sexta-feira, 23 de junho de 2017

O melhor de mim

Eu espero demais dos outros... Não sei se isso é ingenuidade, ou se um misto de necessidades e dependência. Talvez isso tenha brotado de um sentimento não totalmente assumido de carência, de impossibilidade de fazer as coisas sem ajuda, ou simplesmente de algum tipo de solidão. Pode ser ainda que eu quisesse e buscasse complementação através da presença maciça, oportuna e impactante de alguém. Há quem diga que esta expectativa traz decepção, pois os outros muitas vezes não estão (ou estarão) à altura de minhas exigências sobre o que devem ser e fazer por mim. Outros dirão que é simplesmente egocentrismo. Eu, porém, tenho pensado sobre isso DE UMA OUTRA FORMA.

Explicar e definir claramente o porquê de esperar tanto dos outros era para mim tarefa complicada. Costumava dizer, pensando em minhas necessidades, carência, dependência e solidão, que a razão de tanta cobrança seria talvez, o efeito conjunto deste misto de emoções e sensações. Minhas expectativas eram fruto de simples anseio. Mas logo depois vinha uma convicção de que isso poderia não ser nada disso, pois na maior parte do tempo eu não me sentia incompleto, nem carente e muito menos dependente ou solitário, deixando como alternativa explicativa a crença de que de alguma maneira eu teria adquirido o direito a ser colocado em primeiro plano, mas isso não me parecia muito plausível. Quem sabe, então, um pouco de cada coisa? Desejo e direito... E estas eram explicações dignas de quem não tinha a menor ideia das razões que sustentavam o desejo intenso por exigir o melhor que outros tinham a oferecer...

Mas o fato é que eu tinha, e ainda tenho fortes expectativas quanto aos outros. Ainda hoje eu espero muito que as pessoas SEJAM o que desejo, que FAÇAM o que preciso e que TENHAM a minha disposição tudo o que é necessário para realizar meus sonhos. E espero ainda, que estejam plenamente dispostas a me concederem tudo isso sem pensar duas vezes. A diferença entre estas minhas expectativas de hoje e do passado, é que agora tenho certeza do porque posso ser assim tão exigente.

Entendo que isso coloca sobre mim, quem sabe na visão de uma grande maioria, uma aura de arrogância egoísta. Ao que parece, ao exigir muito das pessoas, demonstro não me importar muito com os desejos, necessidades e sonhos dos outros, desde que sirvam aos meus propósitos. Da forma como isso é dito, realmente muita gente pode pensar que sou um tremendo egoísta, interesseiro e também um egocêntrico arrogante, por pensar que todos estão no mundo apenas para atender minhas demandas. Vou procurar então, em minha defesa, e mais uma vez, explicar isso DE UMA OUTRA FORMA...

Na verdade, esperar o melhor das pessoas e criar uma expectativa positiva sobre receber ajuda, ser cuidado, apreciado e servido por outros me incomodava bastante. Eu julgava que isso era ao mesmo tempo que um enorme sinal de dependência (que indica fraqueza e incompetência), uma atitude irresponsável, egoísta e que revelava uma pessoa fraca e acomodada. Para muitos de nós, ser independente e fazer as coisas por nós mesmos é um sinal de força, de sucesso. Fomos criados assim! Nossos pais diziam isso o tempo todo, e a escola nos ensinava isso no exercício paradoxal de viver como indivíduo independente em uma coletividade que era incentivada a partilhar e cuidar dos seus. Depender dos outros, ainda que aceitável na infância, não era algo que desejássemos para a vida toda...

De forma complementar, talvez para a maior parte das pessoas, esperar que os outros nos sirvam em tudo é algo no mínimo vergonhoso. Embora tenhamos ouvido muitas vezes o valor que devemos dar aos outros, e tenhamos aprendido desde cedo a regra de ouro (fazer ao outro o que esperamos que ele nos faça), e tenhamos crescido com o adágio do “melhor é dar do que receber”, muito dentre nós dificilmente nos colocávamos na outra extremidade, como recebedores de dádivas.

Entendíamos, de alguma forma, que aquilo não se aplicava a nós. Eu, pelo menos, por muitas vezes, pensava assim. Me sentia desconfortável ao perceber que dependia de ajuda. Devia fazer por mim mesmo, afinal era o que se esperava de alguém adulto e responsável. Tudo bem se eu ajudasse outros, mas eu precisar de ajuda, de indicação, de apoio, muitas vezes me trazia um incômodo sentimento de frustração, muito embora eu soubesse, paradoxalmente, que receber apoio e ajuda era desejável e oportuno...

De onde vinha este sentimento? Acredito que de nossa vivência em um mundo extremamente competitivo, com valores distorcidos. Aprendemos isso dia após dia em nossa infância, entre as broncas dos pais, a severidade dos professores ou os desafios e chacotas dos colegas. Talvez um pai mais severo dissesse algo do tipo “não criei você para ser um parasita”, ou numa visão menos agressiva, mas que transmite a mesma ideia, ouviríamos alguém dizer “faça a sua parte”.

Normalmente, ninguém alimenta a ideia de uma dependência consentida, e muito menos estimulada. Talvez, em justa medida, para muitos de nós, o esperado é que, minimamente, nos ajudemos mutuamente, com toda a força de significado que a palavra apresenta: devemos viver relacionamentos de troca. Não se pode “dever” algo a alguém sem fazer alguma coisa em troca... Nem dependência, nem independência, mas interdependência. A ideia subjacente era a de que uma corrente é tão forte quanto seu elo mais fraco. A mensagem, portanto, era: seja forte.

Hoje, este tipo de raciocínio, até certo ponto politicamente correto, não me incomoda mais. Reconheço que esta forma de pensar que privilegia a independência e a interdependência tem sim sua aplicação e seu valor, principalmente se vivenciada com equilíbrio. Mas sei agora que também que existe uma possibilidade diferente de entendimento e aplicação. E hoje espero muito dos outros, em todos os aspectos, sem medo de ser taxado de dependente, egoísta ou egocêntrico. Eu espero muito de todos, e bem mais daqueles que são próximos a mim.

Espero muito dos que são meus conhecidos, e espero algo mais daqueles que são meus colegas, sejam de estudo ou de trabalho. Espero muitíssimo de meus amigos. Espero algo como que uma doação ampla, uma entrega total e profunda, além de uma consideração absoluta de meus familiares. Espero que todos, gente de longe e de perto, se importem comigo, que me tenham em alta conta e que se esmerem em me ajudar, apoiar, alegrar, proteger e servir sempre, independentemente de minha condição, merecimento ou desejo de retribuição.

Antes de dizer porque fico tão à vontade com estas expectativas, gostaria de dizer de forma ainda mais ampla o que espero das pessoas, porque acredito que esclarecer isso será importante para a compreensão da mensagem que desejo passar. Sendo assim, espero que as pessoas, de forma geral, sejam:

Dignas
A ideia básica do que desejo é a que vem do latim DIGNITAS, se referindo ao que tem valor, transmitindo uma visão de alguém que é valioso, adequado, compatível com os propósitos nobres. Pesquisei as raízes etimológicas indo-europeias, e descobri que  dignidade está vinculada com o exercício da docência e do decoro, ou seja,quem é digno tem potencial para ensinar dignidade por viver exatamente o que ensina, o que transmite.

A pessoa digna exala merecimento. Ela é correta, elevada e generosa. Revela em seu porte honradez, integridade e justiça. São pessoas sérias em seu proceder, e por isto respeitáveis. Elas evocam nosso louvor apenas com sua presença. Preciso que estejam ao meu lado pessoas exatamente assim.

Homens dignos são valorosos, preparados, adequados ao ambiente e ao contexto moral. Eles são sensatos e tem atitudes apropriadas em todas as ocasiões. Estão sempre prontos para o que for preciso e são qualificados não só por saber fazer, mas por desejar fazer o que é necessário e correto. Por esta razão vivem exalando eficiência verdadeira no que fazem. São pessoas que nos fazem dizer em nosso íntimo que eles valem a pena.

