É fascinante a energia e a
curiosidade vibrante de um garotinho de pouco menos de 2 anos de idade. O ritmo
com que aprende é fantástico! Basta que ele observe uma vez, e já sabe como
ligar e desligar a TV, como acender luzes, que seu suco fica na geladeira, que
a chave que tilinta é sinal que alguém vai sair... Ele conhece seus desenhos
preferidos pela voz de um personagem, e ao ouvi-la, vem correndo e gargalhando
do quarto. Ainda não fala muito, mas seu pequeno vocabulário, composto de mamã, papá, dááá e neném, dizem muito. Ele já
entende tudo o que pedimos, e de uma maneira incrível, nos surpreende a cada
dia.
Resumindo: sou um pai apaixonado,
coruja e preocupado... Minha preocupação nasce, paradoxalmente, da mesma fonte
que minha fascinação. A vivacidade, curiosidade e energia de meu pequeno também
já lhe mostraram que existe o recurso da pirraça para ser usado quando algo lhe
é negado, e que há um limite em que ele pode nos testar. As zangas, os “não
pode”, os castigos de 2 minutos no tapete do quarto não são completamente
eficazes...
Quero que meu filho seja
obediente. Quero que seja bom. Quero que ela saiba respeitar, compartilhar, ser
simpático e amistoso. Nenhum pai quer um filho desobediente e mimado. Embora eu
conheça muita teoria sobre o que fazer para criar um filho resiliente e
estudioso, e tenha uma enorme lista de práticas e ações educacionais que podem
ser aplicadas para este fim, ainda assim me preocupo. Os anos vividos no
trabalho com crianças e adolescentes, com famílias e com escola me mostraram
que a aplicação de princípios e que o hiato entre teoria e prática são fatores
complexos.
Não quero que meu filho me
obedeça por medo de um castigo ou até mesmo de uma palmada. Não digo a ele que
existem monstros ou bichos no quarto escuro, ou que o senhor que caminha na
praça pela manhã vai pegá-lo ou coisas do tipo, apenas para garantir um
comportamento forçado. Quero sua obediência e bom comportamento em minha
presença e muito mais na minha ausência. Desejo ardentemente que ele seja bom, não
por medo e nem por recompensa, mas por essência...
Então, por desejar tudo isso,
decidi amá-lo. Pode parecer um pouco estranho a declaração de “decidir” amar um filho, por que afinal isto deveria ser espontâneo, natural e instantâneo. Mas
não é a um filete de sentimento de aceitação, a um brilhar nos olhos ao ver a
criaturinha linda bocejar e nem a um encantamento por saber que aquele serzinho
é sangue de seu sangue que caracterizam o amor a que me refiro. A fé cristã e a
pesquisa bíblica me ensinaram que o amor verdadeiro deve ultrapassar a questão
do sentimento e se manifestar em ações, em prática, em doação pessoal e em
justiça. Então decidi amar meu filho nestes termos, e realmente fazer algo significativo e profundo para que ele se torne a pessoa boa que meu coração de
pai deseja.
E quero partilhar esta reflexão e
a decisão de viver um amor de mangas arregaçadas com aqueles que são pais e
mães tão apaixonados e preocupados quanto eu. Peço que me acompanhem na
apresentação dos passos que decidi dar, e os convido a fazer o mesmo. Como pai,
eu decidi:
Demonstrar, da forma mais clara possível,
meu amor. Meu filho será abraçado, beijado, ajudado, amparado e ouvido
sempre. Minha família será prioridade. Seu dedinho ferido nunca será menos
importante do que a leitura de um jornal ou a conversa que eu estiver tendo.
Seu desconsolo por um brinquedinho quebrado nunca será considerado menor do que
o meu por uma conta vencida ou por um arranhão na pintura do meu carro.
2 Passar tempo com minha família. Meu
trabalho, apesar de minha responsabilidade e de minha realização ao executá-lo,
não ocupará o tempo que vou dedicar aos meus amados. Vamos almoçar juntos,
brincar, rolar no tapete da sala, nos aventurar em cavernas imaginárias feitas
de lençóis, correr na praça, escorregar na grama, jogar futebol, assistir a
desenhos engraçados e bons filmes que nos façam pensar. Vamos viajar, andar de
bicicleta, ira festas e participar de pic-nics, gincanas e acampamentos. Meu filho e minha esposa não serão privados de minha presença.
