quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Paciência e Persistência


Vivemos em um mundo injusto. Constatar isso é mais fácil do que entender e aceitar o fato. Mas o entendimento desta realidade é fator crucial para que possamos nos posicionar adequadamente e conseguir algumas vitórias neste cenário de injustiça. Após entender que o mundo não é um lugar onde recebemos graciosamente tudo aquilo que esperamos, e só após entender isso, é que começamos o verdadeiro processo de crescimento, de desenvolvimento e conquista.

Infelizmente muita gente escolhe as armas inadequadas para a luta, e tantos outros, mesmo armados adequadamente erram o caminho e se metem em batalhas secundárias, que apesar de renhidas, não são primordiais para que a vitória seja alcançada. Sem uma orientação clara e sem um líder que nos mostre como lutar, estaremos apenas desferindo golpes em sombras que o inimigo se diverte em criar.

Constatar a injustiça do mundo nos deveria levar a buscar com afinco pelo menos três elementos essenciais: armas adequadas, caminhos verdadeiros e um líder que nos leve a vitória. Sem estes três elementos, corremos o risco de entrar no exército errado (aquele que já perdeu a guerra), ou de mesmo estando do lado certo, perder a vida nos caminhos de erro e de batalhas sem importância (lutando pelas coisas efêmeras deste mundo que trazem alívio momentâneo ao invés de alegria perene). Sem estes elementos diferenciais, corremos também o risco de lutar bravamente e ser derrotados antes mesmo de visualizar o inimigo, ingenuamente nos colocando a frentes de tanques blindados e os atacando com um tacape, uma arma inadequada e ineficaz (como nossas atitudes, crenças e princípios e escolhas).

Não há a opção de neutralidade nesta guerra. Não lutar é estar derrotado e desprovido dos direitos da vitória. Não lutar é perder as glórias da conquista. Não se posicionar e escolher por negação o lado perdedor. Por isso, quero convidar você a pensar sobre este mundo injusto e suas batalhas DE UMA OUTRA FORMA.

Começando pela questão das armas (atitudes, crenças e princípios), quero sugerir dois armamentos muito eficientes para as batalhas em um mundo injusto: PACIÊNCIA E PERSISTÊNCIA. Se não vivemos em um mundo onde podemos obter de imediato aquilo que precisamos para sermos felizes e se neste mesmo mundo sofremos ainda do grave problema da escassez, seremos muito feridos se não nos defendermos com a paciência e se não atacarmos com a persistência.

Paciência é a atitude da tranquilidade. Mesmo enxergando o mal, cultivar paz e estar sossegado, sabendo interiormente que mesmo os piores períodos da vida são passageiros. Ser paciente e desenvolver uma quietude interior que nos dá tempo de entender o quadro dos acontecimentos e nos posicionar adequadamente.

A virtude de ser paciente nos conduz a serenidade. Quando somos serenos, a pressão externa não pode interferir em nossas decisões e causar mudanças negativas em nosso comportamento. Mesmo que as coisas estejam agitadas, barulhentas e ferventes, nós estamos calmos. Paciência é a certeza da bonança após a tempestade, como a arte das pequenas árvores flexíveis, que resistem ao vento apenas se dobrando no momento certo e voltando a posição depois dos sopros mais fortes.

Quando somos pacientes, fazemos as coisas sem pressa, sem precipitação e sem irreflexão. Fazer deste modo nos livra dos erros e nos ajuda a entender os detalhes e a atribuir valor a eles. Quando somos pacientes somos resignados e renunciamos aquilo que é secundário sem apego, sem correr perigo e sem aquela paixão orgulhosa e irracional.

A paciência é uma arma de defesa poderosa em um mundo injusto porque ela nos ajuda a ajustar nossa perspectiva, e a nos conformar com as situações de perda. Mais do que isso, a paciência nos ajuda a encontrar a verdadeira forma, e a nos encaixar no molde do qual saímos, cumprindo os propósitos para os quais fomos criados. Propósitos estes que a pressa e a luta irrefletida não nos deixa ver...