As pessoas deveriam buscar por sua dignidade. Trata-se de reconhecer os direitos que têm... Pessoas que se deem valor, que reconheçam que possuem potencial, força e origem que lhes possibilita serem respeitadas. Que vivam do modo como foram criadas, a altura dos ideais de sua formação e origem.
Eu espero, portanto que aqueles que convivem comigo exerçam sua liberdade de escolha no mais algo grau, e que saibam entender as recompensas e consequências elencadas em cada uma de suas decisões.

Reserve um tempo e leia na Bíblia, em Mateus 10:11, como a questão da dignidade era um indicativo relacional dado por Jesus para seus discípulos, e como a falta dela impossibilita a presença das pessoas em lugares especiais, conforme Mateus 22:8. Existem tantos outros textos bíblicos que tratam desta questão, indicando o quanto ela é relevante.

Quando as vejo sendo, fazendo e obtendo menos do que a dignidade delas exige, fico frustrado, triste e zangado. Não é desamor, é desapontamento. Um lamento triste, e muitas vezes mal expresso, de minha desaprovação por não escolherem viver a altura do que realmente são e do que preciso que elas sejam. Não posso esperar nada menos do que isso.

Disponíveis
Considero um direito meu, e direito inegociável, ter a atenção total das pessoas que me cercam. Quero presença e companhia exclusiva sempre que desejar. Para mim e por mim, as pessoas devem ser acessíveis, livres de qualquer outro assunto que não sejam os meus. Desimpedidos, para passar o tempo que for necessário comigo, prontos a me auxiliar, ouvir e entreter. Devem estar próximos, ao alcance, no meu tempo, de forma totalmente exclusiva.

Estar disponível implica em oferecer atenção focada. Uma pessoa disponível é presente e abstrai do próximo aquilo que é necessário, o coloca em contexto, demonstra interesse sincero em ouvir e mostra claramente ter prazer na companhia do outro. Espera-se que pessoas disponíveis nos considerem em cada plano e nos coloquem sempre em sua agenda.

Desejo pessoas que estejam presentes em minhas datas especiais, que se lembrem de meus gostos e desejos por antecipação, que venham a minha casa, que compareçam em minhas festas, que se apresentem em meus momentos de dor, que me apoiem em minhas lutas e que tomem posição decidida ao meu lado quando estiver certo. Desejo também que me apoiem de igual modo em meus erros, tanto me ajudando a corrigi-los como me confrontando com firmeza equilibrada que brota da dignidade que tem e da ternura que carregam no coração.

Tenho como desejo que as pessoas tenham a firme convicção de que devem me apoiar ativamente em meus projetos, trabalhos e sonhos. Não basta, e nunca bastou, dizer que estão comigo. Espero que as mangas sejam arregaçadas, e que viabilizem todas as possibilidades para que tempo, talentos e recursos sejam oferecidos a mim. Nada menos do que isto pode caracterizar alguém realmente disponível.

Competentes
Eu espero sinceramente que as pessoas me ofereçam o que possuem e o que fazem de melhor, e espero que façam da melhor e mais eficiente maneira possível. Nada de amadorismo, e de oferecer algo de pouca monta, de baixa qualidade. Eu espero que as pessoas me supram em minhas necessidades e anseios com extremada competência.

Quando as pessoas entram em minha vida, elas devem demonstrar um imenso talento, fazendo as coisas com maestria e tornando meus dias melhores. Espero que elas tenham um saber amplo, profundo e atual, para me dar as respostas de que tanto preciso, me convencendo pela razão e pela emoção.

Espero que as pessoas sejam cheias de cultura, bem preparadas para toda e qualquer situação, que enfrentem as questões difíceis e amargas com calma, orientação e bom humor. Não posso admitir que não tenham um profundo conhecimento sobre o mundo, sobre si mesmos e principalmente sobre mim.

O indivíduo competente é informado, esclarecido, consagrado. Sabe discernir e compreender o momento e os movimentos da sociedade. Ele sabe administrar seu tempo, os recursos e tem sempre um plano alternativo. Quero em minha vida pessoas que apresentem um alto grau de competência, e mais, quero vê-los apresentar resultados excelentes.

Pacientes
Dignidade, disponibilidade e competência  são qualidades marcantes, mas podem se converter em fatores estressantes para mim, caso estas pessoas não considerem meu ritmo. Eu espero, e não sem razão, que todos sejam extremamente pacientes em todos os aspectos, sobretudo no que diz respeito a mim. Quero que tenham calma quando eu tiver que agir, e que tenham pressa em atender quando eu precisar. Isso demonstra, para mim e para meus interesses, um equilíbrio perfeito.

Para que minhas expectativas quanto aos outros sejam atendidas, espero que que meus parceiros na vida saibam alterar seus passos para andar ao meu lado, no meu tempo e velocidade. Eu preciso saber que sou eu quem determina o tom.

Quem vive no sagrado círculo dos meus relacionamentos deve saber entender meus momentos e ser perdoador, considerando com carinho minhas falhas, e ser conciliador, de forma a não afetar nossa relação. Afinal, ser calmo, em todos as situações, é o que vai garantir a harmonia necessária para que eu fique bem, apesar dos meus erros.

Uma pessoa paciente, que exerça o autocontrole na medida precisa de minha necessidade, será dotada de um enorme desejo de unir as partes, não só sendo paciente comigo, mas ajudando outros a entenderem que também devem demonstrar paciência em igual medida quando o caso em questão envolver a minha pessoa, meus desejos e meus eventuais tropeços. (Isto parece arrogância?)

Talvez a característica mais interessante no comportamento paciente que espero dos outros seja a capacidade de ceder. Preciso que seja assim quando meus sonhos, aspirações e desejos estão em pauta. Na divergência de opiniões, alguém tem que ceder, e eu espero que considerando minha alegria, este alguém não seja eu. (Muito egoísmo?)

Íntegras
A melhor definição que conheço, diz que a palavra integridade aponta para os princípios imutáveis que regem o mundo. A pessoa integra, inteira, total está ligada a estes pontos eternos, universais e justos, e exprime um desejo de viver a altura deles. Integridade é principalmente uma escolha por viver cotidianamente da melhor maneira possível.

Então, espero que quem convive comigo seja assim. Que nunca tenham qualquer dúvida sobre o que fazer nas mais conturbadas situações. Farão o que é certo apesar do medo, do prejuízo pessoal, da pressão social, da força limitada, do abandono da vontade própria. Quero me beneficiar ao máximo da companhia de gente assim.

Sei que não mentirão, que não me ocultarão verdades, que não hesitarão em abrir mão de seus interesses por meu bem-estar. A integridade que espero de todos os que me cercam me garantirá tranquilidade, pois quem é integro potencializa ao máximo a disponibilidade em servir, que apresentamos há pouco, além de me dar segurança pela extrema autenticidade de todas as informações e sentimentos que partilhará comigo.

Espero integridade das pessoas que me cercam para que me conheçam profundamente sem revelar meus segredos. Para que me apoiem em meus planos sem almejar dividir os ganhos. Para que ouçam meus desabafos sem compartilhar meu destempero. Para que me auxiliem em minha fraqueza sem alardear minha fragilidade.

Não abro mão de uma total e profunda integridade em quem está em minha vida. Transparência, credibilidade, imparcialidade, confiança e conduta moral que ultrapasse a norma rasa do senso comum e a ética amorfa e fingida dos insinceros. Dignidade, disponibilidade, paciência e competência vividas em uma absoluta integridade são elementos essenciais com os quais não posso transigir.

Admiráveis
Uma pessoa admirável é aquela que pode surpreender, causar espanto. Ela pensa e age de um modo tão singular, tão além dos padrões, que acaba por despertar estima e respeito. Pessoas admiráveis nos surpreendem com sua presença e ação de uma forma única, e esta surpresa é tão positiva que causa prazer. Estas pessoas despertam em nós o desejo de aplaudir o que são e o que fazem. E mais, o que fazem é sempre algo em vai ao encontro de minhas expectativas, mas que de maneira surpreendente, superam o melhor que posso esperar.

Uma pouco mais de pesquisa: admirar, etimologicamente, vem das partículas ad e mirar. Ad significa aproximação no tempo e espaço. Mirar é originado de mires e quer dizer “digno de contemplação”. Então, admirar é se aproximar do que é merecedor, e investir tempo em contemplação para apreender seu valor. Quero pessoas admiráveis em minha vida.

