por uma pessoa é só dar mais importância a um compromisso que ela não conseguiu honrar do que a meses de bom relacionamento. A fórmula é simples, é só elevar ao máximo o valor de pequenos objetos, de palavras impensadas, de um esbarrão na rua ou de uma brincadeira sem graça, para que eles tenham muito mais peso do que um dia vivido em bom humor, uma amizade ou todos os pontos positivos das outras pessoas.
2) Julgaram saber as intenções dos outros. Alguém faz alguma coisa que você não gosta. Isso acontece sempre. Mas para sofrer muito mais, é só acreditar que você conhece a intenção desta pessoa, e começar a imaginar as horas que ela passou trancada em seu quarto, isolada do mundo só planejando aquele momento pra irritar você. Julgue que o outro é mentirosos, dissimulado, maldoso e que aproveita cada oportunidade só pra fazer você se sentir mal. Você pode intensificar ainda mais seu sofrimento, se exagerar bastante neste ponto. Imagine, por exemplo, que o caixa do banco tirou todo o sistema do ar quando viu que você era o próximo da fila. O motorista do ônibus ligou pra todos os amigos sairem de casa de carro e causar um engarrafamento só pra fazer você se atrasar. Quando acontecerem coisas assim, como compromissos não forem cumpridos, acontecerem atrasos, um trabalho der errado ou mesmo quando alguém pisar no seu calo, julgue que você conhece as intenções de quem errou e acredite que tudo foi feito de propósito só pra atingir você, e aí você vai sofrer bem mais.
3)Dimensionam os obstáculos das outras pessoas pela capacidade delas. Isso é bem parecido com a atitude anterior. Você não considera os limites do outros, seus traumas e bloqueios, sua história de vida ou seus medos. Assim, quando o outro não faz algo que você considera absolutamente possível e até mesmo fácil, se irrita. Desta forma, quando você consegue é porque é muito difícil, mas quando o outro não consegue é por que ele é fraco, desinteressado, porque não tentou com afinco. Cuidado com esta atitude...
4)Não teem domínio sobre o que fazem. Não conhecer a fundo o que se faz ou não ter uma visão abrangente das consequencias dos atos que praticamos ou das palavras que proferimos é uma forma fantástica de intensificar a dor. Assumimos responsabilidades que não temos como cumprir, criamos expectativas que não podemos atender, desmontamos o que não sabemos remontar... A subordinação consciente é uma bênção, mas existem pessoas que procuram se independer antes de se tornarem independentes...
5)Superdimensionam expectativas. Quanto a isso não precisamos falar muito. Existe quem vê a vida pelas lentes do cinema: um rapaz convida uma moça para um sorvete e ela imagina algo como um charmoso galã de terno branco a levando pra jantar num restaurante francês (na França) em seu jato particular... O gostoso sorvete fica sem graça e o rapaz tão interessado parece o homem mais sem atrativos do mundo...
6)Acham que sofrer bastante, chorando e atacando o mundo, vai mudar a situação. Como crianças que fazem pirraça. Por vezes sentimos dor real e emoções tão genuínas que é impossível que elas não se materializem em choro e lágrimas, mas quem gosta de intensificar sofrimento entende que passar a noite de cara amarrada, chorando e se lamentando resolve algum dos problemas que ele superdimensionou ou que atinge as pessoas "más" que conspiraram pra roubar sua alegria...
Embora eu possa ter sido um pouco irônico, tenho observado que existe muita gente seguindo estes passos. Seguir um deles já é ruim, seguir dois ou mais faz com que a alegria não seja sentida e que preciosos momentos não sejam desfrutados... Pense DE UMA OUTRA FORMA! Seja consciente do valor verdadeiro das coisas e principalmente do valo das pessoas. Espere o melhor dos outros e entenda que elas são diferentes de você. Claro que você vai se decepcionar uma vez ou outra, mas posso garantir que ao invés de aumentar a intensidade do sofrimento e dar dor, você vai conseguir aumentar em muito a alegria de viver. Pense nisto.