Já ser persistente é uma arte que precisa ser aprendida e internalizada para que não nos dobremos diante da força do inimigo. A persistência é a virtude da constância, que nos leva a não abandonar uma tarefa que tenhamos iniciado. Vamos do início ao fim, independente de quanto tempo leve, não importando o trabalho que isso exija e sempre com a mesma força.

Quando somos persistentes nós nos enxergamos durando mais do que os obstáculos. Entendemos que precisamos ser firmes e manter nossa posição. Podemos ser até vencidos, mas nossa solidez de propósito fará o adversário pensar duas vezes e se gastar nas investidas que fizer.

O simples fato de não esmorecer aumenta nosso ânimo. Temos uma visão positiva de que se continuarmos, se formos um pouco mais, se insistirmos mais alguns minutos vamos alcançar uma vitória em excelência, derrotando a escassez e as impossibilidades que o inimigo divulga.

Perseverantes, tenazes e obstinados foram todos os que fizeram diferença neste mundo, e podemos aprender deles e a atacar positivamente, com persistência, todos os inimigos que nos impedem de viver em plenitude.

Gosto muito das imagens da infância que me ajudam a entender melhor os conceitos de minha vida adulta. Há uma imagem que me faz entender de forma clara estas duas armas atitudinais tão importantes. É uma lembrança de uma brincadeira de criança, de um garoto de 7 anos que não gostava de matar as formigas, mas que não tinha puder em incomodá-las.

Eu gostava de assistir ao trabalho das formigas. Elas existiam aos montes em meu quintal. Eu gastava uma tarde inteira seguindo as pequenas operárias que cortavam os brotos mais altos da laranjeira, desciam pelo tronco e seguiam uma trilha sinuosa até o formigueiro. Eu me encantava com a pequena estrada, limpinha, entre o mato alto e através da grama.

Por vezes, para me divertir, eu gostava de pegar as folhas que elas carregavam. As formigas não soltavam os pequenos pedaços de folha, então eu as erguia e colocava de volta no início do trilho. A formiga caminhava de novo, com a mesma velocidade, com o mesmo vigor. Eu a acompanhava, e quando estava prestes a entrar no formigueiro eu a levava outra vez para o início do trilho. E, sem alteração, ela voltava a caminhar com a mesma resignação.

Muitas vezes, acho que em todas as vezes, eu era quem desistia, me cansava daqueles jogos e me entediava com a formiga conformada e persistente. Esta visão de infância não só resgata a estratégia do adversário, que quer fazer parecer que nossa luta e vã e que nunca chegaremos ao destino, como também revela o valor da persistência e da paciência em um mundo injusto e cheio de obstáculos imensos e muitas vezes invisíveis aos nossos olhos...

Falamos apenas de duas armas, e imagino que isso já tenha feito diferença na forma como vemos as coisas. Gosto de imaginar o que seríamos capazes de fazer se além de armados com atitudes corretas estivéssemos no caminho certo, sendo guiados e liderados por um comandante sábio, justo e inspirador... Pense nisto.

domingo, 9 de outubro de 2011

Merecimento

Não é sensato apontar e julgar as atitudes de outras pessoas. Nem sensato e nem muito correto. Mas posso, com tranquilidade, falar de minhas próprias atitudes contraditórias para ilustrar o que tenho pensado sobre merecimento. Continuo fazendo isso com a imagem da parábola do filho pródigo em mente. Tenho tentado extrair lições desta fantástica história de Cristo DE UMA OUTRA FORMA.

Bom, vamos então falar de minhas atitudes. Basicamente funciona assim: eu sei que podia fazer algo, como um trabalho ou projeto, de forma muito mais envolvente e melhor. Algumas vezes não faço deste modo, mas espero um grande resultado. Mesmo não me envolvendo tanto como podia, fico irritado quando o resultado é inferior às minhas expectativas. E fico assim porque eu simplesmente acredito que mereço um bom resultado independente de qualquer coisa. Eu acredito que mereço que isso aconteça. Simplesmente mereço.

