Há alguns anos aconteceu um congresso. Era um encontro para toda a América do sul. Os organizadores escolheram o tema “criatividade” e convidaram as maiores autoridades da área para palestrar sobre os efeitos, as técnicas, os conceitos e sobre sua aplicação ao trabalho e à liderança... Na época (e ainda hoje) eu era um aficionado pela questão da criatividade, tendo lido vários livros, pesquisado e me aventurado a dar algumas palestras sobre o tema.
Não preciso dizer o quanto estava desejoso de poder assistir a este encontro. Infelizmente o investimento era bem maior do que eu imaginava. Mas quando já estava conformado com a idéia de não participar, um amigo que havia trabalhado comigo me ligou dizendo que estava na cidade e me pede pra encontrar com ele. O local do encontro era justamente o hotel onde acontecia o congresso.
Lá encontrei, além de meu antigo chefe e de um palestrante do Rio de Janeiro, que muitas vezes veio aos nossos eventos, outros dois amigos que sempre dividiam comigo a organização dos programas que promovíamos. Os dois primeiros estavam inscritos no congresso e queriam dividir conosco algumas idéias e projetos que estavam rascunhando.
Em certo momento, ouvimos que o ciclo de palestras iria começar. Foi sugerido que cada um de nós fosse para uma palestra, captasse o máximo de informações e depois nos encontrássemos para formular um novo evento. Só havia um problema: três de nós só estavam ali por serem visitantes dos hóspedes. Tivemos acesso ao hotel, mas não estávamos inscritos... Mesmo assim, acabamos entrando nos auditórios e salões onde estariam os famosos palestrantes que eu tanto queria ouvir...
Eu me acomodei e me preparei para ouvir. Mas havia um desconforto crescente. Cada vez que uma das pessoas que trabalhavam no evento passava por mim, eu sentia que sabiam que eu estava ali de penetra. Senti-me “roubando” algo, e cada vez ficava mais inquieto. Eu já sabia que aquilo não era certo quando entrei, pensando que conseguiria burlar minha consciência me dizendo “afinal, estou aqui mesmo...” mas não consegui. Eu era um intruso, sentia um desconforto enorme e morria de medo de minha farsa ser descoberta. Sai do salão disposto a esperar pelos outros e dizer a eles que não conseguia fazer aquilo. Quando cheguei lá fora, meus dois amigos estavam saindo também. Ficamos felizes por termos sentido e agido da mesma forma...
Naquele dia, sentado no auditório, o sentimento que estava em meu coração era o da indignidade. Quantas vezes nos sentimos assim no decorrer da vida? Parece que todos são melhores do que nós. Os outros aparentam sem mais capazes, melhor preparados, mais conhecedores, mais admirados, mais confiantes e fortes e detentores de um direito que não temos, enquanto nós sentimos que estamos invadindo um espaço sagrado... Quero convidar você a pensar comigo sobre indignidade DE UMA OUTRA FORMA.
A primeira impressão que a indignidade desperta é justamente a da invasão. Parece que o espaço que ocupamos não é nosso, e que entramos ali através de uma tábua solta ou de uma porta arrombada. Sentimos que somos penetras que serão descobertos a qualquer momento e que serão lançados porta afora sem o direito de reclamar. E por fim, sentimos até certo alívio em pensar assim, porque acreditamos de verdade que aquele lugar é bom demais pra nós...
Depois vem a impressão da negligência. Fomos displicentes e desatentos e por isso nos vemos em uma situação difícil, para a qual não fomos preparados, na qual não devíamos estar. Ou fazemos algo que é vergonhoso demais pra mencionar (ficamos olhando em volta com medo de alguém conhecido estar nos observando) ou fazemos algo de forma muito falha, revelando nossa incompetência e impossibilidade de estar ao menos cogitando fazer algo assim...
Em seguida o sentimento do desconforto, em que nos perguntamos por que deixamos tudo isso acontecer, por que mais uma vez fomos pisar em um lugar que não era nosso, que não merecíamos nem contemplar. Ficamos desesperados com as pessoas que nos observam ali, porque parece que todas elas sabem que somos falhos, falsos e indignos... É uma cena que ocorre em vários filmes em que o personagem principal finge ser o que não é, e tenta desesperadamente, durante todo o filme, sustentar sua farsa, somente pra ser descoberto no final, numa cena de muita vergonha e ao mesmo tempo alívio... Sentimos o desconforto de ser uma farsa que pode ser descoberta a qualquer momento...
