quinta-feira, 10 de maio de 2007

Dúvida e procedimento ético

Sem consultar a crítica especializada, arrisco-me a dizer que um bom livro para despertar o gosto pela filosofia e para orientar primeiros passos no mundo das idéias dos filósofos de todas as épocas é o "Mundo de Sofia".

Gosto de ler e procurar entender as idéias destes homens que amam conhecer. Um dos autores de quem gosto é Kant. O ponto que mais chama minha atenção em Kant é sua busca por entender a moral. A proposta kantiana é a descoberta e a fundamentação do princípio supremo da moralidade. Agir moralmente era um problema que intrigava o filósofo. Ele formulou um famoso princípio, conhecido como imperativo categórico, que diz mais ou menos assim:

"...não devo agir de outra maneira, senão de tal sorte que eu possa querer também que a minha máxima se torne uma lei universal." Gosto de pensar que sempre que você decide saber se está agindo moralmente ou não, basta usar o princípio do imperativo kantiano, talvez em 'linguagem de hoje' e se perguntar se você poderia desejar sinceramente que todas as pessoas do mundo copiassem sua ação. Se a resposta for um SIM bem sincero e confiante, você está no caminho certo, está no caminho da ação moral.

Claro, isso é controverso. O estudo da ética é complexo, mas muito convidativo e revelador. Pensar e agir eticamente nos colocam em situações muito curiosas as vezes. Conheço histórias sobre comportamento ético, que focam um ponto, e se esquecem de dezenas de outros em uma mesma situação.

Aproveito para neste ponto, insistir com minha temática sobre dúvidas. O agir eticamente, a meu ver, deve estar pautado em muita certeza. Sempre que existe dúvida quanto ao melhor modo de agir, podemos estar nos arriscando a nos comportar de forma a ofender a moral...

Vou procurar desenvolver mais este raciocínio. A idéia me ocorreu agora, e resolvi registrá-la. Mas aparentemente, esta suposta ligação tem um papel muito importante no que diz respeito ao nosso dia a dia, aos nossos relacionamentos e ao nosso desenvolvimento. Pense nisto.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Só algumas perguntas

Muitas vezes ouvi falar da sabedoria de Sócrates em relação à arte de fazer perguntas. Lembro-me de discutir sobre os diálogos longos e complexos do filósofo com seus pares, diálogos esses recheados de perguntas profundas. Discutíamos sobre a forma como Sócrates aprendia através de seus questionamentos, e como perguntas bem colocadas podem produzir reflexões inpiradoras e um bom conhecimento sobre os assuntos colocados em pauta.

Como falamos da ligação e da relação de posse entre dúvidas e perguntas e entre certeza e respostas, gostaria de colocar aqui algumas questões. Não são complexas demais, e talvez não sejam relevantes para a maioria das pessoas, mas posso estar enganado quanto a isso. A única razão pela qual vou lançar estas questões é o desejo de tentar enxergar algumas coisas DE UMA OUTRA FORMA. Vamos as questões:

1) Existe uma relação entre o que pensamos e fazemos habitualmente com a linguagem. Então, nossa forma de obter experiência, de raciocinar e entender o "mundo real" é conformado com nossa linguagem, ou seja, aprendemos da maneira como aprendemos porque falamos da maneira que falamos. Isso é bom ou não? Explique sua opção, por favor.

2) Essa situação é limitante, uma vez que só podemos entender de fato aquilo que podemos decodificar. Isso quer dizer que não entendemos certas coisas porque não conhecemos uma palavra que a descreva e a explique?

3) Se ao visualizar um objeto, você não souber seu nome, isso o torna irreal de alguma forma?

4) Ao tentar descrever o tal objeto que você viu, mas que não conhece uma palavra (nome) que o identifique, a realidade de tal objeto será completamente percebida pela pessoa a quem você o descreve?

5) Você concordaria que o mais difícil para alguém que se sente angustiado, entristecido e magoado é tentar explicar a alguém o que está sentindo, uma vez que não existem palavras para muitas das sensações que passam por nossa mente e corpo?

6) Ler a definição da palavra "angústia" em um dicionário seria suficiente para que você compreendesse o que se passa com alguém que sofre, que se comporta de forma tristonha, que se diz angustiado?

7) Uma forma alegórica de explicar as coisas é mais eficiente do que a forma direta, objetiva e literal de o fazer? Porque?

São só perguntas, mas não se engane. O ponto aqui ainda é a dúvida. Estas e muitas outras perguntas, de caráter mais relevante, nos remetem novamente ao ato de duvidar. Tente responder a estas questões. Não se preocupe com respostas certas, mas procure cultivar variedade de respostas possíveis. Talvez você experimente uma sensação de incerteza, ou quem sabe de limitação. O objetivo é este. Vamos experimentar o sabor da dúvida. Quem sabe isso não nos ajude a caminhar no trilho de algumas certezas... Pense nisto.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Momentos de Indefinição

Todos vivemos momentos assim. Não é simplesmente uma indifinição sobre uma coisa ou outra, mas uma indefinição entre o que somos e fazemos e algo que não sabemos bem o que é. Parece que é um desejo de estar em outro lugar, em outro tempo, fazendo algo diferente ao invés de estar onde estamos, neste tempo e envolvidos com o que fazemos agora. Mas a grande questão é que a maioria de nós não sabe, minimamente, pra onde queremos ir e o que gostaríamos de fazer.