Mereço não ser esquecido. Mereço o melhor lugar. Mereço ser servido primeiro (fila ninguém merece). Mereço também um reconhecimento bem maior pelas coisas que faço. Mereço ganhar mais, trabalhar menos, ter mais alegrias, não ser incomodado, e mereço até mesmo que as pessoas entendam que eu mereço merecer tudo isso.
Afinal, se eu sou bom, mereço o melhor sempre. E é claro, mereço também muitos créditos de confiança quando erro, pois quando isso acontece (eu errar) existem dezenas de justificativas plausíveis para me inocentar do fato. Mereço ser tratado como o injustiçado que não tem culpa nenhuma.
Deixando tudo bem claro: eu mereço muito, mereço o melhor e mereço com urgência. Tudo isso e muito mais deve me ser dado sem tardança porque eu simplesmente sou EU. Pouco me importa que outros também mereçam e que até recebam o que querem, desde que eu receba minha parte, o mais rápido possível, porque a vida é curta e eu mereço desfrutá-la.
Há um pouco de exagero nestas afirmações (ou não), mas gostaria de convidar você a pensar se por acaso não se identifica um pouco com este quadro nada alentador... Eu muitas vezes luto com isso, com estes sentimentos de merecimento exagerado, mas devo reconhecer que muitas vezes me ressinto com o que recebo por achar que mereço sempre muito mais. Eu vejo um quadro muito semelhante na parábola do filho pródigo: uma visão egoísta e urgente de merecimento.
Este tipo de entendimento nos causa problemas tanto no mundo material quanto no espiritual. A beleza da parábola, na forma como foi contada, é que podemos nos enxergar nela e entender para onde este tipo de mentalidade pode nos levar. Entendendo o que se passa com os personagens, podemos aprender algo que nos ajude a escapar desta armadilha de achar que somos mais do que somos e que merecemos sempre o melhor. É uma armadilha perigosa, pois vivemos em um mundo nada justo.
No mundo material, nosso primeiro problema é que não basta acreditar com força que somos merecedores. Para receber qualquer coisa precisamos convencer a todos que somos. E precisamos fazer isso o tempo todo. Isso consome uma energia incrível, porque os argumentos precisam ser muito fortes. E como os melhores argumentos são ações - e ações de envolvimento, determinação e coragem - precisamos nos preparar mais e melhor e apresentar muitos resultados. O problema aumenta, porque se eu julgo que mereço, muita outras pessoas (pra falar a verdade, praticamente todas as outras pessoas) julgam merecer mais do que eu e acabam se esforçando tanto como eu para provar isso. Muitos querendo o que merecem, escassez impedindo que estas expectativas aconteçam...
Alguns, quando não convencem pelos resultados, tomam a força o que desejam. Ninguém podem tirar da cabeça de uma pessoa fascinada pelo próprio sentimento de merecer que ele não tem direito de simplesmente pegar o que é seu, com urgência e paixão. Acredito que este sentimento estava muito presente no filho mais novo, que exigia do pai a parte que ELE TINHA DIREITO.
Já no mundo espiritual, pelo que a Bíblia diz, não precisamos merecer para receber o que Deus quer nos dar. Mas o problema é que muitos de nós simplesmente não aceita isso. Precisamos de alguma maneira entender que somos merecedores. Estender a nós graça e justiça é a fórmula de Deus para nos mudar, de transformar cada um de nós em pessoas melhores através do amor, e quando recusamos receber livre e gratuitamente esse amor, por achar que devemos "merecer", ou melhor, "ter um mérito nosso" para receber paz, alegria e salvação estamos sabotando nosso crescimento e desenvolvimento espiritual. Na verdade não merecemos nada. Pouco importa o que somos, o que fazemos, o que doamos. Não merecemos pelo que somos, mas recebemos pelo fato de Deus ser quem Ele é.

sábado, 8 de outubro de 2011

Dependência


Estava pensando outro dia na fantástica simplicidade do cristianismo. Este estilo de vida que se baseia na adoração a Cristo Jesus tem as mais lindas respostas para os maiores dilemas da vida,e de forma tão simples que as vezes parecem ser improváveis.

Precisamos disto porque vivemos em um mundo que exige de nós, e cada vez mais rápido e em maior quantidade, independência. Desde pequenos começamos a ser cobrados neste sentido, e devemos ser capazes de resolver nossos próprios problemas.

