sábado, 17 de dezembro de 2011

Eu recomendo

No filme UP – Altas Aventuras, há uma frase que se repete ao logo da trama e que é um dos temas motivadores da história: a aventura está lá fora! Gostei muito da abordagem do teólogo Robert Velarde, comentando sobre este filme cativante da Pixar. Velarde percebe, sutilmente, que embora só em idade avançanda o personagem principal saia com sua casa voadora para experimentar o gosto dos sonhos sendo realizados, durante toda a sua vida, em seu trabalho, casamento e nas pequenas coisas do cotidiano, ele viveu altas aventuras.
A maioria de nós é como Karl Friderichsen, o velho rabugento que pensa ter passado pela vida sem sentir o sabor da aventura, quando na realidade passou por momentos fantásticos de alegria, de aprovação, de descoberta e de sonho. Aproveitando a ótima história da Pixar e a fantástica análise de Robert Velarde, quero recomendar a você experimentar altas aventuras DE UMA OUTRA FORMA!
Viaje. A primeira coisa que eu recomendo é que você amplie seu mundo. Saia de onde você está e conheça outros lugares. Não precisa ser uma viagem longa e nem um lugar famoso e caro. Pode ser para uma cidadezinha pacata, para uma fazenda ou um passeio em um local histórico. Você pode até mesmo ir para um lugar onde não conheça ninguém, e passar alguns momentos andando por ruas que não conhece, provando coisas diferentes e conhecendo pessoas que talvez você nunca mais veja...
A noção da amplidão do mundo e da multiplicidade de possibilidades é um caminho excelente para experimentar aventuras e dar sabor e colorido a vida. Lembro-me de ter conhecido lugares lindos, como as cataratas. Quando subi o rio em um potente barco do macuco safari, e o piloto nos levou bem para o centro do local onde as águas caiam, num som ensurdecedor e com um show de cores pelos raios do sol no prisma das gotas e vapor d´água, eu alimentei meu coração com a certeza do poder de Deus, da beleza do mundo, da vibração da vida e experimentei a sensação boa de ser abençoado pela oportunidade de estar ali.
Em outra oportunidade, quando trabalhava com o projeto do clube de desbravadores, fui a uma cidadezinha do interior de minas. Praça, igreja e pequenas ruas... Andei por ali, sentei no banco da praça, olhei os senhores idosos em sua marcha lenta e paciente. Experimentei a cordialidade e hospitalidade das pessoas em toda a sua simplicidade. Senti que a vida pode ser extremamente satisfatória mesmo quando vivida em alguns poucos quarteirões, cercados de verde, de pequenas hortas, de escola no fundo da igreja e de lojas que ficam abertas sozinhas enquanto os donos vão até em casa tirar os netinhos da cama.
Estive em outros estados e descobri meus semelhantes sendo diferentes no jeito de falar, mas exatamente iguais nos sonhos e desejos. Fui agraciado com a oportunidade de conhecer outros países, estar em lugares onde a história deste mundo foi mudada e que nos conduziu a muito do que somos e temos hoje. Em cada lugar, altas aventuras, perto ou longe, diante de uma enorme beleza natural ou de uma serena pracinha com palmeiras, o mundo expandido faz de você alguém maior. Viaje, e lembre-se da máxima de UP: a aventura está lá fora.
Abrace. Uma vez que você já expandiu seu mundo, você tem a oportunidade de torna-lo terno. Viva a aventura de tocar e deixar-se ser tocado. Abrace afetuosamente as pessoas que são importantes pra você. No começo pode parecer desconfortável pra você, e depois talvez seja embaraçoso e até estranho para os outros, mas logo se torna natural. Comece e você verá.
As pessoas tem texturas diferentes, temperaturas distintas e cada uma delas tem um perfume que lhe traz o sentimento gostoso da multiplicidade. Estes aromas e formas diferentes, combinados em muitos abraços energizam você. Experimente!