Vou ouvir meu filho. Nenhuma história,
nenhum relato, nenhum acontecimento de seu dia deixará de ter importância para
mim. Vou procurar ouvir com qualidade até o que é dito de forma desprendida, na
voz arfante depois de uma corrida, ou em meio as gargalhadas em uma guerra de
travesseiros. Vou ouvir o que ele gosta e não gosta, com o que ele sonha e
aquilo que o preocupa. Meu esforço em ouvir será para conhecê-lo da forma mais
íntima, profunda e amorosa que consiga alcançar. Vou guardar em meu coração
seus ideais infantis e orar para que sejam as realizações de um adulto maduro e
integro.
Vou falar. A missão de ensinar sobre as
coisas mais importantes da vida é um privilégio que vou lutar para manter. Quero
me assentar debaixo de uma árvore com minha família e contar as minhas
aventuras de infância. Falar de meus sonhos, de meus amigos, de meus projetos e
principalmente das verdades e princípios que orientam minha vida. A
responsabilidade de ensinar o certo e o errado é algo de que não vou abrir mão.
Falar sobre os fatos da vida, os perigos do caminho, a força da paixão, a
emoção do primeiro amor, o peso das consequências e o brilho da conquista será
um compromisso meu, que será cumprido em um misto de alegria e prazer.
Vou ser paciente. Tendo consciência
plena de que o aprendizado envolve tempo, sei que meu filho vai errar. As
escolhas nem sempre serão as melhores,
as tarefas nem sempre serão feitas, e que suas palavras nem sempre serão bem
escolhidas. Sei que algumas coisas serão perdidas e outras quebradas, mas
nenhum objeto, móvel ou dinheiro será mais valioso que meu filho. Minha voz
será firme ao mesmo tempo que branda. Não quero e não serei um pai que grita.
Vou andar no passo de meu filho e vou dar tempo para que ele experimente a
vida, sinta os sabores e vivencie os acontecimentos. Seu aprendizado será
certo, e seus erros serão degraus. Nada será traumático em nossa relação, por
que, pela graça de Deus, serei paciente.
Vou corrigir. Passos errados devem ser
corrigidos. Serei um pai atento, que chamará o pecado pelo nome. Cada ação
indevida, cada palavra inapropriada, cada ato de rebeldia, cada pequeno gesto
que possa alimentar traços indesejáveis de caráter será considerada. Meu filho
terá da minha mão a correção devida. Ele conhecerá os porquês, ouvirá das
consequências de um caminho errado, terá a oportunidade de reconhecer seus
erros e pagará o preço deles. Serei um pai que disciplina com amor, e que se
preocupa com a formação completa de seu filho. Corrigirei eu, para que outros
não precisem corrigir.
Vou dividir minha vida com ele. Cada
sonho, cada anseio e cada problema. Não serei o homem trancado em si mesmo, que
julga ter cumprido sua missão ao suprir as necessidades ou em pagar as contas
do mês. Ele saberá das minhas alegrias e tristezas, das minhas conquistas, das
minhas preocupações, de meus problemas. Ele poderá e deverá participar da
resolução dos problemas da família. Meu filho conhecerá minha história e nem
mesmo os meus erros serão escondidos. Não quero que em algum dia, ele chegue em
casa, decepcionado, por ter descoberto algo sobre seu pai através de outras
pessoas. Meu filho vai me conhecer, integralmente. Não posso admitir nenhum
traço de estranheza entre nós. Ser transparente faz parte do meu compromisso de
amor com meu filho.
8 Vou proteger minha família. E vou fazer
isso com todas as minhas forças. Não posso evitar que minha esposa ou meu filho
sofram, mas posso estar com eles em cada momento, abrandando a dor. Não posso
prendê-los em casa, mas posso estar com eles no caminho. Vou acreditar em suas
palavras e valorizar seus feitos. Vou defendê-los sempre que forem injustiçados.
Minha voz vai ser ouvida em sua defesa, e eles não estarão sozinhos. Assim como
aprendi de Jesus, estou disposto a dar a vida em defesa deles. Meu compromisso
envolve trabalho duro e consciente para que eles tenham sempre um lugar seguro
e condições dignas para viver.
