quinta-feira, 30 de abril de 2009

Relevante & Essencial


Nos livros bíblicos, as pessoas que resistiram à perseguição causada pela prática de sua fé, mantendo os princípios e fidelidade a Deus, são chamados de remanescentes. Eles são aqueles que, em número reduzido, simbolizam a crença firme, a decisão de jamais desanimar, a interiorização das virtudes e a fidelidade aos princípios da lei. O remanescente é um símbolo dos que vencem. Uma forma, talvez um pouco pejorativa, de chamar o remanescente é "aqueles que sobraram".


Pensando DE UMA OUTRA FORMA, essência também pode ser aquilo que permanece, aquilo que sobra. O senso comum nos diz que aquilo que sobra é justamente o que não chama atenção, não é considerado bom e que não é valorizado. Claro que em um grande número de casos, estas impressões estão corretas, ma quando falamos daquilo que é essecial na vida, podemos estar comentendo um grande equívoco.


Quero convidar você a pensar comigo sobre estas "sobras" de um jeito diferente. Já falamos sobre a essência ser aquilo de mais precioso, de ser a parte principal. Quero que você reflita sobre isso mais um pouco. Vamos tentar entender e formar uma visão diferenciada de como temos tratado, em nossa vida, a essência que existe em nós e o que é essencial para que vivamos da melhor maneira possível.


Existem coisas que são muito relevantes. Quando digo que são relevantes, digo que elas são tratadas como tendo um grande valor. Essas coisas são proeminentes, elas se impõe, se apresentam e praticamente não admitem serem desconsideradas. Elas são importantes, desejáveis, fazem diferença e todos reconhecem isso.


Não é à toa que devemos procurar ser relevantes em nossa comunidade, em nosso trabalho e principalmente em nossa família. Ser relevante é ser ouvido, ser notado, ser respeitado por aquilo que sabemos e fazemos. Isso pode fazer muita diferença quando falamos de cumprir nossos propósitos e obter satisfação.


Porém, ser relevante é apenas parte do processo de tornar-se uma pessoa boa. Quando falamos de essênica, estamos falando de extrair o bálsamo precioso da vida. Estamos falando de tirar tudo o que é secundário (ainda que valioso) e ver o que "sobra".


Numa visão totalmente diferente, estamos falando no que "sobra" como aquilo que de maneira nenhuma abriríamos mão. Existem coisas tão preciosas que não podem ser cortadas, esquecidas e deixadas no esquecimento. Quando falamos de extrair a essência, estamos falando de encontrar um fator de equilíbrio para aquilo que é relevante, para que nossa alegria aconteça.


Relevante é aquilo que você julga ser. Algo que tem valor para a sociedade. As pessoas elegem, consideram e alardeiam o valor do que é relevante. Pessoas relevantes são reconhecidas na TV, nas empresas, nas escolas. Relevância tem ligação com utilidade prática, com aplicação imediata, com resultados certos.


Essencial é aquilo que você sente ser. Algo que tem valor para você, e um valor que você quase não pode explicar, mas que praticamente todo mundo entende. É como, em um dia de faxina, você se recusar a jogar fora aquele caderninho velho, encapado com plástico vermelho, que já está deformado pela tempo e manchado de poeira, mas que traz a sua letrinha de criança e aquele recadinho carinhoso da professora, que foi um dos primeiros e maiores elogios que você recebeu...


O relevante se impõe na hora, enquanto o essencial aguarda silenciosamente sua decisão. O relevante é necessário e o essencial imprescindível. Os dois juntos são bases importantes para que sua vida seja completa, para que você seja uma pessoa boa.


Talvez muita gente esteja sentindo a alegria escapar por estar utilizando um em maior medida e negligenciando outro. E isso não é uma descoberta recente. Já há vários anos, em várias áreas de conhecimento, muitos estudiosos chamam nossa atencão pra isso. Mas quer seja pelo fato de estarmos muito envolvidos no senso comum, quer seja pelo apelo exagerado do mundo que nos cerca, quase todos nós vivemos uma dose maior de valorização e busca da relevância em detrimento daquilo que é essencial.


E parece ser tão forte este apelo, que muitas vezes agimos contrariamente ao que sentimos para não ouvir as pessoas comentando sobre nossa atitude, julgando que não valorizamos as oportunidades, que não seguimos as tendências. Esse apelo é tão devastador, que por mais que concordemos com o que estamos lendo neste momento, somos nós mesmos (inúmeras vezes) parte da voz que acusa e censura quem não entroniza o relevante mesmo quando o essencial se mostra com toda clareza...