Se entregue completamente. Claro que não pra moça que está te vendendo sapatos e nem pra o rapaz do correio que vai lhe entregar uma encomenda. Não estou falando de entrar no ônibus e ao olhar para o motorista e contar toda a sua vida pra ele. Mas quando falamos de amigos próximos, da pessoa que compartilha a vida com você, do irmão que nunca te abandona ou dos pais apaixonados e filhos amados, ai sim o exercício da entrega é algo fundamental que eu recomendo muito e com veemência.
Se entregar é confiar. Contar as coisas que passam pela cabeça, deixar que o outro conduza você de vez em quando, falar das lembranças da infância sem medo, provar o que o amigo lhe traz, aceitar favores sem pensar em “ficar devendo”, expressar suas frustrações, rir das piadas sem graça e contar outras piores ainda.
Eu fazia isto com maestria em minha adolescência. A gente se deitava debaixo da sobra de uma árvore, quando em fazia o ensino médio, e um monte de amigos, cada um fazendo do outro seu travesseiro, formando uma coisa parecida com uma centopeia, fica horas desfiando sonhos, problemas de casa, preocupações com as notas, falando da fome e da vontade de comer coisas diferentes, rindo de coisas bobas, e simplesmente curtindo o calor daquele momento, seja pela presença do amigo que admira ou pela oportunidade de segurar a mão da pessoa que fazia o coração acelerar... Totalmente entregues, sem defesa e em extrema confiança. Nada de pensar em ser passado pra trás, em ter um segredo revelado, em cobrar aquele R$ 1,00 que comprou balas pra todos... Muitas destas pessoas a quem nos entregamos e que se entregaram a nós partem e não voltam mais, mas as lembranças delas são as mais fortes e vívidas em nossa mente e coração, afinal elas nos proporcionaram altas e fantásticas aventuras e conferiram muito sabor as nossas vidas. Eu recomendo isso do fundo do coração...
As brincadeiras com meu irmão, no fundo do quintal, as visitas dos primos que comparavam seus brinquedos, a turma da faculdade que se esquecia do trabalho de sociologia contemporânea pra dar conselhos sentimentais para a colega que perdeu o namorado... Entrega aos outros e entrega completa a uma missão, a um projeto ou trabalho.
Assim como você se entrega a estas pessoas especiais, você pode se entregar, vez ou outra, àquilo que está fazendo, dando ao mundo uma boa dose de excelência. A muita experiência, os melhores recursos e um vasto conhecimento não conferem tanta excelência a um trabalho quanto a entrega total e irrestrita que podemos dar à sua execução.
Estude. Quando eu era pequeno, gostava de seguir a trilha das formigas que cortavam folhas nos canteiros de minha mãe. Elas passavam pela horta, atravessavam o muro, subindo e descendo por ele do outro lado como alpinistas, seguiam pelo canto da calçada e atravessavam a rua, naquele tempo rua sem calçamento, e entravam no terreno vago do outro lado. Em meio ao mato alto, eu via a trilha delas lá embaixo, limpinha e o constante movimento das formiguinhas indo e vindo, umas carregadas e outras iniciando a nova jornada para buscar mais um pedacinho da couve que minha mãe tinha plantado...
Algum tempo depois, na escola, vimos um formigueiro em atividade, mas num corte transversal, cercado por vidro, que nos permitia entender o que as formigas faziam lá embaixo. Vi os túneis, as câmaras, a forma como elas guardavam as folhas, e o local onde ficava a rainha. Enquanto a professora falava, explicando sobre a organização e o trabalho daquelas formiguinhas, eu imaginava as formigas que andavam pela trilha no canteiro lá de casa. No outro dia pela manhã, acompanhei de novo a trilha, e vendo a entrada do formigueiro, minha imaginação correu solta e criou histórias sobre a imensidão do reino que existia ali, bem pertinho da minha casa, poucos metros abaixo do campo onde eu jogava futebol, sem saber quanta complexidade e riqueza estavam sob nossos pés...