Encantadoras
Acredito que você já ficou encantado em muitas ocasiões. É algo positivo, que nos tomando pelo olhar, remete ao nosso coração um conforto e uma sensação de paz e alegria. Ficamos encantados com aquilo que é belo, com aquilo que é revelador, com o que é abundante e pleno.

Pessoas encantadoras, são portanto, aquelas que nos fazem vislumbrar a perfeição. São dotadas de amor puro, de saber leve, de beleza interior inspiradora e calmante, e que possuem uma fortuna (sorte) imaterial que nos acalenta e conforta. São encantadoras porque nos furtam à realidade e nos proporcionam um gosto de realização, quietude e aceitação.

Diane de pessoas assim, ficamos embasbacados, boquiabertos, perdidos em uma contemplação serena, sem vontade de ir embora, sem força para fazer qualquer outra coisa que não seja desejar mais e mais da presença e da sabedoria calma que exalam delas. Segundo um personagem que admirou a beleza encantadora das princesas idealizadas nos contos antigos, contemplar um ser admirável e como contemplar a face do próprio amor.

E estes são os sete pontos, as sete virtudes essenciais, que fecham minha descrição do que espero das pessoas que me cercam. Depois de explicitar minha lista de exigências em relação aos outros, você pode achar que estou exagerando, e muito. Mas pergunto com toda sinceridade do mundo: eu poderia exigir menos? E mais: eu poderia exigir menos quando o que está sendo colocado é o exercício de conceder e receber amor?

Quando falo de amar uma pessoa falo de um investimento gigantesco. Amar o outro envolve meu tempo, meus talentos e meus recursos ganhos a duras penas. Amar coloca tudo o que é meu em jogo. Todos estes recursos ficam inteiramente comprometidos na ação de me doar ao outro. Além disso, amar de verdade envolve todo o meu ser, meus gostos, meus sentimentos, meu corpo (saúde). Tudo fica envolto no exercício de amar.

Então, se vou amar alguém, e se vou fazer isso de forma ampla e por inteiro, eu desejo que as pessoas que eu amo possam suprir meus anseios de forma equivalente... E mais do que isso, integralmente...

A razão de me sentir a vontade com isso? Foi uma ordem de Deus para todas as pessoas próximas a mim. Deus disse que deveriam me amar como a si mesmos, e mais, deveriam me amar com Ele me ama (João 13:34). Não posso esperar menos de ninguém!

Pense comigo DE UMA OUTRA FORMA. Trabalhe uma mudança de foco: a questão não é que eu seja muito exigente, mas o fato de que talvez “o outro” seja pouco interessado, esforçado ou desejoso de mostrar e de dispor do seu melhor. O ponto em voga não é que eu queira muito, mas o fato do outro oferecer tão pouco... Se fizermos uma análise sincera das potencialidades latentes, da extensa capacidade de quem amamos, veremos que recebemos muito aquém do que o exercício do amor contempla. E acabamos por fazer o mesmo...

Temos um tesouro tão rico dentro de nós, e oferecemos migalhas aos outros. E isto por estarmos voltados demais para nós mesmos... Por outro lado, podíamos pedir, e porque não até exigir o melhor dos outros? Mas ficamos acomodados, não satisfeitos, mas acomodados mesmo com o pouco que recebemos, sem exigir mais... E este exigir não é uma ação impositiva, agressiva, mas um recusar calmo daquilo que não seja o melhor.

Não estamos sabendo ofertar e também não sabemos pedir... Precisamos entender que o amor não é exercício de troca, mas de oferecimento extremo do melhor que há em mim, de forma tão pungente e tão pujante, que desperte no outro o mesmo sentimento de oferecer o melhor de si: isto é reciprocidade. Deus nos ama intensamente, e por isso exige de nós uma resposta a altura.


Amar é um exercício complexo, que exige muito. Só quem é digno, só quem é integro, só quem entende o valor da dignidade humana está em condição de amar verdadeiramente. Deveríamos
tomar duas atitudes em relação ao amor: amar intensamente, e exigir o melhor do outro como resposta positiva ao seu ato de amor, provocando uma espiral ascendente de crescimento mútuo. Pense nisto.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Como vou respeitar meu filho

Filho, está na hora do almoço. Do alto de seus três anos de idade, ele olha pra mim e diz, sem perder o foco do que está fazendo – “Non, non, non. Muito obidado”. Ele é um garotinho cheio de atitude. Me encantam as posições firmes e decididas do meu pequeno. Ao chegar de um passeio ou ao retornar da igreja pra casa, paro o carro e a mãe diz “Chegamos!”, ao que ele responde prontamente: “Non quéio chegamos”.
A tenacidade aumenta proporcionalmente ao aumento do vocabulário. Agora, quando quer algo ele diz, “Pai, eu quero muuiiiiiiito”, com toda esta ênfase, e termina a frase com um “por favor” tão suplicante que fica difícil resistir. Quando o filho diz apenas um “vamos jogar bola”, assim num tom mais imperativo do que convidativo, talvez seja mais fácil para um pai apaixonado dizer um “agora não”. Mas quando ele usa de uma estratégia doce, (que eu não sei onde aprendeu) e diz “Papai, você pode jogar bola comigo, por favor?” é bem mais difícil recusar... E esta frase ele diz assim mesmo, com a correta pronúncia de todas as palavras, e isto dito em sua voz infantil, adquire um tom de carência com enorme poder de convencimento.
Outro dia, ele pediu várias vezes para passear. Dissemos a ele que não era o momento, e que depois iríamos. Mas ele não se deu por vencido. Pediu, e usou o recurso do “eu quero muiiiiito”. Não funcionou. De cabeça baixa, ele usou o “por favor”. Também não deu. Alguns minutos depois ele disse assim: “Papai, quéio fazê Papai do céu.” Meio que admirado e feliz, respondi que sim, e que bom que ele queria orar. Me ajoelhei com ele, perto da mãe e de alguns amigos. E ele orou assim:
- Papai do Céu, eu quero passear. Amééém!
Tive que reconhecer que meu pequeno sabe a quem pedir as coisas. Percebi também que ele já está dominando a arte do “como pedir” e do “momento certo”. Não me pareceu, em nenhum momento, uma chantagem, mas sim a perseverança de um garotinho que deseja algo muito, e que ainda não conhecendo nada sobre conveniência e convenções sociais, luta por aquilo que quer.
As posições firmes de meu filho e suas vontades e desejos perseguidos com afinco foram gatilhos que me fizeram pensar na enorme responsabilidade que tenho, enquanto pai, educador e amigo, de respeitar meu filho e seu jeito de ser. As decisões dele não são as que eu tomaria. A forma como ele sente o mundo é diferente da minha, e o gosto que ele tem por algumas coisas e por algumas atividades não são sempre os mesmos que eu tenho. E justamente por causa destas diferenças devo respeitá-lo para não sufocar sua identidade. Preciso ensinar a ele limites, coerência, caminhos, ética... Mas preciso fazer isso respeitando a pessoa única e determinada que ele é. Então, me veio à mente a pergunta crucial: Como vou respeitar meu filho? Procurei pensar numa resposta ampla, profunda e verdadeira, buscando em Deus sabedoria para esta missão. Como é minha proposta pensar em questões como esta DE UMA OUTRA FORMA, quero dividir com vocês o que consegui construir em dez pontos-chave. Vamos lá?