terça-feira, 8 de março de 2011

Vigilantes do Peso



Em maio de 1997 fiz minha inscrição no grupo Vigilantes do Peso. Na época eu pesava bem mais do que deveria com meus 1,72 de altura e com 25 anos de idade. O peso me incomodava, a forma me incomodava... Quatro meses depois eu já havia emagrecido 20 quilos. Cheguei a incrivel marca (para mim era realmente incrível) de 67 quilos. Ganhei uma medalha, um chaveiro, aplausos... Estava livre do peso!!!
Bom, mas ainda hoje luto contra o peso. Ele vai e volta. Na realidade, a verdadeira luta não é contra os quilos que se acumulam a cada visita à balança. A luta verdadeira é contra o hábito. Luto contra a estabilidade, contra fazer as mesmas coisas que sempre faço. Se não mudar, vou viver um eterno efeito sanfona: esticando e encolhendo...
Nos Vigilantes, todas as semanas ouvíamos palestras de motivação. Devo reconhecer que nossa orientadora, Andrea Fafinni, era muito inspirada. Ela mesmo vivenciou uma batalha contra a balança. Mas me lembro de uma palestra, em especial, onde ela disse que comíamos pra nos livrar das tristezas, das frustrações. Naquele dia, discordei. Eu comia porque gostava de comer. Se alegre, comia para festejar. Se ganhava, comia pra comemorar. Se estava intediado, comia para matar tempo. Se estava triste, comia pra me alegra. Se estava derrotado ou magoado, comia pra esquecer. E se estava com fome, aí é que comia mesmo! Tudo era motivo pra comer...
Você, por acaso, insiste em fazer algumas coisas que sabe que produzem resultados ruins? Alimentamos nossa mente com alguns pensamentos que só fazem aumentar o peso, não é mesmo? Em alguns momentos chego a pensar que gosto de estar infeliz. Se você, algumas vezes, pensa como eu, se entrega a pensamentos derrotistas também. O problema é quando começamos a ter estes pensamentos continuamente. Não apenas quando somos derrotados, e não somente quando estamos frustrados. Se ganhamos, achamos que foi sorte. Se estamos felizes, pensamos que vai durar pouco. Se estamos com amigos, achamos que eles não nos conhecem de verdade. Se pensamos no que não realizamos, pensamos que somos mesmo fadados a não realizar... Tudo é motivo para aumentar o peso. É um hábito.
E é um hábito mortal. Aprendemos o tempo todo que devemos ser felizes, que devemos pensar positivamente, e sempre ouvimos discursos motivadores. Alimentamos esperança e fazemos comparações com outros, pensando que se eles conseguem nós também conseguiremos. Mas sempre existe um porém... Sempre existe uma área onde não conseguimos nos sentir plenos. Ainda nos valendo da metáfora com os Vigilantes do Peso, sempre aparece um bom pedaço de torta na geladeira, um cheiro irresistível de churrasco, uma sobremesa que alguém insiste em oferecer... Tentações que atiçam o nosso "gostar" de lamentar e lamuriar...
Pensando DE UMA OUTRA FORMA, é preciso parar de gostar daquilo que nos faz mal. E porque o mal parece tão fascinante? Porque parece tão necessário? Talvez nos sentir mal nos torne mais leves. Talvez nos sentir mal nos faça descansar da luta constante que o sucesso exige. Talvez admitir que somos patéticos, incapazes, errados e debilitados faça com que outros olhem pra nós com mais simpatia... Talvez nós gostemos de nos sentir assim...
Uma das frases que eu mais gostava nas palestras da Andrea, minha orientadora dos Vigilantes, está até hoje na minha memória. Tento aplicá-la todos os dias, em muitas situações. Ela não é uma frase mágica que me garante o sucesso e que me livra de momentos ruins e situações de tristeza, mas serve bem para orientar os pensamentos. Esta frase está intimamente ligada ao programa dos Vigilantes do Peso, mas serve pra todos os outros tipos de peso que carregamos na vida, na alma e no coração. Andrea dizia, pra todos nós, que "O PREÇO DO SUCESSO É A ETERNA VIGILÂNCIA".
Vigiai e orai... Jesus também nos aconselha o mesmo na Bíblia. Talvez devessemos seguir estes conselhos, pra aliviar nossa vida dos pesos desnecessários que nos incapacitam e nos deixam acostumados e acomodados a infelicidade. Pense nisto.