Me lembro de quando era pequeno, e o medo do escuro ou das fantasias infantis me impedia de dormir. Eu não pensava duas vezes em gritar por minha mãe, que vinha passar horas desconfortáveis na beirada da minha cama até que eu caísse no sono. Hoje ainda tenho meus medos, mas preciso ser independente de minha mãe para lidar com cada um deles...

Esta história de ser independente também dominou as discussões sobre liderança durante um bom tempo. Os grandes líderes eram então aqueles que conseguiam brilhar pelo próprio esforço, que não se deixavam abater pelas comparações, que não se escondiam de seus erros e culpas e que superavam suas fraquezas.

Stephen Covey trabalhou um ponto muito interessante quando, em seu livro “os sete hábitos das pessoas muito eficazes”, sugeriu que devíamos ser interdependentes. Nem totalmente dependentes, nem totalmente independentes, mas entrar num processo equilibrado de troca, de relacionamentos...

Mas o fato,e muito verdadeiro, é que precisamos ser dependentes as vezes. Na parábola bíblica do filho pródigo, no capítulo 15 do evangelho de Lucas, esta verdade me atingiu com muita força. Leia o texto na Bíblia caso você não o conheça ou se não se lembra muito bem.

A saída do filho de casa representa a nossa busca por independência. De algum modo achamos que seremos mais felizes agindo por nossa própria conta. Tomamos os recursos como se fossem nossos, e acreditamos que são mesmo nossos. Queremos nossa parte. Dizemos cheios de convicção que o que temos ganhamos com nosso esforço. Mas dizemos isso sempre esquecendo que alguém veio antes, que havia um suporte para nossas conquistas "independentes".

Muitos que se gabam de ser inovadores criaram em cima das descobertas de outros. É fácil falar em tecnologia hoje, mas no passado se usava pena de bico, tinteiros e se anotavam as ideias à luz de lâmpadas de querosene.

Nossa independência tão adorada se deu em função da educação que recebemos, do investimento dos pais, da alimentação que nossa mãe nos deu, das descobertas dos sábios e da persistência em ensinar de nossos professores. Moramos sozinhos em casas que outros construíram, andamos rápido em carros que outros projetaram e fazemos nossa própria comida usando receitas antigas ou alimentos rápidos do supermercado sem nem ao menos considerar a genialidade de quem os idealizou para facilitar nossa vida independente...

O filho pródigo saiu de casa levando recursos que julgava seus, mas na realidade dependia da fonte geradora. Ele dependeu de amigos (interesseiros e falsos) para sentir-se realizado. Foi dependente de sua glutonaria (bebida e comida farta) para se sentir saciado, e totalmente dependente de sensações (orgias, toques sensuais, música excitante) para se sentir vivo. Sua independência era uma mentira, e na verdade uma dependência doentia de quem não podia sustentá-lo. Os recursos chegaram ao fim, e com eles as regalias.

Dependeu da suposta bondade de um empregador. Dependeu de restos de comida para sobreviver. Sem o pai, sem a fonte que gera os recursos, entendeu por fim que não podia continuar e conseguir viver plenamente.

A parábola representa bem a nossa luta para sermos independentes. A vontade de persistir no caminho da independência vai tão longe, que mesmo depois de derrotado, o pródigo apresenta ao pai uma proposta orgulhosa: Gastei tudo, não tive sorte, não fui sábio, mas trate-me como um de seus empregados (jornaleiro). Vou comer do seu pão, mas como fruto do meu trabalho...

Espiritualmente falando, você se enxerga nesta cena? Não quero pecar, mas vai ser pelo meu esforço que vou atingir a santidade. Vou ser puro, mas porque tenho determinação suficiente para isso. Vou aprender sobre Sua palavra, mas porque sou estudioso e inteligente. Vou pregar um lindo sermão, mas ele vai tocar as pessoas por causa meu carisma. Vou ser salvo, mas não admito não pagar o preço por isso...
Na parábola, o pai simplesmente desconsidera a proposta absurda. Envolve o filho, o salva, resgata, cobre, alimenta e restitui... Ele é a fonte geradora. Estando com ele os recursos não se esgotam.