1.      O primeiro ponto é entender, ainda que minimamente, a palavra respeito. De forma geral, por definição, respeitar é tratar uma pessoa com reverência ou acatamento, e mesmo honrar o que ela é, representa ou faz. Quanto respeitamos, damos atenção ou importância, consideramos o outro. Também por definição, entendemos o ato de respeitar como não agir contrariamente a uma decisão, orientação ou regra que são, ou estabelecidas pela cultura, ou pelos outros dentro de seus direitos, ou ainda negociadas e acordadas entre partes. Respeitar, portanto, é acatar, e por isso, agir de modo que nossa ação não fira e não magoe alguém ou destrua alguma coisa. Ter respeito (e oferecer respeito) é admitir o valor. É bem diferente de tolerância, de suportar os desmandos e descasos intencionais de outros, mas de entender que eles têm direito e espaço para tomar decisões pessoais, mesmo que consideremos que estejam errados ou em desacordo com nosso entendimento do que é correto, e que entendamos que sofrerão consequências. Isso não nos impede de admoestar, de alertar e de até mesmo coibir e punir, quando dentro de nossas possibilidades e entendido como nossa responsabilidade de oferecer proteção e correção (no caso dos pais e tutores). Isso porque respeito tem ligação com fidelidade e compreende as noções de confiança e de agir honestamente. Também tem ligação com relevância e com a consideração. A etimologia sugere, em sua raiz vinda do Latim, a ideia de que uma pessoa merece um segundo olhar ou tem qualidades que devem nos levar a uma atitude de consideração e reverência. É assim que desejo respeitar meu filho.

2.       Respeitar como parte de mim. Todos merecem respeito, e quanto mais aquele que é mais passível de ser magoado por minhas ações por ter uma ligação tão próxima comigo. Entendo que numa relação pai e filho, o respeito ao filho é uma extensão de meu respeito próprio. A afirmação de meu valor, com estima equilibrada, a compreensão de minha importância como pessoa, a busca honesta da realização de meus sonhos e a correta visão de meus direitos e deveres e, por fim, a crença sincera de que sou amado por Deus e por minha família me capacitam a respeitar meu filho como a pessoa completa que ele é. Assim como não gosto de ser ferido, contrariado, magoado ou desconsiderado, não farei isso a ele. Ainda mais quando os motivos forem tão pequenos, como um brinquedo esquecido no chão da sala ou um pouco de suco derramado no sofá. Em função da ligação forte entre nós, seguir a regra de ouro é essencial: respeito meu filho como gostaria de ser respeitado. Como ele é parte de mim, se não o respeito também sofro, em mim mesmo, o desrespeito que ele sofre.

3.       Ritmo e Resignação são dois aspectos muito importantes para que meu filho seja respeitado devidamente. Independentemente de ser criança, meu filho tem (e sempre terá) seu ritmo próprio para aprender e agir. Um de meus maiores desafios enquanto pai é o de andar no mesmo passo enquanto estiver ensinando. Ele às vezes vai depressa demais, e eu quase não consigo acompanhar seu ritmo alucinante quando brinca, conversa, interage e se desenvolve. Outras vezes as coisas me parecem lentas demais, e sou tentado a “empurrar” meu menino em um aspecto ou outro (o que acaba sendo frustrante para ele e para mim...). O melhor que posso fazer é estar resignado quanto a isso. Resignação não é acomodação ou desistência, mas um tipo especial de paciência que devemos desenvolver e que se aplica na espera, com calma, diante das dificuldades e na aceitação, com dignidade, das impossibilidades. Quando olho para meu filho brincando do seu jeito (tão diferente do meu), aceito com resignação seu ritmo e seu estilo, e passo a entender que amo meu filho (o que ele é) muito mais do que meus sonhos de como ele deveria ser. Isso, conforme entendo, é respeito.

4.       Entender bem os limites e o espaço é um ponto diretamente ligado ao fato que acabamos de discutir sobre o ritmo, porque tem ligação com a potencialidade e individualidade de meu filho. Quando falo de limites, me refiro não só a colocarmos termos para o que pode ou não pode ser feito, mas também aos limites impostos a ele por sua compreensão e maturidade, limites estes que devem ser ampliados constantemente, tanto de forma natural como através de estímulos e investimento dos pais no desenvolvimento das crianças. Em função destas limitações da maturidade, não estou verdadeiramente respeitando meu pequeno se lhe imponho um castigo por coisas que ele ainda não compreende, que estão fora de suas concepções de bem-estar, de decoro e de sociabilidade. Como posso me zangar e me frustrar com um almoço demorado e comida espalhada em volta do prato, da mesa e em suas roupas, quando ele ainda está lutando para obter uma coordenação motora que levei anos para desenvolver e ainda não domino perfeitamente em muitas ocasiões? Não há respeito de minha parte em descarregar minha frustração e raiva por brinquedos espalhados e eventuais paredes riscadas, pois afinal de contas, meu filho é uma criança! Não posso castigar uma criança por ser criança. São limites (diferentes daqueles que impomos pela segurança e pela conveniência social e boa convivência) que meu filho ainda não consegue vencer. Entender isso (e esperar que ele amplie seu domínio) é respeitar. E isso envolve o espaço que ele ocupa, seus locais de exploração e de vivência. É neste espaço que ele experimenta as sensações, que ele treina sua movimentação e onde tem o direito de errar, quebrar, retornar e se acomodar. Meu filho precisa de espaço para ter seus pertences, suas coisas e praticar suas ações (como criança ou como adulto). É neste seu lugarzinho no mundo (que pertence a ele), que pode ser representado por um quarto, um cantinho da casa ou um baú de brinquedos, que os limites de compreensão e maturidade são ampliados, e aqueles outros limites, os de segurança e comportamento são estabelecidos. Pisar neste espaço com cuidado, como convidados e não como invasores, é um ato de respeito que todos os pais devem cultivar.

5.       Sentimentos e sensações são, indiscutivelmente, um ponto onde o respeito deve ser efetivo. Todos temos o direito de gostar e não gostar. No que diz respeito às pessoas, embora o imperativo do amor seja essencial para uma vida plena de significado e de ligação com Deus, meu filho precisa aprender isso através de exemplos e com o tempo. Não o estou respeitando quando peço que ele demonstre apreciação forçada por alguém que o deixa desconfortável naquele momento (ainda que seja um tio querido ou a vovó) ou quando exijo que passe tempo ou interaja com meus amigos como se fossem os amigos dele. Da mesma forma não demonstro respeito quando faço críticas à sua tristeza ou decepção por “coisas pequenas demais” ou quando desaprovo seu apego ou estima a um colega de escola ou a uma professora querida. Ele deve poder expressar e direcionar seus sentimentos com liberdade. Assim como deve ter liberdade para vivenciar suas sensações negativas de medo, insegurança e desconfiança tanto como esperamos que ele vivencie as boas sensações de prazer, realização e entrega.

6.       Considerar com cuidado a questão dos princípios faz parte do processo de respeitar meu filho. Este é o ponto que revela a visão maior que devemos ter quando falamos de respeito. Princípios são as leis universais, inegociáveis e imutáveis que devem funcionar como nossa bússola interna. Orientado por eles conseguimos verdadeiramente discernir entre certo e errado e viver uma ética profunda e profícua. Quando me oriento por princípios sólidos, como Deus deseja que eu faça, é quando estou em melhor condição para respeitar aos outros. Pais orientados por princípios não respeitam seus filhos apenas por norma e condicionamento, mas por fé e amor, oferecendo a eles um respeito maduro, centrado em uma proficiente filosofia de vida que garante pleno desenvolvimento de suas potencialidades. Em suma, quem não é respeitado de forma verdadeira (por princípio), terá imensa dificuldade em crescer, em se desenvolver, em se respeitar e, consequentemente, respeitar aos outros. Não quero isso para meu filho, por isso eu luto para respeitá-lo profundamente.

7.       Respeitar educando e ensinando. É um ponto ativo, já que nossos filhos precisam ser orientados e apresentados aos princípios. Eles precisam aprender a identificar estes princípios, e também devem ser iniciados na disciplina do respeito: devem aprender a respeitar na prática. Isso é um processo, então pode começar de forma procedimental, demonstrado nos pequenos gestos, no aprender a falar baixo em certos ambientes, no cumprimento cortês, muitas vezes ensaiado, nas palavras de agradecimento esperadas em retribuição a uma gentileza, até que interiorizado se torne um comportamento habitual, desejado e valorativo. Precisamos ensinar nossos filhos a escolher como agir, e não apenas a reagir. Eles precisam saber escolher e precisam aprender a entender o mundo. Faremos isso melhor através de exemplos e por preceitos sólidos. Ensinar respeito é ensinar mutualidade, conceito que hoje escapa à compreensão de nossos pequenos, mas que amanhã será um dos maiores recursos para que sejam felizes e plenos. Eles respeitarão e cobrarão o devido respeito de forma firme e educada porque foram educados por pais respeitosos. Desejo viver esta realidade, e você?