O conhecimento não roubou o meu encatamento pelo o trabalho das formigas. O conhecimento apenas o tornou mais profundo, mais intenso e real. Olhar para as coisas belas e poder, além de senti-las, entender como e porque existem é uma forma maravilhosa de saborear mais intensamente a vida. Por isso, eu recomendo que você estude sempre, muito e com prazer.
Conheça gente. Se você seguir meus conselhos de viajar, abraçar e estudar, vai conhecer muita gente. Vai achar alguns extremamente interessantes e outros muito irritantes. Vai se extasiar com a beleza de uns e achar outros meio sem brilho. Vai perceber que alguns falam tanto que chegam a perder o ar, e outros talvez o levem a pensar se realmente possuem voz.
O importante é que todas estas pessoas tem algum ingrediente para tornar sua aventura mais completa. Aproveite isso! Gente de todo o tipo está ao seu alcance nos ônibus cheios, nas filas de banco, no trabalho e na escola. Há gente correndo conosco no parque, disputando mesas nas lanchonetes lotadas, olhando você passar da janela e olhando seu perfil na internet por curiosidade simples de quem te achou ali por acaso, enquanto procurava outra pessoa.
Então, aproveite. Quando falo de conhecer gente não estou falando necessariamente de se apresentar, saber seu nome e começar um relacionamento ou estabelecer um convívio diário. Estou recomendando que você se torne um observador das pessoas, e que se maravilhe com a diversidade delas. Estou falando de ser agradável com aquela pessoa que você não vai ver mais, e aprender um novo jeito de colocar mostarda no seu sanduiche olhando o cara magro da mesa ao lado.
Conhecer gente é deixar rolar aquele papo despretensioso que começa quando o ônibus demora e que de repente se torna meio desabafo, meio lição de vida, meio aula de melhores lugares pra passar férias.
Conhecer gente é ficar na fila do banco admirando a paciência que aquela mulher tem com a filha inquieta que parece estar sendo mordida por todas as formigas do formigueiro da minha infância e aprender com ela a sucessão de estratégias que usa para entreter a filha a cada 3 minutos.
Conhecer gente é se encantar com o desenhista do parque municipal ou da feira livre, que sentado em um banquinho faz em minutos uma caricatura ou retrato perfeito, enquanto você leva quase meia hora pra desenhar uma casinha com uma cerca de riscos no quintal.
Conhecer gente é trocar ideias, ouvir opiniões, discordar e concordar completamente. É ouvir histórias, guardar lembranças, ser amistoso e sentir-se sem jeito por ter sido ajudado com tanto carinho por uma pessoa que você nunca tinha visto e talvez nunca mais vai voltar a ver.
Conhecer gente é evitar fazer o mesmo que aquela pessoa que te irrita faz, e procurar imitar aquela outra que você admira. Eu recomendo que você conheça gente, de todo tipo, e que aproveite cada momento. Ah, conhecer pela internet ou num programa de TV também vale, mas ao vivo é muito melhor.
Brinque. Brincar mesmo! Fazer palavras cruzadas e o jogo dos sete erros. Juntar os amigos em casa e ficar horas com um jogo de tabuleiro ou aquelas gostosas brincadeiras de adivinhação. Jogue água na esposa e corra pro quarto, esconda o travesseiro dela ou esconda bilhetinhos por toda parte, faça cócegas e saia do sério de vez em quando.
Sempre que posso brinco com as situações e com as pessoas. Na escola onde trabalhei em Uberlândia, sempre que pegava uma colega distraída eu me aproximava e a jogava no chão (e no dia da revanche uma turma me derrubou também). Sempre que está ao meu alcance procuro tornar as coisas mais leves, como por exemplo, junto com quem trabalha comigo, aposto pra ver quem termina suas tarefas primeiro. Isso torna o trabalho mais divertido, e faz com que as coisas que fazemos tenham mais significado.
