Acordei cedo e fui admirar meu
filho de um ano de idade dormindo. Rostinho tranquilo, respiração leve, e vez
por outra um pequeno suspiro. Enquanto eu o via ali quietinho, fiquei me
lembrando da alegria dele correndo atrás de mim pela casa, sua risada quando me
pegava, e dos bracinhos se agitando como dizendo que agora é a minha vez de
seguir e o pegar.
Como é fácil amar meu pequeno! A
euforia dele quando chego do trabalho e sua corrida para meus braços, o sorriso
cristalino e puro, o olhar encantado por tudo que ele descobre, o toque macio
de sua mãozinha, o bocão que abre pra receber sua comidinha, as artes que
apronta sem maldade, movido pela curiosidade e pelo ímpeto de conquistar novos
espaços. A sua expectativa pelas brincadeiras
que um papai apaixonado inventa na hora da troca da fralda ou a farra na hora
do banho só para que ele não chore me mostram como ele valoriza meus esforços
de pai.
Como é fácil amar meu filhinho!
Ao ver a porta da geladeira sendo aberta, a missão de fechá-la é dele – ainda
que com um exagero de força – e um tilintar de chaves é o alerta para um
possível passeio na praça. Seu falatório sem palavras prontas (dêdêdê iiiiii,
tá diiiii, tétété, pááá) é, de alguma forma misteriosa, compreensível para uma
mãe e um pai que sabem terem sido grandemente abençoados. Quando se machuca nas
peraltices próprias de menino, uma palavra já soa bem nítida em meio aos
choramingos. Ele diz “neném” clamando
por todo o afago que ele tem direito nesta hora. E de coração tão bom, consegue
logo dar uma risada ao mesmo tempo em que as lágrimas correm pelo rosto...
Quando o soninho chega ou quando qualquer frustração se insinua, ele anda pela
casa, com os bracinhos para cima chamando por “mamã” sabendo que logo será
embalado em braços calorosos e o seu mundinho será melhor.
Vendo sua paz ao dormir, pensando
em tudo isso que faz dele alguém tão fácil de amar, orei ao meu bom Deus para
que nosso amor de pais apaixonados se perpetue e se mostre forte e puro também
quando vierem os momentos ruins, quando talvez a expressão deste amor se torne
difícil:
Quando ao chegar de um dia duro
de trabalho, talvez encontre um dos meus livros preferidos riscado e rasgado
num canto da casa. Quando o choro de um neném que bateu a cabecinha talvez seja
substituído pelo choro de pirraça de um garotinho que quer ver seus desejos
atendidos de qualquer maneira. Quando o correr para os meus braços no momento
em que eu chego em casa talvez passe a ser um simples olhar indiferente para
quem acabou de abrir a porta. Para estas situações, o amor precisa continuar a
ser expresso e vivido...
Quando o chamado pela mãe começar
a denotar mais um “preciso de alguma coisa” mais do que um “preciso de você” e
quando as coisas que nos proporcionam tanto prazer em fazer com ele passarem a
ser feitas sozinhas, precisaremos nos esforçar para expressar o amor paciente e
sempre presente...
Quando a chegada de um coleguinha
que ele fez na escola talvez for mais festejada que a chegada do pai, e quando
talvez eu tiver que implorar meu abraço que hoje recebo de forma tão esfuziante
ou quando a mamãe talvez não possa mais pegar no colo e não mais dar beijos
estalados por que isso é um “mico” (ou qualquer outra gíria que surja no
futuro), a expressão de nosso amor precisará continuar existindo ainda que em
silêncio e sem tantas manifestações ruidosas...
Quando talvez ele aprenda a fazer
uso do cinismo, e troque seu sorriso sincero por um daqueles risos amarelos que
nos dizem o quanto somos antiquados, e quando talvez ele resolver que suas
ideias são melhores e adote a desobediência como forma de agir nosso amor
precisará ser demonstrado de forma firme e corretiva...
Quando talvez ele descobrir a
rebeldia, e insistir que seus caminhos são só dele, negando nossa presença e
nossa participação, e quando nossos conselhos soarem apenas como um falatório
de quem não sabe nada do mundo e de quem não entende suas necessidades e quer
privá-lo de descobrir o mundo, nosso amor deverá ser compreensivo e
duradouro...
E por fim, quando talvez ele deixar
a nossa casa, e aparecer apressado nos fins de semana, independente e forte,
agradecendo friamente nossa preocupação que não tem razão de ser, nosso amor
deva ser expresso em orações para que Deus o proteja e o conforte nos momentos
difíceis da vida em que tanto desejaríamos que ele estivesse em nossos
braços...
Hoje de manhã, olhando meu filho
dormir, fiz esta viagem no tempo e pensei em como um amor tão fácil pode se
tornar difícil de ser demonstrado. Pedi a Deus que nos dê força para educa-lo e
amá-lo de forma tão intensa que todas estas cenas não passem do “talvez” que
tanto usei nas descrições dolorosas que fiz deste provável futuro.
Que vivamos um amor de princípio,
para que ele aprenda a sorrir de forma franca, a obedecer de forma amável, a
entender que sua dependência de nós não é uma fraqueza, e sim nossa maior força
conjunta. Que nosso amor expresso em palavras, atos e afagos não nos privem
nunca de seu abraço, de sua presença e de sua inteligência ativa que nos
fascina a cada dia.
Olhando meu filho dormir aninhado
em sua caminha, recebi de Deus um pensamento: é exatamente assim que Ele nos
olha a cada dia. Suporta nosso cinismo com amor firme, continua nos dirigindo
palavras de amor e orientação de forma compreensiva e duradoura mesmo quando,
arrogantes que somos, achamos que já sabemos tudo. Deus continua nos protegendo
mesmo com seu amor infinito mesmo quando agimos como se fossemos suficientemente
fortes para não depender dEle...
Sou grato pelo soninho tranquilo
de meu filho. Ele me fez perceber que enquanto durmo, com olhos de amor eterno,
Deus vela pelo meu sono, com um amor incomensurável que, com certeza, levarei
toda a eternidade para tentar compreender... Quando o amor se tornar difícil,
vou experimentar amar DE UMA OUTRA FORMA, motivado e inspirado pelo amor de
Deus. Pense nisto com carinho.