8.       Cuidar das intenções e inclinações. Eu as tenho em uma medida e meu filho em outra. E lidar com a intencionalidade é algo melindroso. Nossas ações (ou o resultado delas) nem sempre afirmam a intenção que as motivou. Já sabemos bem o que dizem por aí sobre as boas intenções... Mas, por outro lado, é muito importante trabalhar bem a questão da intencionalidade em relação aos filhos. Quando julgamos conhecer as intenções do outro podemos errar grandemente. Nenhum pai deveria pensar que o filho erra e cria algum tipo de situação problemática com a intenção de fazê-lo. Não quero e não vou pensar que meu filho está fatalmente inclinado a ser desobediente, arrogante, irresponsável... Claro que errar sem a intenção não minimiza o erro e nem atenua as consequências, mas entender que muitos erros acontecem por inexperiência, por falta de orientação ou mesmo por pouca consideração das consequências (que é normal nos mais jovens) ajuda a trabalhar a correção e o aprendizado que os erros trazem com uma mente mais aberta e um coração mais tranquilo. Tenho procurado afirmar a meu filho seu caráter positivo e suas melhores características enquanto o corrijo em seus erros e desmandos. Quando ele me desobedece não digo “Puxa, como você é desobediente.”, como quem vaticina que ser desobediente é seu destino, pois é essencialmente o que ele é. Ao contrário, digo que aquela ação me entristece e desagrada, e que não combina com ele, justamente por ele ser um garoto bom e obediente. Tenho entendido que atribuir a ele uma intencionalidade e uma inclinação prévia para a desobediência ou para o mal, e julgá-lo sem ouvi-lo é um ato de desrespeito que não quero cometer enquanto pai apaixonado...

9.       Considerar o tempo atual (momento do tempo em que vivemos) e sua diferença gritante com o passado é essencial para que exista respeito verdadeiro entre as gerações. A época em que meu filho vive traz consigo uma cultura (jeito de vestir, fazer, conhecer e sentir) e uma visão de mundo que lhe fornecerão percepções bem diferentes das que eu tive quando tinha a idade dele. Isso implica em que, por muitas vezes, aquilo que me encantava enquanto menino (brinquedos, atividades, lugares, histórias...), pode não ter efeito semelhante sobre ele hoje. Ficar dizendo “no meu tempo” e tentando fazer com que meu filho sinta e viva da mesma forma, representa não só uma incapacidade de me conectar integralmente com o momento atual, como também um desrespeito ao fato de que meu filho é um ser do presente, com uma verdade presente, mais ampla e mais completa do que aquela que me servia de orientação. Sou eu quem precisa de ajuste com o tempo de hoje, e não ele quem deve ser ajustar com o tempo de ontem. Uma coisa é aprender com as lições do passado e com a história (e transmitir isso aos filhos) outra coisa é viver no passado, em desajuste com o contexto. Assim, (vivendo no presente) todos os muitos anos de minha vivência podem ser um fator de auxilio no meu relacionamento de pai e educador, que tem experiência de vida, me fazendo respeitar meu filho. Caso contrário, viverei em conflito por insistir em viver em um tempo que já não existe mais. Preciso respeitar meu filho no tempo em que ele vive, sem medo das mudanças, pois estaremos ancorados na solidez dos princípios.

10.   Respeitar embasado no AMOR (expressar amor com respeito e demonstrar respeito com amor) será um ato que trará muita satisfação e muito aprendizado. Com base nisto meu filho aprenderá a viver uma troca saudável, entre ele e os outros, de admiração, cortesia, amabilidade e proteção.  Sendo respeitado em amor meu filho aprenderá a praticar a mutualidade. Fazendo isso, ele estará cumprindo a regra de ouro que Jesus ensinou no sermão do monte (Mateus 7:12), algo tão sublime e necessário à vida plena e alegria. A regra de ouro é um tesouro conhecido e reconhecido por todas as religiões e filosofias de vida plena, e é resultado direto e ao mesmo tempo ação prática do RESPEITO. É assim que quero respeitar (e ensinar) meu filho.

Resiliência e respeito próprio. Se eu não respeito meu filho desde sua mais tenra infância ele pode acabar não respeitando a si mesmo. Se algum pai não praticou o respeito desta forma, precisa recuperar seu respeito próprio e devolver aos filhos todo o respeito que eles sempre mereceram...
E já que falei em merecer, devo dizer que não sei se concordo plenamente (ou se concordo de alguma forma) com a ideia de que meu filho deve conquistar meu respeito. Penso que nascemos merecendo respeito. Assim, entendo que meu filho não precisa conquistar nada. Como pai, eu devo respeitá-lo. O amor que sinto por ele já deve garantir a meu filho todo o meu respeito. Visto desta forma, respeitar é uma escolha consciente que faço e uma atitude firme que devo seguir ao agir, ao me relacionar e ao educar meu filho. Ser respeitado desde cedo ajuda a pessoa a escolher agir na mesma base em relação a todos os seus relacionamentos, tornando-os mais ricos. Então, meu filho não conquista meu respeito, mas suas ações, quando respeitado e estimulado, conquistarão, a cada dia, minha admiração e ampliarão ainda mais o respeito que decidi dar a ele.

Quando entendi que Deus entregou Jesus em uma cruz para que eu pudesse ser salvo, mas mesmo diante de um sacrifício tão grande e intenso, me permitiu aceitar ou não sua ação em meu favor, descobri um amor incompreensível, e pude perceber como este Deus maravilhoso me respeita, apesar de minha imperfeição. Como pai apaixonado, decidi respeitar meu filho nesta mesma base, tentando imitar ao máximo a sublimidade do amor de Deus por mim. Convido você a fazer o mesmo. Pense nisto.

sexta-feira, 27 de março de 2015

O Amor e as pessoas venenosas

Uma vez ouvi dizer que remédio e veneno podem ter a mesma origem, serem feitos da mesma substância, diferindo apenas na quantidade... Em relação às pessoas (todas elas, incluindo eu e você) no que diz respeito aos atos e atitudes, esta afirmação também pode ser aplicada – ou elas nos curam de nossas feridas com suas palavras e gestos, ou destilam um veneno mortal que pode nos fazer padecer dores incríveis até que venha a morte do sentimento, da relação e mesmo o fim da vida...

Porém, de forma sincera, gosto das pessoas. E procuro gostar mesmo quando “não gosto” delas por conta deste tal veneno. Eu me explico: este “não gostar” torna possível que uma relação inamistosa, que surge em um momento onde atitudes equivocadas são tomadas, crie oportunidades para que eu aprenda mais sobre mim e sobre os outros, e que cresça no entendimento de minha humanidade e necessidades. Pode até ser, neste exercício, que eu descubra motivos que me levem a gostar, de alguma forma, das pessoas de quem não gosto, ou com quem eu esteja magoado, mas com as quais preciso conviver. (talvez uma forma de criar um soro, um antídoto...)

Uma relação assim, com o tempero da animosidade, cria também a oportunidade para que eu supere minhas inclinações e motivações egoístas, e procure conquistar estas pessoas e tê-las perto de mim como amigas, sinceramente, apesar de suas características distintas que não me agradam (ou das minhas que não agradam a elas), transformando positivamente, desta forma, minhas percepções, minha visão, o ambiente e o relacionamento, mesmo que a outra pessoa não mude. Pode até ser que no fundo eu não consiga gostar delas tanto quanto queria (e nem elas de mim), mas vou, com certeza, gostar mais de mim... E tudo isso não é nada fácil.

Trabalhar numa postura de perdoar de verdade, ainda que não seja fácil, é um elemento essencial para que a gente possa gostar. Alguns momentos de dor são causados por palavras impensadas ou por falhas que cometemos uns com os outros, e em muitos casos por diferenças de personalidade e formas distintas de educação. Mas, em outras vezes, a dor é causada por atitudes egoístas e cruéis, tomadas simplesmente pela conveniência própria, desconsiderando outras pessoas e suas necessidades. Isso não torna a pessoa, de imediato, em uma personificação do mal, mas dificulta o gostar. Perdoar, portanto, é uma implicação de nosso dever de amar, mesmo quando o outro está (e continua) procedendo mal.

