sexta-feira, 14 de junho de 2013

EU QUERO


Ao que parece, sou um inveterado viajante do tempo, como já comentei em outra postagem. Não consigo deixar de viajar ao passado. Minhas memórias de infância, aparentemente forradas de pequenos acontecimentos irrelevantes e de centenas de histórias aparentemente singelas, de vez em sempre irrompem para me mostrar que podem me ser valiosas para viver o presente e fazer melhor aquilo que me é proposto.

Olhando alguns garotos que se entretinham com uma partida de futebol, vi da minha janela, o grupo que estava fora da quadra. Eles torciam avidamente pelos gols, e não importava que time conseguisse a vitória, desde que fosse logo. Eles não estavam torcendo pela vitória de um ou de outro, mas por sua vez de entrar em quadra.

Os garotos “de fora” estavam ávidos para brincar, loucos pra ter sua vez, e por isso faziam papel de técnicos, de torcedores e de gandulas. Como a regra era que cada partida terminasse com dois gols, cada oportunidade perdida era seguida de um “uuuuuuhhh” que vinha lá do fundo de um coração ansioso por ter sua vez, sua chance de jogar. Quando a partida terminou os “de fora” entraram na quadra pulando, dando cambalhotas e empurrando os perdedores pra fora, com sorrisos de uma alegria tão grande, tão vibrante, tão contagiante que parecia sobrepujar todas as coisas boas do mundo.  

Foi aí que minha máquina do tempo se ativou, e viajei ao tempo em que eu mesmo era um garoto “de fora”. Campo de terra, traves feitas de galhos amarrados, pés descalços e uma ansiedade tremenda para entrar logo no jogo. O que definia minha participação era a certeza total, a vontade determinada, um desejo irrefreável de jogar. Eu queria, e queria muito. Então ficava lá, torcendo pelos gols, alertando os jogadores e orientando as jogadas, buscando a bola que insistia em rolar pelos barrancos ou cair entre as moitas que cercavam o campo, sendo um gandula ligeiro, para que a minha vez chegasse logo.

Quando o time era formado, os dois privilegiados que tiravam um “par ou impar” para escolher seus jogadores, eram cercados pelos colegas, com mãos erguidas e gritos de “me escolhe” e eu sempre dizia “eu quero, eu quero!”. Minhas memórias de infância novamente despertaram questionamentos inquietantes: onde foi parar minha vontade de participar? Onde foi parar meu grito de “eu quero”?

Pense comigo DE UMA OUTRA FORMA. Parece que enquanto adultos deixamos de torcer para que nossa vez chegue logo. Os que conseguem causar impacto neste mundo parecem ter um dom especial, mas na verdade apenas preservaram a vontade constante de entrar no jogo, enquanto a maioria de nós demonstra ter perdido o desejo de jogar. Não nos animamos a fazer o papel de gandulas, não ficamos na linha do campo observando os jogadores, medindo sua capacidade, aprendendo novos dribles, orientando possíveis jogadas, e muito menos temos levantado as mãos para ser escolhidos pra uma partida. Os garotos “de fora” estavam o tempo todo querendo estar dentro. Os adultos “de fora” parecem não se importar. Mesmo que haja desejo, ele não está sendo expresso, não está sendo ansiosamente esperado, estamos deixando de criar oportunidades. E isto é lamentável.

O tornar-se adulto rouba de nós aquela certeza plena de querer estar no jogo. Começamos a achar que para estar lá precisamos ser bons, que precisamos estar super preparados, que precisamos sempre vencer. Quando eu era menino não me preocupava se existiam outros jogadores melhores do que eu, quando eu dizia “eu quero” e entrava pra jogar, sabia que podia sair de novo, mas o bom mesmo era jogar. Se ganhasse, ótimo, se não sabia que dali a “cinco minutos ou dois gols” estaria de volta.

Então, minha memória dos tempos de menino diz – Ei! Volte a dizer “eu quero”. Observe o jogo, pegue as bolas que fogem pra ajudar de alguma forma, fique atento, dê palpites, torça, se motive, você por estar dentro a qualquer momento. Quando entrar, se entregue, corra e aproveite. Se sair, mantenha a atitude de quem quer entrar de novo. Isso vale para o estudo, para os relacionamentos, para o trabalho e para a vida.

Dwight Lyman Moody, um dos maiores evangelistas do século 19 ouviu um pregador dizer que um homem totalmente consagrado a Deus, cheio do desejo de causar impacto, precisava apenas se colocar no jogo e o mundo veria o resultado. Moody refletiu sobre o sermão e disse mais tarde:

“Ele disse ‘um homem’. Ele não disse grande homem, nem sábio, nem rico, nem eloquente, nem inteligente, mas , simplesmente ‘um homem’. Eu sou um homem, e cabe ao homem decidir se deseja ou não se consagrar, inteira e completamente. Estou resolvido a fazer todo o possível para ser esse homem.” – A vida de D.L. Moody por William R. Moody.

Bom, Moody disse “eu quero”. Ele não disse isso para entrar num jogo de futebol entre crianças que se divertem, mas para a oportunidade de causar impacto positivo e significativo no mundo. Nós podemos fazer o mesmo. Não precisamos ser os melhores, só precisamos fazer o mesmo que os “garotos de fora” fazem no jogo: estar lá quando a oportunidade aparecer.

Diga “eu quero” no trabalho, no serviço voluntário, quando puder contribuir com alguém, quando estiver com quem ama e puder demonstrar. Diga “eu quero” para as fantásticas coisas que pode construir, e mantenha acesa a chama da infância que não nos deixava admitir a ideia de ficar de fora das boas coisas. Pense nisto.

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