Incerteza sobre nosso real valor. Alguém como nós (indignos) tem mesmo importância na vida das pessoas? Nós fazemos alguma diferença? Quando nos sentimos indignos esquecemos-nos de tudo o que fizemos de positivo, não nos lembramos de ninguém para quem sejamos importantes. Tudo o que sabemos é que não merecemos estar onde estamos, que somos maus demais, impotentes, incompetentes, inconvenientes e farsantes...
Generalizamos nossa condição. Tudo o que fazemos, e não somente aquele momento, é ruim. A indignidade nos faz pensar que todo ato, que todo trabalho, que cada escolha e cada pensamento nosso é de todo ruim e falso.
Dados estes passos, seguimos negando a condição de recuperação. Seremos sempre indignos e nunca conseguiremos nada de bom. Isolamento é nosso passo seguinte, pois longe das pessoas não seremos olhados com desprezo e nem faremos mal a elas. Depois sentimos dor e abandono. Em seguida depomos as armas e entregamos nossa esperança...
Você já se sentiu indigno? Eu já, e mais de uma vez... Porém, muita gente consegue superar isso. Nos filmes que mencionei quase sempre o final é feliz e quase sempre fica um enorme aprendizado. Nós podemos nos tornar dignos de respeito, mais do que das outras pessoas, de nós mesmos. Basta que pensemos DE UMA OUTRA FORMA. Vamos ver a indignidade não como uma sentença perpétua, mas como estado que deve provocar uma reação positiva que nos faça crescer.
Sendo assim, quando se sentir indigno, para a impressão de que está invadindo um espaço que não é seu, busque desenvolver pertencimento. Sinta-se aceito, acarinhado. Confie no amor das pessoas apesar do que você tem ou faz. Dê um crédito ao amor desinteressado dos que o cercam.
Busque um preparo constante para combater a impressão de estar sendo negligente e procure o conselho de outros. Na multidão dos conselhos existe sabedoria... E quando sentir-se desconfortável pelo que fez, procure seus amigos e diga a verdade. Não mascare seus erros, mas os entregue à correção.
Toda vez que estiver incerto sobre seu valor, procure visualizar o legado que está deixando. Construa e invista em deixar uma herança imaterial firme e sólida, e sempre que estiver tendendo a generalizar toda sua vida como indigna em razão de um erro, de um dia ruim ou de um tropeço, conte com os amigos sinceros para obter reconhecimento daquilo que você realmente é.
Todos nos sentimos indignos as vezes. O que faz diferença na vida de muita gente é o fato de que alguns buscam comprovação para sua situação (e fatalmente encontram) e outros buscam perdão e novas chances... Seja como estes últimos: assuma seus erros, mude a direção. Pense nisto.
Não preciso dizer o quanto estava desejoso de poder assistir a este encontro. Infelizmente o investimento era bem maior do que eu imaginava. Mas quando já estava conformado com a idéia de não participar, um amigo que havia trabalhado comigo me ligou dizendo que estava na cidade e me pede pra encontrar com ele. O local do encontro era justamente o hotel onde acontecia o congresso.
Lá encontrei, além de meu antigo chefe e de um palestrante do Rio de Janeiro, que muitas vezes veio aos nossos eventos, outros dois amigos que sempre dividiam comigo a organização dos programas que promovíamos. Os dois primeiros estavam inscritos no congresso e queriam dividir conosco algumas idéias e projetos que estavam rascunhando.
Em certo momento, ouvimos que o ciclo de palestras iria começar. Foi sugerido que cada um de nós fosse para uma palestra, captasse o máximo de informações e depois nos encontrássemos para formular um novo evento. Só havia um problema: três de nós só estavam ali por serem visitantes dos hóspedes. Tivemos acesso ao hotel, mas não estávamos inscritos... Mesmo assim, acabamos entrando nos auditórios e salões onde estariam os famosos palestrantes que eu tanto queria ouvir...
Eu me acomodei e me preparei para ouvir. Mas havia um desconforto crescente. Cada vez que uma das pessoas que trabalhavam no evento passava por mim, eu sentia que sabiam que eu estava ali de penetra. Senti-me “roubando” algo, e cada vez ficava mais inquieto. Eu já sabia que aquilo não era certo quando entrei, pensando que conseguiria burlar minha consciência me dizendo “afinal, estou aqui mesmo...” mas não consegui. Eu era um intruso, sentia um desconforto enorme e morria de medo de minha farsa ser descoberta. Sai do salão disposto a esperar pelos outros e dizer a eles que não conseguia fazer aquilo. Quando cheguei lá fora, meus dois amigos estavam saindo também. Ficamos felizes por termos sentido e agido da mesma forma...