Devo reconhecer, porém, que existem pessoas com um poder tóxico tão incrível que é preciso ser verdadeiramente muito forte para resistir à peçonha do mau humor, ao azedume das ideias e à amargura das palavras que elas proferem. Estas pessoas convivem conosco e, cotidianamente, emitem opiniões cruéis e impensadas, exalam o odor da não aceitação e, incoscientemente, envenenam a relação de coleguismo ou de amizade pouco a pouco, até matar a confiança e o prazer de estarmos próximos a elas...

Pessoas beligerantes assim, não escolhem adversários nem aliados. Atiram indistintamente em todas as direções, usando a munição das palavras que ferem, dos comentários maldosos, da imposição de suas necessidades e verdades, e muitas vezes nem sabem que estão em guerra com os outros, com aqueles que tentam conviver no mesmo ambiente que elas da melhor maneira possível. Não sabem o porquê de sua amargura e não fazem ideia de que sua visão única e absoluta da “vida” precisa ser urgentemente relativizada...

São vaidosas demais, arrogantes demais, egoístas demais, teimosas demais... Sentimos-nos invadidos, desrespeitados e enganados por elas. Mentem mesmo sem querer mentir, pois sua “verdade” só se aplica a elas, e sua mente só retém lembranças daquilo que lhes convém. Elas nunca ouvem o que é dito, mas sempre o que querem ouvir... São pessoas que se tornam cada vez mais difíceis de gostar... E por incrível que pareça, sempre têm perto de si alguém que apoia (ou parece apoiar) suas atitudes.

Elas podem ser parte da família ou amigos muito chegados, o que torna ainda mais difícil entender o porquê de suas ações equivocadas, sem contar que essa proximidade nos coloca como obrigação o exercício de gostar delas. Ficamos nos perguntando quando elas se tornaram tão difíceis, ou então como nunca percebemos isso... Mas pessoas assim também podem ser ilustres desconhecidos, que nos ferem através de suas ações, indireta e inconsequentemente, o que torna mais fácil ter raiva, desejar que paguem por nos incomodar, retribuir na mesma moeda e até mesmo odiar. Como elas fazem isso? Através de pequenas ações, como furar filas, ocupar duas vagas em um estacionamento lotado, marcar lugares em auditórios nos privando de sentar onde desejamos e temos direito. Elas também conseguem isso sendo irônicas, ouvindo som alto no apartamento ao lado até a madrugada... Centenas de pequenas ações, que não deixam de ter grande importância no final das contas, e que servem de verdadeiro veneno para as relações amistosas, cordiais e fraternas que somos chamados a viver...

Um grande passo que desejo dar é o de me tornar cada vez mais imune a estas pessoas e ao seu veneno. Só assim consigo estar perto delas sem sofrer os efeitos de sua acidez, sem sucumbir ao impacto de seu egoísmo e sem me envenenar com o fel de seus entendimentos e sentimentos equivocados. Só assim conseguirei gostar delas, o que é difícil, e tentar fazer o que é ainda mais improvável: que gostem de mim.

Afirmo que seja improvável que gostem de mim, porque no fundo, todas as características negativas destas pessoas, além de serem em si mesmas um impeditivo para a prática do gostar, são amplificadas pela lente dos meus sentimentos, por minha visão particular de justiça, por meus anseios pessoais e pela visão diminuta que tenho dos meus defeitos. Isso me torna, assim como elas, difícil de gostar. Pessoas tóxicas podem ser apenas um reflexo meu (um reflexo nosso.). Só eu sei o quanto posso ser difícil de se gostar...

Muitas vezes, porém, tudo o que é preciso é um novo olhar. Talvez um olhar mais condescendente, ou quem sabe mais compreensivo sobre os motivos, medos e anseios, visão e até ignorância dos outros. Vendo as coisas DE UMA OUTRA FORMA, talvez possamos fazer algo por nós e pelo próximo.

Ame ao próximo como a si mesmo... Este mandamento divino faz a gente pensar, não é? Em uma visão pessoal, e muito minha, acredito de coração em uma distinção que tem me ajudado muito – a distinção entre AMAR e GOSTAR. Aprendi e passei a entender que amar ao próximo é um princípio, um mandamento. Amar ao próximo é fator de aceitação da graça de Deus, e desejo intenso de ser bom, de ser melhor. Não preciso conhecer intimamente alguém para amar neste nível, e nem preciso achar alguém bonito, simpático, maravilhoso ou ficar embevecido na presença de uma pessoa para amá-la. Amar é exercício prático gerado pela obediência! Amar se traduz em ajudar, em doar, em aconselhar, em alimentar, em disciplinar. Amar é um verbo! Se é verbo é expresso na ação de praticar o bem, de viver o AMOR substantivo que é a expressão do próprio DEUS. Preciso amar meu próximo como a mim mesmo, independentemente de quem ele seja ou do que faça (ou não faça) em relação a mim.

Gostar é algo mais leve, em minha opinião. Gostar implica em desejar estar junto e em ter prazer na companhia. Acontece rápido e pode passar rapidamente, caso não tomemos o devido cuidado. Não é regido por uma lei, e simplesmente acontece. É um ato de considerar algo ou alguém aprazível. Envolve apreciar, sentir que a presença do outro é algo que traz sabor à vida. Gostar envolve admirar sem pretensões e sem cuidado! Gostar faz com que sintamos um misto de saudade, carência, aceitação, desejo de abraçar e de se doar e de desfrutar profundamente tudo isso. Gostar é como o “amor amistoso” e altruísta que a palavra grega Phileo traz em seu significado. Quando gostamos profundamente, o carinho brota, sentimos afeto e afinidade, e passamos a compreender as inclinações e motivações... Amar, enquanto princípio, é ordem, mas o gostar é uma expressão mais leve do amor que, sentido e expresso, acaba correspondido. Precisamos aprender a gostar e a exercitar nossa ação de gostar, para que possamos chegar ao amor perfeito, que nasce do amor mandamento, que internalizado se torna amar (o exercício do amor) em princípio...

Para entender (e viver) o amor perfeito é preciso levar em conta uma mudança de padrão. De amar ao próximo como a nós mesmos, que é mandamento, devemos evoluir para o amar uns aos outros como Cristo amou, que é novo mandamento, princípio aprimorado que não descarta a importância do primeiro, mas o complementa e lhe empresta ainda maior significado. Para mudar o padrão é preciso mudar a mentalidade. Deus amou o mundo (indistintamente) e Cristo nos amou sendo nós ainda pecadores (indistintamente). Não consigo deixar de acreditar que Deus “gosta” de nós primeiramente de forma leve, sentindo o prazer da companhia e o vazio da saudade, e por isso (desde sempre) nos ama em princípio, essência e doação (Porque Ele deu Seu Filho) total.

Diante disto tudo entendo (e novamente deixo bem claro que é um pensamento muito particular, uma opinião, uma ideia pessoal e não uma afirmação absoluta. Esta posição não por base de um estudo profundo, mas é apenas uma tentativa de ver as coisas DE UMA OUTRA FORMA, e posta aqui como um desejo de compartilhar reflexões que talvez ajudem você a tecer também suas considerações e repensar suas necessidades pessoais na área da expressão do amor) que podemos até não gostar de alguns, mas devemos amar a todos. E devemos amar por princípio, de forma intensa e diária, até que no exercício da retribuição, passemos a gostar e a viver o amor verdadeiro. Entendo também que algumas pessoas teremos por perto, tanto por desejo quanto por princípio, porque retribuirão (tento sentido o mesmo que nós) e tanto eles quanto nós seremos transformados por uma renovação de mentalidade e por uma expressão viva de amor e de gosto. Mas, alguns outros (quando chegar o tempo em que as escolhas serão definitivas e irrevogáveis) manteremos longe, ou deveremos fugir deles, como indica a Bíblia, em função do veneno (consubstanciado em falso amor) que escolheram destilar (2 Timóteo 3:5)


No fim, penso que o exercício do amor verdadeiro é primeiramente bom para mim. Ele me transforma de tal maneira, que de forma bem gostosa, passa a ser bom para os outros. Quando isso ocorre em vários corações, temos o dom maravilhoso da retribuição. Pois não é isso que a Bíblia diz sobre o amor de Deus? (1 João 4:19). Pense nisto!

quarta-feira, 18 de março de 2015

Homenagem a quem sabe amar

Vivendo o sonho.
(coisas boas quando se tem irmãos)


Sinceramente eu não sei o que os felizardos que têm irmãs e irmãos pensam ou fazem para agradecer este dom. O que sei é que consigo pensar uma enorme lista de coisas boas que acontecem quando se tem irmãos. Ter um irmãozão do lado, pra proteger e pra contar é algo excepcional! E posso estar errado, mas uma irmã é muito mais cúmplice do que um irmão (salvo as exceções). A alma feminina sabe muito bem como cuidar de um meninão, e dizer exatamente o que ele precisa ouvir, seja um reconhecimento, um conselho ou um bom puxão de orelha. E em minhas observações da vida, vejo que muitos dos felizardos que eu citei acima não estão aproveitando ainda o presente que é ter uma irmã ou um irmão. Queria tentar dividir isto com vocês DE UMA OUTRA FORMA...