sábado, 5 de março de 2011

POR UM FIO



Em minha biblioteca há um livro que preciso recomendar. Um psicólogo chamado Stanley Rosner juntou forças com a escritora Patricia Hermes para tentar responder a uma pergunta muito interessante: "por que repetimos atitudes que destroem nossos relacionamentos e nos fazem sofrer?"
Além do tema, me interessou também a parceria de um psicólogo, que pelo que pude descobrir, na época da publicação do livro tinha 80 anos de idade e mais de 40 anos de experiência com uma autora que escreveu mais de 40 romances para o público jovem. O que uma dupla como esta poderia produzir?
A bibliografia pouco extensa no final do livro me faz pensar que há muito mais de vivência dos autores nos oito capítulos do que resultado de estudos e pesquisas... e por isso gostei do livro. Ele me fez pensar DE UMA OUTRA FORMA sobre algumas de minhas atitudes, e em especial em uma certa atitude que me persegue desde que comecei a ter oportunidade de trabalhar com palestras voltadas para o desenvolvimento, para a emancipação e crescimento pessoal, e que quero compartilhar com você logo em seguida.
Embora o conteúdo do livro "O ciclo da auto-sabotagem"de Stanley e Patricia não seja inédito e nem super inovador, penso que o bom fruto deste trabalho a quatro mãos tenha sido o fato de que a experiência de trabalho e de vida do Sr. Stanley tenha sido traduzida numa linguagem bem direta e gostosa, própria de quem aprendeu a escrever para jovens, como o caso da Sra. Patricia, que tanto sabe fazê-lo que ganhou vários prêmios por seus livros.
Dentre muitos, há um trecho do livro que me fez pensar sobre a tal atitude, repetida por mim e talvez por você também, que tem contribuido para diminuir muito meu potencial de inovação e realização. Os autores dizem o seguinte:
"... a necessidade de segurança e de dependência superam a liberdade de explorar, e nós acabamos sufocando, e até destruindo, os desejos criativos, a fantasia, a criança dentro de nós. Buscamos fontes que satisfaçam nossa necessidade de dependência e segurança, sacrificando a criança curiosa e imaginativa." (pág. 46)
Embora eu seja defensor e por vezes promotor de um nível de dependência sadio, levando em consideração relacionamentos ricos, com mentores, professores, pessoas inspiradoras e dignas de admiração, que nos façam crescer, preciso adimitir que as vezes minha atitude contraria a teoria que prego, e me faz sacrificar meu lado mais sonhador. Confesso também que já enterrei muitos sonhos em favor de um sentimento de insegurança.
Na verdade, repetimos esta atitude durante boa parte da vida. Quando conseguimos escapar dela, damos alguns saltos de crescimento, de conquista, de realização, e depois respiramos fundo e pensamos "desta vez tive sorte, mas é melhor tomar cuidado da próxima vez". Consideramos sorte o resultado de nossa vontade, de nosso potencial, de nosso preparo, de nosso trabalho, de nossos sonhos e curiosidade, de nosso desejo de fazer mais e melhor...
Estamos POR UM FIO de cair, dolorosamente, em um estado de acomodação que vai nos privar definitivamente do gosto de realizar, de conquistar, de experimentar e criar que a curiosidade e a ousadia juvenil nos proporcionavam na infância. E o pior, é que se houve sabotagem, como afirmam Stanley e Patricia, fomos nós mesmos que cortamos nossa corda de escalada rumo à realização, e agora nos agarramos desesperadamente, vendo as últimas fibras esticadas ao máximo, quase se desprendendo definitivamente...
Precisamos tomar consciência desta nossa atitude de apego demasiado à segurança, e desta nossa dependência exagerada para nos libertar um pouco. Risco calculado, um pouco de aventura, talvez algumas perdas recuperáveis, e quem sabe alguns arranhões e cicatrizes, como no tempo da infância. Nada disso é tão ruim que justifique sonhos não realizados e frutos que podem causar impacto positivos na vida de outras pessoas. Um pouco mais de desapego, de independência e ousadia podem nos tornar mais úteis e em consequência, mais realizados e felizes.
Depois de 180 páginas de descrições sobre repetição de atitudes derrotistas, que destroem relacionamentos, sonhos, casamentos, que interferem na criação de filhos, no trabalho e no desenvolvimento pessoal e na realização, Stanley e Patricia dizem claramente que é muito difícil romper com estas atitudes, e que não há garantias de liquidar definitivamente o sabotador que mora dentro de nós, mas afirmam que tomar consciência destas atitudes e aceitar o fato de que somos responsáveis por nossas escolhas é o primeiro passo. Segundo eles, a viagem até a superação pode ser dolorosa, mas vale a pena... Pense nisto.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Nano Sentimento