O filho mais velho afirma sua independência de outra maneira, embora bem parecida. Julga o irmão mais novo e afirma que merece sua recompensa por estar ao lado do Pai. Mas leia com atenção a história. O Pai dividiu a herança entre os dois. Mesmo sem sair de casa, o primogênito pensa que o que tem é seu apenas por seu esforço e por seu trabalho, mas isso não é verdade.

Lutamos por ser independentes, mas acabamos sendo obrigados a reconhecer nossa eterna dependência. Somos dependentes (interdepentes) uns dos outros e completamente dependentes de Deus. Só Ele é capaz de existir, ser pleno e completo por Si só. Nós não somos assim...

Uma vez ouvi uma crítica ao cristianismo que abordava justamente este problema. Um homem dizia que não se sentia confortável em aceitar a crença cristã porque ela servia como uma muleta. Os cristãos não se responsabilizavam por sua salvação, por seu comportamento e nem mesmo por seus sonhos, crenças e esperanças. Para aquele homem, o cristianismo tornava as pessoas fracas. Pobre homem. Não compreendeu que é justamente essa a maravilha de ser cristão!

Deus não se importa que sejamos dependentes! Ele até nos incentiva! Venham a mim e tereis descanso, coloquem sobre mim o julgo de vocês! Eu ajudo! Eu fortaleço! Eu sustento! Eu salvo! Tudo é graça!

É tão simples que parece improvável! Não precisamos fazer nada. Podemos ser dependentes. Deus bondosamente nos diz que sejamos. Alguns de nós precisam sair de casa, consumir recursos, vê-los se esgotar, lutar contra o orgulho e entender que a única maneira é voltar e assumir nossa condição de filhos. Outros ainda lutam contra isso, mesmo estando em casa, insistindo em achar que as bênçãos são fruto do esforço que fazem, que estam sendo privados daquilo que lhes pertence, quando na realidade já são donos de tudo. O pai diz “que tudo o que é meu é seu, meu filho... Simplesmente assuma que depende de mim".

Esta parábola, como disse antes, me golpeia com força. Me faz pensar em minha própria inclinação para tentar me independer de Deus. Faço isso quando julgo que meus talentos são simplesmente a manifestação de minha natureza. Me esqueço que fui criado, dotado e destinado a viver imerso no amor de Deus, pois nEle nos movemos e existimos...

Busco uma independência perigosa quando quero usar os mesmos talentos que me foram dados para a adoração e louvor de Deus para meus objetivos, e quando sonho em coisas pequenas que duram apenas o que vai durar este mundo. Quero me satisfazer, quero gozar, experimentar, e entendo que fazendo isso estou simplesmente usando o que é meu por direito. Quero agora, imediatamente, a parte dos bens que me cabe. Foi essa a afirmação do filho pródigo que acabou por levá-lo ao charco de barro e imundícia. Desconheço que todos os meus recursos, desconectados do Pai, irão minguar depressa. Quando julgo que tenho direito de desfrutar de forma profana e equivocada, sou o filho mais novo que de maneira pérfida (consciente ou inconsciente) deseja a morte antecipada do pai para sentir-se independente, livre de seus compromissos, regras e leis.

Quero me independer de Deus quando faço a obra por mim mesmo. Sou severo com os outros e muito mais comigo mesmo. Entendo que devo merecer a graça, e guardo-a com carinho em um lugar secreto e inatingível para mim. Trabalho duro, de forma insana, para merecer o que já tenho por herança, o que já me foi dado. Reprovo duramente quando vejo um irmão desfrutar dos recursos do pai sem ter demonstrado ser digno deles. Cobro. Discordo. Critico. Me retiro. Me recuso a participar. Quando busco me independer deste convívio sou o irmão mais velho, que de forma arrogante vê o Pai como injusto e condescendente.

A parábola me agride por que mostra que é bom ser dependente. Às vezes me rendo e sou envolvido, e me entrego e recebo tudo em minhas mãos através da graça de Deus. Outras vezes me revolto, e acho que preciso ser forte e conquistar por mim mesmo aquilo que preciso.

Ser dependentes é o remédio precioso para o desamparo que a imagem acima representa. Pense nisto.