            Eu queria ser diferente, e aproveitar ao máximo... Descobri infelizmente, que é uma triste tendência nossa (da espécie humana) não dar valor ao que é mais valioso. De vez em quando, um choque desperta o cérebro, e aí nos corremos pra dar atenção, pra desfrutar da companhia, pra dar e ouvir conselhos, mas logo a gente se envolve com a rotina de novo, e os bons momentos precisam de mais uma descarga elétrica para voltar ao foco. Se eu posso fazer um pedido, será esse: seja a pessoa que liga a chave geral de vez em quando, tá? Não deixe as pessoas que te amam se envolverem com a enfadonha rotina a ponto de  não sair pra tomar um sorvete com você. Ligue a chave e dê um bom choque nelas. Diga “Ei! Eu estou aqui.”  Ligue, grite, passe desfilando na frente delas. Percebi que a gente não deixa as pessoas por que deixa de amar, mas porque ama demais pra julgar que elas um dia possam se afastar de nós... Assim, antes que isso aconteça, dê choques e se ligue na corrente, para que aqueles que amam você e aqueles a quem você ama (e tomara que tudo isso seja uma grande reciprocidade de amor) possam sempre ser eletrocutados, no bom sentido, é claro.

            Por causa destes choques que bondosamente Deus permite que aconteçam, posso viver o sonho, e essa é a melhor parte. Há inúmeras coisas boas em se ter irmãos. Vou mencionar algumas aqui, explicando aquelas que em consigo, e deixando claro desde já que algumas destas coisas boas, eu só consigo sentir. É como aquela história de comer uma sobremesa bem gostosa. Você não consegue descrever o gosto, a sensação que tem com o paladar, mas as pessoas que vêem você à mesa, percebem que você está sentindo a delícia do sabor e que está desfrutando cada colher (e alguns até ficam com uma pontinha de inveja). Assim, posso descrever a beleza de uma paisagem, mas só eu posso sentir o que é estar lá...Bom, então vamos lá. Coisas boas que acontecem quando se tem irmãos:

J Confidência – Não acho que devia ser assim, mas infelizmente o mundo nos condiciona a guardarmos as coisas que não nos fazem bem. Se você demonstra tudo o que sente, se é sincero quanto a suas dúvidas, sem tenta resolver suas mágoas, você foge do padrão. As pessoas ficam atemorizadas com você! Ninguém está preparado para ouvir seus problemas, suas angústias e sua incerteza. E nós aprendemos isso, e bem. Para não parecer fraco, inconstante, anormal, nós guardamos dentro do peito muito do que passamos, e isso muitas vezes dói... Opiniões e idéias também não são fáceis de se mostrar. Os que têm coragem de persistir depois da crítica destrutiva são verdadeiros heróis... Mas a gente precisa tanto de alguém que nos ouça sem pensar que nós e nossas idéias, frustrações, erros e medos são uma coisa só... Precisamos também de alguém que confie em nós, que nos dê de presente, com traços de sua vida, com seus problemas e sonhos, a certeza de ser escolhido. Precisamos que nos façam sentir que temos como ajudar, como participar, como demonstrar amor. Quando alguém nos confidencia algo, ou quando escuta nossas  confidências sem máscaras ou intenções, sem prejulgamentos, estamos ganhando um presente    maravilhoso do céu. Esta é uma coisa fantástica que ter irmãos proporcia:     confidências. Posso ouvir e  posso falar, com plena certeza de que estou diante de alguém que confia em mim e em quem eu posso confiar...