Vou me deixar ser amado por meu filho.
Não vou me defender das demonstrações de amor. Sejam beijos melados (enquanto
ele está disposto a ofertá-los) ou abraços apertados dados com mãos sujas. Vou
receber seus presentes com alegria esfuziante.
Eu não terei medo de ouvir conselhos que ele possa me dar em sua
sabedoria, e nem vou me fechar a reprimendas quando eu errar. Vou aceitar colo,
cafuné e tapinhas nas costas. Vou pedir abraços na mesma proporção em que os
der. Me fará um bem enorme ouvir um ‘eu te amo, pai’, e vou anunciar em bom som
minhas saudades...
Com o passar do tempo, talvez
esta lista incorpore um ou outro detalhe, mas entendo que estes 10 pontos são
essenciais para que meu amor seja expresso de forma correta e, mais do que
isso, torne meu filho em alguém que se compraz com o que é correto. Sei que vou
errar, mas meu compromisso inclui retomar sempre estes passos. Tenho o
sentimento de que vou ser interrompido muito antes de uma obra completa, pois
temos um tempo contado neste mundo. Sendo assim, não posso deixar um
compromisso como este para depois. Ele começa de forma imediata, a cada novo
dia, a cada oportunidade.
Minha decisão envolve amar com
tal intensidade, de forma tão profunda, perceptível, honesta e intensa, que meu
amor desperte a reciprocidade. Meu filho vai ser bom e obediente por se sentir
amado e me amar também, e por saber que seus atos de bondade, equilíbrio e
retidão me farão feliz. Acho que é assim
(na medida perfeita) que Deus nos ama, não é? Pense nisto.
7 comentários:
Como sempre, muito rico o artigo! Que Deus te conceda e nos conceda cada dia mais sabedoria para tratarmos nossos pequenos...
Amém Claúdio! Que Deus conceda a cada pai e mãe demonstrar esse amor maravilhoso que reflete o amor de nosso Deus por nós!
Claudinho...ficou ótimo o texto. Deus lhe abençoe sempre.
Querido amigo e irmão em Cristo. Que sábias palavras da madrugada o Senhor lhe conferiu. Espero em Cristo que tanto você quanto eu, possamos colocar em prática, sem cessar esse ensinamento que o nosso Deus lhe concedeu na madrugada. Vamos nessa luta juntos, pois o mesmo Senhor que lhe conferiu essas palavras, irá nos cobrar o que fizemos com os filhos que ele nos deu. Um grande abraço e sucesso em sua vida.
Charles Albert & Aline Patricia.
Lindo texto Cláudio!!! Desejo que Deus te ilumine a cada dia para colocá-lo em prático e te conceda sabedoria para escrever outros textos tão ricos como este. Não sabia deste blog, rs. Vou ficar atenta as novidades!!! Abraços..
CLÁUDIO, tive a felicidade de encontrar seu blog "por acaso..."se é que o acaso existe...Há muito tempo recebi um cartão com a mesma frase que um dia você recebeu o seu" Nenhum caco é tão compacto que não dê lugar as flores." A fui procurar a autoria, poderia ser de um livro, um trecho qualquer e encontrei algo bem mais valioso...suas crônicas, seus escritos maravilhosamente elaborados, sensíveis, profundos...E a partir de então estou sempre por aqui, lendo, refletindo, buscando inspirar-me na sua sensibilidade de poeta, de aprendiz da vida nas coisas simples do cotidiano. É tudo tão bonito que gostaria de pedir permissão para publicar vez ou outra os seus textos no facebook... Com autoria e referência ao blog, caso alguém deseje visitar. É sempre bom compartilhar o que é bonito, nobre e sobretudo edificante. É muito gratificante perceber que neste mundo de crueldades e coisas bizarras que vemos todos os dias ainda tem gente esperançosa, que a credita na vida, nas pessoas e sobretudo no amor. Paz e Luz na sua caminhada! Esse texto particularmente me comoveu muito pois comungo das mesmas ideias, dos mesmos sentimentos por estes serem iluminados que Deus coloca nas nossas vidas, certamente com um proposito muito
maior...Obrigada por compartilhar conosco algo tão belo e tão raro hoje em dia...sensibilidade!
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