Naquele dia, sentado no auditório, o sentimento que estava em meu coração era o da indignidade. Quantas vezes nos sentimos assim no decorrer da vida? Parece que todos são melhores do que nós. Os outros aparentam sem mais capazes, melhor preparados, mais conhecedores, mais admirados, mais confiantes e fortes e detentores de um direito que não temos, enquanto nós sentimos que estamos invadindo um espaço sagrado... Quero convidar você a pensar comigo sobre indignidade DE UMA OUTRA FORMA.
A primeira impressão que a indignidade desperta é justamente a da invasão. Parece que o espaço que ocupamos não é nosso, e que entramos ali através de uma tábua solta ou de uma porta arrombada. Sentimos que somos penetras que serão descobertos a qualquer momento e que serão lançados porta afora sem o direito de reclamar. E por fim, sentimos até certo alívio em pensar assim, porque acreditamos de verdade que aquele lugar é bom demais pra nós...
Depois vem a impressão da negligência. Fomos displicentes e desatentos e por isso nos vemos em uma situação difícil, para a qual não fomos preparados, na qual não devíamos estar. Ou fazemos algo que é vergonhoso demais pra mencionar (ficamos olhando em volta com medo de alguém conhecido estar nos observando) ou fazemos algo de forma muito falha, revelando nossa incompetência e impossibilidade de estar ao menos cogitando fazer algo assim...
Em seguida o sentimento do desconforto, em que nos perguntamos por que deixamos tudo isso acontecer, por que mais uma vez fomos pisar em um lugar que não era nosso, que não merecíamos nem contemplar. Ficamos desesperados com as pessoas que nos observam ali, porque parece que todas elas sabem que somos falhos, falsos e indignos... É uma cena que ocorre em vários filmes em que o personagem principal finge ser o que não é, e tenta desesperadamente, durante todo o filme, sustentar sua farsa, somente pra ser descoberto no final, numa cena de muita vergonha e ao mesmo tempo alívio... Sentimos o desconforto de ser uma farsa que pode ser descoberta a qualquer momento...
Incerteza sobre nosso real valor. Alguém como nós (indignos) tem mesmo importância na vida das pessoas? Nós fazemos alguma diferença? Quando nos sentimos indignos esquecemos-nos de tudo o que fizemos de positivo, não nos lembramos de ninguém para quem sejamos importantes. Tudo o que sabemos é que não merecemos estar onde estamos, que somos maus demais, impotentes, incompetentes, inconvenientes e farsantes...
Generalizamos nossa condição. Tudo o que fazemos, e não somente aquele momento, é ruim. A indignidade nos faz pensar que todo ato, que todo trabalho, que cada escolha e cada pensamento nosso é de todo ruim e falso.
Dados estes passos, seguimos negando a condição de recuperação. Seremos sempre indignos e nunca conseguiremos nada de bom. Isolamento é nosso passo seguinte, pois longe das pessoas não seremos olhados com desprezo e nem faremos mal a elas. Depois sentimos dor e abandono. Em seguida depomos as armas e entregamos nossa esperança...
Você já se sentiu indigno? Eu já, e mais de uma vez... Porém, muita gente consegue superar isso. Nos filmes que mencionei quase sempre o final é feliz e quase sempre fica um enorme aprendizado. Nós podemos nos tornar dignos de respeito, mais do que das outras pessoas, de nós mesmos. Basta que pensemos DE UMA OUTRA FORMA. Vamos ver a indignidade não como uma sentença perpétua, mas como estado que deve provocar uma reação positiva que nos faça crescer.
Sendo assim, quando se sentir indigno, para a impressão de que está invadindo um espaço que não é seu, busque desenvolver pertencimento. Sinta-se aceito, acarinhado. Confie no amor das pessoas apesar do que você tem ou faz. Dê um crédito ao amor desinteressado dos que o cercam.
Busque um preparo constante para combater a impressão de estar sendo negligente e procure o conselho de outros. Na multidão dos conselhos existe sabedoria... E quando sentir-se desconfortável pelo que fez, procure seus amigos e diga a verdade. Não mascare seus erros, mas os entregue à correção.
Toda vez que estiver incerto sobre seu valor, procure visualizar o legado que está deixando. Construa e invista em deixar uma herança imaterial firme e sólida, e sempre que estiver tendendo a generalizar toda sua vida como indigna em razão de um erro, de um dia ruim ou de um tropeço, conte com os amigos sinceros para obter reconhecimento daquilo que você realmente é.
Todos nos sentimos indignos as vezes. O que faz diferença na vida de muita gente é o fato de que alguns buscam comprovação para sua situação (e fatalmente encontram) e outros buscam perdão e novas chances... Seja como estes últimos: assuma seus erros, mude a direção. Pense nisto.