Ultimamente descobri que tenho medo de muitas coisas que antes não faziam nem sequer parte de meus pensamentos. Isso é estranho. Pensei que estava imune a este tipo de sensação, mas confesso que temi (e temo) as idéias que minha mente teceu nestes últimos dias.
Minha sensação de imunidade vinha de uma certeza que eu cultivava. Era a certeza da capacidade de superar barreiras, de vencer obstáculos e de criar alternativas favoráveis mesmo diante dos maiores desafios.
Porém, uma coisa aconteceu. Talvez um acontecimento que seja inevitável na vida de cada um de nós, seres humanos. Aconteceu uma mudança de perspectiva, acompanhada de uma mudança de campo e de uma mudança de expectativa.
Não é que a capacidade de superar tenha deixado de existir, e também não é o caso de se pensar que a rede de amigos que me sustenta, que o aprendizado que obtive, e que a experiência de vida tenham simplesmente deixado existir. O fato é que este conjunto de três mudanças mexeu com a coluna mestra da minha segurança: a comodidade.
Quero convidar você a pensar sobre isso junto comigo, como sempre, DE UMA OUTRA FORMA. Podemos começar tentado entender melhor este tipo de medo que rouba nossa tranquilidade quanto ao dia de amanhã. De forma bem simples, este medo pode ser entendido com uma certeza. Começamos a construir o firme pensamento de que algo ruim vai acontecer. Um certeza que não mostra o que exatamente vai acontecer, mas deixa claro que não é algo bom, e de que não podemos fugir.
Este tipo de pensamento mexe com nossa comodidade. De alguma maneira, ele nos faz pensar que o lugarzinho aconchegante que construímos com nosso trabalho, com nossa vivência e que se tornou nossa fonte de alimento, de calor e abrigo pode ser tirado de nós. Estávamos tão habituados a saber o que fazer, a conhecer as pessoas a quem podíamos recorrer, a dominar inteiramente a forma de resolver as questões, e de repente, descobrimos que alguém apareceu, que algum fato ocorreu, que pessoas em lugares distantes tomaram decisões equivocadas, ou no mínimo arriscadas, e por conta disso, meu lugarzinho quente e seguro começou a ruir.
É mais ou menos a idéia que Spencer Jhonson defende no clássico "Quem mexeu no meu queijo?". A comodidade é algo que gostamos, e que nos dá a sensação de que temos o domínio da situação. O futuro parece certo, até que vem o medo causado pela tripla mudança...
A mudança de perspectiva ocorre quando somos forçados a olhar pra vida de um outro ponto de vista. Uma comparação que você nunca tinha feito pode ser o gatilho desta mudança. Você de dá conta que as pessoas estam usando equipamentos que você não domina, e que gente muito mais nova que você já alcançou coisas que você ainda estava pensando se convinha fazer... Nesta nova perspectiva, você já não é tão informado, capacitado e preparado como antes...
Com a nova perspectiva, vem o reconhecimento de que o espaço a sua volta mudou. Seu território encolheu. É a mudança de campo. Gente nova, habilidades que você não sabia que precisava de ter, lutas pelo domínio do terreno, cercas derrubadas (cercas frágeis que você julgava instransponíveis) e uma nova geografia, onde valores muito diferentes do seus (e muitas vezes distorcidos) reconfiguram a paisagem. Você precisa se recolocar e o seu "lugarzinho aconchegante" começa a desabar de vez.
Agora é a vez da expectativa mudar. Você não sabe mais se pode esperar por algo bom. E, pronto! Está formada a tríade que constrói o medo e que gera a imobilidade. Pode parecer que eu esteja sendo muito pessimista, mas é simples constatação. Os ingredientes da receita podem ser outros, ou tudo isto pode ser dito DE UMA OUTRA FORMA, mas o fato é que muita gente, em algum momento da vida, sofre estas mudanças (de perspectiva, de campo e de expectativa), e começa a olhar o mundo como um ratinho acuado em seu esconderijo... A figura do gato grande nos vigiando a porta da toca, esperando por um deslize, pronto pra dar um golpe certeiro e mortal com suas unhas afiadas.
O que nos espera lá fora? E este "lá fora" significa o amanhã, a semana que vem, o voto do governo em aprovar ou desaprovar leis que podem mudar minha vida, a decisão das pessoas sobre nos aceitar ou repudiar, a aprovação do meu trabalho ou a opinião que outros terão de mim. Este "lá fora" pode ser a forma de continuar ganhado dinheiro, pode ser a concorrência cada vez maior, ou até mesmo a ausência de quem sempre esteve por perto...
O ratinho no buraco pergunta "e se...?". Nós fazemos a mesma pergunta todos os dias. Talvez a grande diferença entre pessoas que alimentam o medo e outras tantas que alimentam esperança seja o enfoque. O enfoque negativo da pergunta "e se...?" nos aprisiona na imobilidade. O enfoque positivo alimenta a criatividade e nos faz encarar as mudanças de perspectiva, campo e expectativas como oportunidades.
E se quebrar? E seu eu perder? E se não gostarem? E se não for bom? E sem o gato me pegar? Tudo isso pode acontecer... Mas a permanência no buraco não vai ajudar... Talvez o gato não esteja mais lá fora...
E se eu fizesse aquilo? E se eu ganhar? E se der certo? E se gostarem? E se houver outra saída? Tudo isso pode acontecer... Sair do buraco pode ajudar... Talvez o gato esteja lá, mas vale a pena arriscar.
Não estou dando nenhuma receita de sucesso. Lembre-se de que comecei este texto dizendo que tenho medo. Estou apenas fazendo uma constatação, reconhecendo que o medo existe, de que lá no fundo sabemos como ele foi criado, e que de forma bem simples, sabemos como vencê-lo. O que nos espera lá fora? E se for algo bom? E se a gente arriscasse?
Ainda tenho medo, mas estou me dispondo a usar a vertente positiva das perguntas que proponho. Talvez isso seja bom pra você também. Pense nisto.