Sentir-se pequeno. Me lembro de uma revista em quadrinhos, do Tio Patinhas, que trazia uma história sobre um rico fazendeiro, que recebendo a visita do pato quaquilhonário e de seu sobrinho, Donald, mostrava orgulhoso seu patrimônio.

Fazenda que levava anos para ser percorrida, inumeráveis cabeças de gado, instrumentos de ouro e uma sala imponente, que tinha de um lado uma porta enorme, com a parte superior bem larga e alta, e de outro uma portinha baixa, estreita e de material inferior. Segundo o rico fazendeiro, pela porta grande entravam os visitantes milhonários, cheios de si e seguros de sua fortuna, mas depois de olhar suas riquezas, saiam curvados, pequenos, pela portinha do reconhecimento de sua pobreza...

Donald, durante toda a visita, ia se lastimando pelo tio, imaginando o quanto ele se sentia pobre diante de tanta grandeza. E pensava em como o velho pato sairia, pequeno, pela porta baixa e estreita.

Neste momento, o Tio Patinhas se apresenta: sou o velho pato que lhe emprestou o dinheiro para que você construisse seu império. O Fazendeiro se assusta e gagueja. E Donald, com olhos baixos, diz ao tio: o senhor vai sair pela porta grande, enquanto eu vou passar pela portinha, pelo buraco da fechadura...

Coisas da minha infância. Já saí pela porta pequena muitas vezes. E, curiosamente, quase sempre o que precede esta saída humilhante é uma entrada arrogante pela porta larga e alta. Não é nada fácil manter a grandeza com base em realizações e posses. Sempre há alguém maior, mais rápido, com mais posses. Sempre acontecem revezes e incidentes que roubam a grandeza e também a fortuna... Por outr lado, manter a grandeza da dignidade, da honradez pelas boas escolhas também é muito difícil. A porta estreita parece ser o caminho mais comum pra muitos de nós.

Hoje, primeiro dia do ano, assisti aos jornais que mostravam como foi a festa da virada em várias cidades do Brasil e do mundo. Um show de grandeza. Luzes, música, palcos enormes, milhares de pessoas, muito dinheiro investido, muitos sonhos e muita positividade. Um sem número de crenças desencontradas, de mitos e ritos vazios, justapostos a motivações sólidas e de compromissos pessoais sérios e automotivados... Tudo envolto na grandeza do espetáculo.

A posse da presidente Dilma também foi hoje. Autoridades, líderes, aplausos, discursos. Grandeza de poder, transmissão de poder, sonhos de poder e de grandeza. Lula e o poder não transmitido de uma polularidade de 87%, o puro poder do carisma... Gente esperançosa, gente simples e gente culta, gente de todas as classes, gente que aspira por grandeza e gente que concede grandeza. Gente grande e gente que sem saber, é maior ainda... Tudo envolto na grandeza do momento.

Diante de tudo isso me senti pequeno. Mas vendo DE UMA OUTRA FORMA, não é um sentimento ruim. É o sentimento da dependência sadia que reconhece a debilidade humana, e que orienta a busca de apoio, de ajuda, de aceitação. E o reconhecimento da minha necessidade de um poder maior, de alguém infinitamente maior para que eu seja verdadeiramente grande.

Sentir-se pequeno nem sempre é sentir-se inadequado. Nem sempre é questão de baixa auto-estima. Saber-se pequeno é o primeiro passo para querer mudar. Que este ano seja, então, o ano do crescimento, o ano do reconhecimento, o ano da aspiração legítima pela verdadeira grandeza. Em geral, aquilo que é verdadeiramente grande, começa de uma pequena semente. Pense nisto.