Vamos tentar exemplificar isso com uma lista simples e um exercício de seleção de itens. Na lista que se segue, com dez itens, estamos desafiando você a cortar sete. Isso mesmo. Corte, despense, rejeite, elimine 70% das coisas listadas. Vamos lá.


1) Amor

2) Alegria

3) Pessoas

4) Status

5) Dinheiro para as necessidades

6) Amigos

7) Família

8) Trabalho

9) Emprego

10) Saúde


Se o seu teste foi parecido com o meu, você encontrou dificuldade. Você questionou se trabalho e emprego não são a mesma coisa. Você questionou a existência dos itens pessoas, família e amigos, tentando entender qual deles é mais necessário, mais importante... Você, mesmo que brevemente, deve ter pensando no que as pessoas diriam se você cortasse o iten família, mesmo que sua relação familiar seja horrível...


Aquilo que você não consegue cortar de nenhuma maneira é o indício do que é essencial em sua vida. Já aquilo que você entende como bom, como moral, como desejável mas que compete com aquilo que você não se imagina cortando, é relevante.


Assim surgem os pares TRABALHO x FAMÍLIA, PESSOAS x STATUS, ALEGRIA x EMPREGO... Já sabemos muito bem o que pensar sobre isso, já sabemos o peso destas coisas, e já sabemos como são valorizadas por todos, em praticamente toda sociedade do mundo. O que precisamos pensar DE UMA OUTRA FORMA é o meio de equilibrar estes dois fundamentos.


Nossa sugestão é aprender a extrar a essência. Assim como o óleo fino extraído das flores e vegetais, que se transforma naquela gota preciosa que perfuma, que encanta, extrair vida dos acontecimentos e de cada dia que vivemos, pode tornar o que é relevante ainda mais belo, e fazer com que nossa alegria seja inteira e renovada. Pense nisto.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Essência


Feche seus olhos e use sua memória. Procure lembrar um dia em que você nem ao menos sentiu o tempo passar de tão envolvido com alguma atividade. As horas voaram, e quando você se deu conta, até lamentou que o dia tivesse acabado. Você ficou satisfeito com o que fez, e sentiu-se muito bem...


Que tipo de atividade era esta? Era o seu trabalho? Era uma pesquisa da escola ou faculdade? Era um projeto pessoal? O que havia de especial nele? O que pode ser comparado com essa sensação gostosa de não ver as horas passarem e não sentir o dia acabando, estando completamento absorvido pelo que se está fazendo, que explique o porque disso?


Quando me faço estas perguntas, o melhor exemplo em que consigo pensar é no tempo da infância, no tempo do brincar. Nas férias da escola, assim que o sol nascia, eu já estava pronto para o dia. Eu praticamente amanhecia na porta dos colegas de brincadeira, depois de desejar ardentemente que a noite passasse logo.


A brincadeira era tão envolvente que não sentíamos fome. As mães, pelo meio do dia, apareciam nos portões e janelas gritando por nós. Era isso o que nos trazia de volta à realidade. E era mesmo a contra gosto que íamos para o almoço.


Comida engolida, lá estávamos de novo. Correndo, jogando e brincando de forma tão intensa que as pancadas, cortes e arranhões não eram sentidos ou percebidos até a hora do banho, já a noite, só depois de novos gritos nos portões nos alertando para o adiantado da hora. E mesmo a noite, estando cansados, já começava a ansiosa espera por um novo dia de brincadeiras.


Havia um encantamento no brincar. Era isto o que os motivava e nos mantinha vibrantes, entusiasmados, alegres. Apareciam obstáculos, mas eles eram vencidos rapidamente para que o objetivo de brincar fosse alcançado. Se fosse a proibição de um pai, lá estávamos em comissão para negociar. Se era a falta de um brinquedo, inventávamos outro. Se chovia, a garagem de alguém se convertia em quadra, campo ou outra coisa que a imaginação ordenasse. Se era uma tarefa a ser feita, ou a fazíamos a todo vapor ou dávamos um jeito de fazer depois. Às vezes nós até fazíamos um mutirão pra liberar logo um colega mais atarefado... E mais do que isso, muitas vezes as tarefas se convertiam em brincadeira, e eram feitas com satisfação e mais uma vez sentíamos o tempo voar, num exercício gostoso de fazer o que se gosta e aprender a gostar do que se faz.


Se a brincadeira era algo que exigia gastos, porque não vender doces, juntar latinhas, pedir aos pais? Se uma mãe mais rigorosa exigia boas notas para liberar a brincadeira, estudávamos. Nada era obstáculo grande o suficiente para nos separar daquilo que queríamos.