Estamos novamente no terreno da dúvida. Na última vez, prometi dividir com vocês um pouco de minhas reflexões quanto à duvida. Procurei ajuda em um livro muito interessante, buscando ordenar um pouco as idéias. SARGENTIM escreveu um dicionário bem diferente, chamado DICIONÁRIO DE IDÉIAS AFINS, onde relaciona inúmeros termos (substantivos, verbos e adjetivos) que de alguma forma se ligam à palavra pesquisada.

Vamos ver parte do que acompanha o ato de duvidar, com base nestes termos correlatos. Quem dúvida está DESCONFIADO. Falta segurança nas bases em que se apóia. Temos dúvida em relação ao um amigo quando sentimos que não podemos confiar por inteiro. Duvidamos que estamos certos quando nossos atos causam EMBARAÇO. Se temos certeza, nossos atos só deviam trazer conseqüências positivas, e nunca nos deixar envergonhados, oras.

Nossa cabeça se enche de pontos de interrogação quando nossa forma de ver o mundo causa CONTROVÉRSIA. Não devia ser assim. Afinal, como posso estar certo se tantos outros manifestam uma idéia diferente?

Dúvida se relaciona com ENGANO, HESITAÇÃO, IMPRECISÃO. Temos de novo muitas perguntas, e quando isso acontece nossas idéias e pensamentos são PROBLEMÁTICOS, QUESTIONÁVEIS, EQUIVOCADOS, CONFUSOS, INSTÁVEIS. Quando, em qualquer situação, nos vemos cheios de questões e desprovidos de respostas começamos a duvidar, ou DE UMA OUTRA FORMA, começamos a DESCONFIAR, SUSPEITAR, COÇAR A CABEÇA, PRESUMIR, INFERIR, PROBLEMATIZAR demais as coisas.

O resultado de tudo isso é imobilidade. A dúvida, em seu aspecto negativo, nos impede de agir. Isto porque quando todos estes verbos e adjetivos circulam por nossa mente, colocamos em xeque a realidade. Não confiamos mais no que temos, no que sabemos, no que aprendemos. Nossos instintos falham e nossa mente tateia no escuro, buscando entre aquilo que conhecemos (experiências, aprendizado, idéias, histórias, lembranças...) algo que posso funcionar como lanterna. A sensação é a de estar em um pequeno círculo iluminado, cercado por densa escuridão. O espaço que ocupamos parece não ser ideal e nem confortável, mas não nos atrevemos a sair dele. E nós não o fazemos por que nos faltam EVIDÊNCIAS de que lá no escuro existe algo bom, melhor ou confiável.

Quando duvidamos questionamos a realidade, a nossa realidade. Mas a dúvida não nos apresenta um quadro alternativo. Em seu aspecto positivo, porém, ela nos faz SUPOR que existe outro lugar, outra atividade, outras pessoas, outras sensações. A dúvida nos coloca em movimento. Ela nos faz desejar ter respostas, buscar por certezas e entender que a realidade é dinâmica.

De forma negativa ficamos engasgados, desnorteados, desorientados, embaraçados e nutrimos suspeitas. Nossas idéias são contestáveis, nossos pensamentos imprecisos, nossos atos inconseqüentes e equivocados. Nossas emoções ficam instáveis e nossas escolhas discutíveis. Vamos de opinião em opinião, de forma vaga. Não progredimos, não construímos, não nos realizamos...

De forma positiva, porém, questionamos o lugar e o tempo. Contestamos o pequeno círculo iluminado, formulamos hipóteses, conjeturamos novas idéias, desejamos sair da obscuridade, causamos perplexidade e mudança. Nossas idéias se tornam alavancas, e nossas emoções se tornam combustível.

Quando leio sobre Jesus, percebo que Ele ensinava usando os lados negativo e positivo da dúvida, formulando perguntas. Sempre que temos perguntas, estamos no reino da dúvida, lembra? Jesus causava reflexão colocando na mente de seus alunos e discípulos dúvidas sobre as bases em que eles se apoiavam. Assim que eles questionavam o seu viver em seus pequenos círculos iluminados, Jesus lhes aplicava o caminho da verdade, que lhes dava certeza.

A partir da descoberta da verdade, eles não deveriam mais duvidar. Jesus agia firmemente quando eles deixavam que a dúvida voltasse a operar em assuntos já definidos. Por exemplo, assim que eles descobriram e entenderam que Jesus era o filho de Deus e que detinha um imenso poder, não deviam mais questionar isso. Por isso, quando Pedro afundava nas ondas, indo ao encontro de Jesus, Este o confrontou duramente dizendo "Porque duvidastes?".

Dúvidas que geram certezas. Eu posso estar equivocado, mas pra mim, faz sentido. E pra você? Talvez estejamos encontrando um caminho para ampliar nosso pequeno circulo iluminado, ou buscando, DE UMA OUTRA FORMA, coragem para vasculhar a escuridão. Pense nisto.