Gosto de brincar com a imaginação. Se você é da mesma época que eu vai se lembrar de um desenho animado chamado carangos e motocas, onde os carros falavam e aprontavam muitas confusões (se você é mais novo, outro filme da Pixar, Carros, é um bom exemplo). Quando saio de carro, imagino que ele é como um daqueles personagens e brinco com isso. Os carros que tive todos tiveram seus novos, e o atual se chama Fortunato. Além dos carros, minhas bolsas também tem seu nome, e as três que uso agora são a Maristela, a Astride e Desirré. Brincar é ótimo para a saúde, para o tempo se tornar saboroso ao invés de penoso e para as pessoas se sentirem bem com sua presença.
Claro que você não precisa brincar como eu. Liberte a criança que existe em você e as brincadeiras surgirão, e o seu olhar vai ser transformado e voltará a se encantar com as coisas simples que estão a sua volta, tornando sua vida de aventuras ainda mais divertida. Experimente!
Acampe. Tudo bem, eu reconheço. Tem quem não goste da sensação de dormir numa barraca e de ficar enrolado num cobertor perto de uma fogueira enquanto espera batatas ou maçãs enroladas em papel alumínio assarem nas brasas, mas se você ainda não experimentou, eu recomendo.
Foi acampando que conquistei algumas das minhas maiores amizades. Foi em meio a natureza que descobri que tenho potencial e mais força do que imagino, superando o cansaço da caminhada, fazendo o fogo brotar da lenha molhada, conseguindo fazer uma comida gostosa (mas nem sempre) num caldeirão preso a uma forquilha.
Sentir a madrugada chegando quando a lona da barraca fica ainda mais fria, ver o sol nascer e a neblina subir das águas do rio e conviver de perto, sem as distrações do conforto moderno, com pessoas que assim como você gostam dos prazeres simples, faz com que suas percepções de mundo mudem bastante.
Eu digo acampe, mas você pode escolher escalar, fazer trilhas, andar de bicicleta, fazer um pic-nic, nadar em uma represa ou qualquer coisa do tipo. O que recomendo mesmo é contato com a natureza, abrir mão por um tempo das comodidades e entender que você pode superar muitas situações difíceis com criatividade.
Eu recomendo uma boa caminhada com mochila, uma boa comida de fogueira e uma noite em uma barraca batendo papo com amigos até o sono ir colhendo um por um...
Declare e expresse amor. Pra algumas pessoas este é um exercício maior do que ir acampar na selva amazônica. Mas é algo extremamente importante para ter uma vida plena. Não é só dizer, e também não basta apenas demonstrar. Para que o efeito seja completo, você precisa fazer as duas coisas, e com a maior frequência que você conseguir. Faça isso é você vai descobrir que muito mais do que demonstrar que você ama, você vai se sentir muito amado.
Pois aí estão algumas coisas que eu recomendo. Recomendo como alguém que aprendeu a gostar imensamente das pessoas. Recomendo como alguém que está sempre tentando aprender a vive e a enxergar as coisas DE UMA OUTRA FORMA. Recomendo como alguém que tem experimentado tudo isso, e que se descobriu muito dependente de Deus para viver. Vá em frente, experimente! Eu recomendo.

2 comentários:

Rosana Keile disse...

É exatamente o que penso. Nunca gostei de ficar brincando de "faz de conta" quando a situação é séria, existe, está ali, e tenho que encará-la. E não ficar fazendo de conta que é bom e que poderia ser pior. Encarar, sofrer, vencer e depois SORRIR! Claudio, quero ler seu livro logo!!!!

Rosana Keile disse...

É exatamente o que penso. Nunca gostei de ficar brincando de "faz de conta" quando a situação é séria, existe, está ali, e tenho que encará-la. E não ficar fazendo de conta que é bom e que poderia ser pior. Encarar, sofrer, vencer e depois SORRIR! Claudio, quero ler seu livro logo!!!!