O encantamento não vinha das brincadeiras. Em sim mesmas, eram simples e muitas vezes repetidas. E não havia um lugar mágico onde brincávamos, como a Terra do Nunca, de Peter Pan. Brincávamos na rua, em um lote vazio ou no quintal de casa.


O encantamento vinha de nós mesmos. O segredo de obter imensa satisfação, máximo contentamento e envolvimento total com as coisas mais simples, vivendo plenamente o presente sem fantasmas do passado e sem preocupações futuras era simplesmente o fato de sermos crianças!


Sentíamos da maneira como sentíamos porque éramos inteiramente o que nascemos para ser e fazíamos o que adorávamos fazer. Aquilo era algo que nos era próprio, então vivíamos com alegria porque vivíamos em harmonia com nossa essência.


É uma dolorosa constatação que fazemos do fato de que a maioria de nós não vive mais este encantamento. Em um determinado ponto do caminho perdemos contato com nossa essência. Começamos a estudar matérias que não nos atraem, a fazer coisas que nos são impostas e que tomam todo o tempo, a conviver com a escassez de trabalho (já que as brincadeiras eram abertas a todos) , com a responsabilidade e com a agenda cheia. Tudo isso, apesar de não ser de todo mal, nos faz perder aquele sentimento de satisfação. Ao invés do tempo voar e do espírito ficar satisfeito, as horas se arrastam e o corpo cansado experimenta sentimentos de frustração.


De certa forma, as responsabilidades da vida adulta e as poucas alternativas acabam por condicionar nosso comportamento, nossas escolhas e nossa conduta. O ideal seria que esse condicionamento não nos furtasse a alegria espontânea e que não nos fizesse esquecer o que realmente somos e gostamos. O ideal seria temperar nosso contidiano com o doce sabor da vida e com o aroma perfumado de nossa essência.


Para que nosso trabalho tenha o mesmo encantamento que tinham as brincadeiras da infância, precisamos recuperar a vida com essência. Precisamos aplicar o que temos de melhor nas tarefas que temos pela frente e buscar, de algum modo, fazer o que fomos criados para fazer, o que nos dá prazer. Podemos não trabalhar com algo diretamente ligado a nossa essência, mas podemos usar o poder de nossa essência naquilo em que trabalhamos, aprendendo a não só fazermos o que gostamos, mas a tornar gostoso aquilo que fazemos.


Precisamos aprender a redescobrir nossa essência, olhando para nós mesmo DE UMA OUTRA FORMA, para que tenhamos relacionamentos vibrantes, dias alegres, para produzir resultados, para obter sucesso e prolongar o prazer de nossas realizações.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Essencial


Todos enfrentamos o desafio de descobrir e viver o que é essencial. Todos nós precisamos descobrir o que realmente viemos fazer aqui nesta vida. Todos os credos religiosos falam de nossa missão, e todos os grandes filmes de aventura nos mostram que os hérois possuem um chamado grandioso e nobre. Mas todos concordam que é árdua a tarefa de descobrir esta porta que nos conduz à plenitude de vida e de verdadeira satisfação. É raro descobrir esta essência que nos conduz a alegria verdadeira e a abundância de vida.


Claro, podemos passar pela vida sem isso. Muitos conseguem. Eles chegam ao final de seus dias sem ter feito nada mais do que cumprir a rotina imposta por seus meses e anos de pressão e aculturação. E muitos até conseguem ser felizes por bons períodos de tempo. Colecionam frustrações e algumas vitórias, e fazem um delicado malabarismo ao equilibrar seus sonhos e anseios de um lado e o vazio de estar apenas cumprindo tarefas repetitivas de outro.


Mas por outro lado podemos tentar descobrir aquilo que é essencial e conseguir mais da vida. Pessoas que vivem momentos de felicidade são muito diferentes daquelas que experimentam alegria verdadeira. Estas últimas tem tantos problemas e dificuldades quanto as primeiras, mas elas possuem algo que aqueles que se acomodam à rotina deixam de obter: certeza.


A essência é um bem interior que nos fala daquilo que somos de verdade. Pessoas que descobrem o que é essencial vivenciam a certeza de saber quem são e para o que foram criadas. Elas conhecem suas características únicas, seus pontos fortes e começam a usá-los. Pessoas que descobrem sua essência são orientadas por propósitos motivadores e entendem que precisam fazer aquilo que mais sabem, que lhes dá prazer, que completa seus dias e que beneficia os outros. Viver em essência é ter certeza de quem somos, é ter certeza de nossa missão e ter certeza de que existe um alvo maior. Viver em essência é saber que temos contribuições únicas a fazer e que apenas seguindo uma rotina imposta ou adaptando a vida aos acidentes que acontecem nunca seremos plenos.


Há um outro grupo de pessoas que vive acidentalmente. Eles aceitam o que lhes é imposto sem muita reflexão. Vivem de acordo com os acidentes que lhes acontecem. Acidentes são aqueles eventos indesejáveis e inesperados que insistem em querer mudar nosso rumo. Mas viver o essencial é escolher corrigir o rumo após cada evento, cada dor, cada golpe. E só a certeza de quem somos pode nos ajudar a corrigir diariamente este caminho.


Qual sua essência? Ou em outras palavras, quais são suas qualidades intrínsecas, imutáveis, que você reconhece com seus sentimentos e sensações cada vez que elas se apresentam numa imagem, numa música, numa palavra? Você pode descobrir isso buscando entender o que lhe é mais precioso, o que você gosta e faz com naturalidade, o que lhe dá um prazer puro e de efeitos duradouros.


Essência é viver em certeza. Essência é identidade. Talvez devessemos ter sido ensinados desde o berço, e talvez devesse existir na escola uma matéria sobre como descobrir o que temos de mais valioso em nosso íntimo. Infelizmente nossos pais e professores, em sua grande maioria, padece do mesmo desconhecimento... E não se pode ensinar o que ainda não aprendemos. Mas podemos aprender.


Descobrir o essencial é um ato que se inicia com um olhar introspectivo, na serenidade que a frustração causa. Quando a dor de perder se insinua e o coração arde, quando a dor de não ter faz a cabeça latejar, quando a dor de não ser fere profundamente o espírito, quando descobrimos que somos impotentes, dependentes e solitários, quando o grito da insatisfação quer sair cortando a garganta totalmente sem som e sentido, quando agarramos tudo com as mãos sem poder segurar nada e sentimos que o pouco que temos está escoando entre os dedos, o que é essencial se materializa, e deixa o rosto molhado e marcado. Precisamos reconhecer na lágrima transparente que brota do íntimo, aquilo que realmente importa. Aquela pequena pérola líquida revela nossos sentimentos mais profundos e desejos mais ardentes: nossa essência.


Se você atentar bem, é um processo bem parecido com o que os perfumistas extraem a essência das flores. Quebrantamento e esmagamento extremo. Pressão e compressão ao máximo. Um triturar impiedoso, uma força potente e inexorável que não cede até que a gota preciosa seja extraída da flor. Essência é a parte principal.


Não é preciso muito pra fazer diferença. Essências são concetradas, e apenas uma gota basta para modificar as substâncias que estão em contato com elas. Não fique imaginando que você precisa fazer algo grandioso para encontrar seu caminho e mudar sua vida. Talvez não seja uma grande e maravilhosa ideia que irá lhe trazer fortuna, e nem a luta sem tréguas irá lhe trazer alegria, e talvez nem mesmo o trabalho árduo e a insistência incansável lhe tragam o sucesso e a fama. Talvez todos estes fatores se mostrem insuficientes para a plenitude de vida sem a gota maravilhosa de sua essência.


Basta só uma gota dela para influenciar todos os aspectos de seu caráter, do seu jeito de ser. Ao descobrir e aplicar esta preciosa substância do seu íntimo tudo muda. Você passa a enxergar seus valores mais preciosos e a ter uma nova visão de mundo. Você começa a exalar seu perfume e a viver sua identidade.


Isso acontece independentemente do contexto. Você não é mais vítima da vida e sim um agente dela. Não são mais os acidentes que traçam seu caminho, embora eles continuem acontecendo. Agora você exala seu perfume único da identidade e da certeza de sua missão e vive em alegria. é como uma flor linda e perfumada que brota no deserto. Lá não existe ninguém para apreciar suas cores e aspirar seu perfume, mas independente disso ela é colorida e perfumada, pois essa é sua essência, sua parte principal, aquilo que importa, o que faz diferença, sua missão e sua alegria.


Mas como podemos obter tudo isso? Será que existe um método secreto que somente algumas pessoas sabem? Será que apenas alguns agraciados de Deus podem viver assim, em essência?


Precisamos pensar a respeito com muita calma, com muita seriedade. Podemos viver razoavelmente bem da maneira como estamos. Podemos nos contentar com momentos de felicidade, ou podemos extrair de nosso íntimo aquilo que temos de melhor, nosso dom único e valioso, que perfuma tudo o que toca.


Podemos oferecer a nós mesmos uma chance sagrada de viver em plenitude. Basta uma gota! Quando nossos sentimentos e sensações se materializarem naquela gotinha brilhante e saltarem de nossos olhos, precisamos deixar que ela role devagar, sentir seu gosto salgado e tentar sentir este sabor DE UMA OUTRA FORMA para descobrir o que é essencial. Pense nisto!