J Companhia – Somente que já ficou sozinho (de verdade) sabe o valor de ter alguém do lado, pra falar sério ou contar piada, pra falar sobre a complexidade da vida ou sobre como está o tempo, ou até mesmo pra rir um do outro ou de algo engraçado que vem à mente, ou mesmo pra ficar ali, sentado sem dizer nada, nada, nada... Aquela companhia ativa, que se envolve, pergunta, comenta, discorda, complementa e incentiva. Aquela presença que conforta, como quando a gente é criança e tem medo do escuro, e grita pela mãe. O escuro continua lá, mas o respirar da pessoa ao lado nos dá a segurança de não estar sozinho. Companhia que antecipa a saudade, e que desperta a ação do dar, do importar-se, do sentir e do envolver. Alguém pra quem ligar e não dizer nada, mas ser ouvido como se dissesse tudo... Alguém pra quem comprar cartões de natal, e pra comprar junto com você os cartões de natal de outros. Presença marcante quando por perto, e presença confortante quando longe, que mesmo ausente é companhia. Vantagens de se ter uma irmãos especiais...
J Ajuda – Mão na massa, na tinta, no papel... Mão que empurra, que puxa, que repreende. Não dá pra fazer tudo sozinho, mas também há momentos em que não se pode simplesmente pedir ajuda. Ela tem que vir, oferecida, insistente e, mais importante, de forma confiável. Meus irmãos tem sido assim, uma ajuda para fazer as coisas acontecerem. E este tipo de auxílio não critica, não condena. Ainda que não entenda bem o nosso modo de fazer, ajuda. Ainda que veja que talvez exista outra forma daquilo ser feito, compreende a importância que o projeto tem, e ajuda. E também, neste sentido, meus irmãos tem sido um presente. E por falar em presente, na questão da ajuda, é uma vantagem poder ser ajudado, mas é ótimo poder ajudar e com isto sentir-se útil. Coisas boas de se ter irmãos.
J Referência – Não é bom estar perdido, e entre as sensações pouco agradáveis desta vida, não ter ideia de onde se está e nem do que fazer é uma sensação que ocupa um lugar de destaque. Nesta hora é bom ter uma referência, um marco pra indicar caminhos, alternativas, possibilidades. Muitas vezes uma pessoa querida é uma referência, que nos faz ver que temos valor, que somos apreciados, que podemos nos direcionar de novo. Uma pessoa que faz parte de sua vida lhe faz rever o passado, dizendo de onde você veio, e com isso ajuda a visualizar o futuro, lhe dando a referência de quais caminhos você pode tomar. Claro que para se fazer isso, não basta simplesmente estar lá. Tem que se ter uma vida baseada em valores positivos e princípios compartilhados. Meus irmãos tem sido uma ótima referência, todas estas pessoas lindas que Deus me deu.
J Proteção – Só Deus pra nos dar proteção integral, contra todos os males visíveis e invisíveis deste mundo. Só mesmo Ele pra nos proteger das ciladas do mal, e dos erros que podem nos levar pro fundo do poço. Mas Ele nos dá pessoas que nos protegem de muitas coisas das quais não escaparíamos sozinhos, tais como desânimo, uma baixa auto-estima, solidão e também de nossa cabeça quente e da pressa que temos para tomar decisões em momentos errados. Uma irmã querida e um irmão amado nos protegem de muitas escolhas incorretas, de muitas atitudes impensadas, e também da presunção, quando nos mostra, do seu jeito, que existem coisas que podiam melhorar muito dentre aquelas que fazemos. E como este texto é para irmãos que já me protegeram muito nestas questões (mesmo que eles não lembrem e estejam se perguntando agora quando aconteceu isso), não posso deixar de mencionar que isto é uma coisa muito boa em se ter irmãos especiais.
J Conselhos – Preciso declarar que uma das coisas boas de se ter uma irmã que se preocupa sinceramente comigo, de ter um irmão que sabe bem o que se passa em minha cabeça, são os bons conselhos que recebo. Sugestões, idéias, um “porque você não faz assim...” foram muito importantes pra que muitas coisas de que eu me ocupava dessem certo. E como a gente não consegue saber de tudo, um conselho na hora certa ajuda muito, muito, muito. Se você quer ter bons conselhos, dados por alguém que gosta de você, uma das melhores formas é tendo uma irmãzinha, e ouvindo seu irmãzão... Sou grato a Deus por eles.
J Alguém a quem dirigir carinho – Tem momentos em que a gente quer exercitar o coração, fazendo valer o amor que aprendemos a ter com Deus. Neste momento ter pessoas valiosas a quem direcionar nossos atos, para quem demonstrar que amamos é fundamental. Existem muitas pessoas em nossa vida, e por isso muitos tipos de carinho. Dirijo carinho a minha esposa, e também muito para minha mãe. Tenho um irmão, e aí a gente faz isso de forma completamente diferente, ajudando a construir algo, indo junto a algum lugar... Amor materno, amor filial, amor eterno e amor fraterno... Minhas irmãs e irmãos tem sido as pessoas que dá vazão ao amor fraterno que carrego comigo. A questão do dar carinho só é bem resolvida quando a pessoa o aceita, de coração aberto. Quando valoriza os  esforços que fazemos para       agradar, e agrada-se não do que tenhamos feito muitas vezes, mas do simples fato de que  fizemos. Meus queridos irmãos e irmãs tem sido assim, receptivos ao meu carinho desajeitado, pacientes com meus métodos atrapalhados de demonstrar que gosto muito, muito, muito deles... Dar carinho é só a primeira parte... ter uma   pessoa a quem direcioná-lo e que o   mereça e que saiba receber, nos valorizando e também retribuindo é uma das fantásticas coisas  em se ter uma irmã que te escolheu ou um irmão que te aceitou sem reservas...
J Observadores – Não do seu comportamento, mas do espaço que você ocupa. Quem vê de fora sabe melhor do que nós mesmos a forma como estamos nos relacionando com as pessoas e com os acontecimentos. Quem olha por outro prisma tem uma ideia bem mais clara de como somos e de como deveríamos ser em nosso ambiente. Não quero deixar a responsabilidade toda nas mãos dos outros, é claro. Nós temos o papel fundamental, e precisamos construir nossas relações, nossa estima, nossas certezas e achar o melhor caminho pra realizar e crescer. Mas como todo bom filme tem um coadjuvante que muitas vezes rouba a cena, em nossa vida uma pessoa que se importe em observar e comentar, é fundamental. Meus queridos irmãos tem sido os meus mais caros observadoras. É dessa observação que nascem muitos dos seus conselhos, e também  muito de sua disposição e prontidão em me ajudar não do jeito que eles gostariam, mas muitas vezes do jeito que eu preciso. Claro que tive que “dar umas cabeçadas” antes de entender isso (podia até ter sido mais beneficiado se aprendesse   antes...) mas agora que entendi, vejo que isso é uma coisa  maravilhosa que ter irmãos que nos amam proporciona.
J Amizade, cumplicidade – Acho que quanto a isso não preciso comentar. Fica nas entrelinhas do que já foi dito (e do que ainda será) que isto está entre as coisas mais preciosas deste mundo e do mundo porvir. Precisamos ter pelo menos 5 amigos de verdade, que sejam parceiros e cúmplices de nosso crescimento e alegria. Tenho tido a bênção de ter estes amigos, e entre eles ter aqueles que são irmãos de coração. No mais, todos os que já sentiram o que é ter alguém assim não precisam ler mais nada pra saber do que falo. Só vou frisar mais uma vez que uma forma fantástica de se obter isso é tendo uma irmã de sonho, um irmão de fé, de fato e de coração. Sem mais comentários...
J Respeito – Independente das posses que tenho, da posição que ocupo ou das coisas que fiz. Meus irmãos me ouvem e muitas vezes buscam meu conselho. Minha irmã acata minhas decisões, meu irmão me dá apoio. Reconhecem quando erro, mas dividem bem o erro da pessoa, e não me condenam por ser quem sou, gostar da forma que gosto, me entregar. Aconselham sim, discordam e repreendem (e repreendem de um jeito tão meigo que não dói), mas respeitam. Aceitam minhas escolhas, aceitam meu tempo de fazer e de estar, e compartilham disso. Eles gostam de mim, e sua opinião não depende do que outros acham ou dizem, mas do tempo e do convívio. Eles me defendem por que me entendem e porque me respeitam. Isso é muito importante pra que eu fique em pé em muitas situações. A soma de respeito e encorajamento que brota dos olhos das pessoas que me amam é que forma a base de minhas realizações e coragem. Coisa incomparável que recebemos quando temos irmãos.
J Reconhecimento – Medalha por esforço feito, prêmio por luta vencida, honra por ter começado e acabado. Tem muita gente precisando disto, e infelizmente, muita gente precisando aprender a fazer isso. Tenho sido feliz nesta área, ao ter a grata oportunidade de conviver com queridos amigos que sabem fazer, e fazer bem o exercício de premiar.  Há outros que reconhecem meus méritos e sabem como me reabastecer com isso sem deixar que vire vaidade, ou que aquilo que faço seja mais do que realmente é. Minhas irmã s e irmãos tem sido fundamentais nesta área. E posso dizer que isso não se deve à muita experiência de vida, e nem a  cursos feitos. Eles tem isso em sua natureza. É óbvio que sua vivência foi fator decisivo para que desenvolvessem esse dom,  mas vejo que há neles, de coração, o reconhecer, o premiar com um abraço, com palavras de incentivo aquilo que as pessoas fazem (que mereça louvor) e que  muitas vezes ninguém mais dá atenção, porque reconhecer grandes feitos é fácil, mas estar atento aos pequenos detalhes (que a gente se esmera tanto por fazer) já está em outra escala. Mas seu reconhecimento é tão necessário (e as vezes mais)  quanto o dos grandes eventos de nossa vida. Tenho tido este privilégio, e isto é uma das melhores coisas que ter irmãos nos proporciona.

           
            Boas coisas em se ter uma irmã e um irmão... Não quero que pareça que estou dizendo que todos devem sair por aí e procurar escolher uma pessoa pra desempenhar tudo isso em sua vida, como se fosse uma compra de um produto fantástico. O que quero é simplesmente reconhecer, que mesmo sem procurar, obtive tudo isso. Mesmo sem ter ao menos pensado, Deus me deu o presente de escolher e ser escolhido por pessoas, que além de realizar muitos dos meus sonhos, proporcionam tudo isso.

            O que quero é agradecer, e muito, todas essas coisas boas que ter irmãos especiais me trouxeram. Pode até aparecer alguém que discorde, mas sou obrigado a dizer a esta pessoa duas coisas: 1) talvez esteja discordando por não estar sabendo apreciar, valorizar, se relacionar com seus irmãos, e 2) este texto não tem a pretensão de descrever todas as irmãs i irmãos do mundo, mas aqueles que se doam em especial, o que já explica e encerra a questão. Coisas boas em se ter irmãos pode ser um capítulo único, escrito e vivido por uma única pessoa, que tem tudo isso como bênção. 


            O que há de melhor no sonho é poder vivê-lo. Quando sonhava em ter muitos irmãos, em minha infância, eu sonhava com coisas assim. Viver o sonho é a melhor parte, e saber que ele poder perdurar é melhor ainda. Oro sempre pra que minhas irmãs e meus irmãos sejam cada vez mais especiais e felizes, e para que este sonho perdure muito e muito...

sábado, 21 de junho de 2014

Ficando pobre


As madrugadas insones são boas, ao menos, para a reflexão. Com olhos abertos no escuro do quarto, ouvindo sons distantes, levei um pequeno susto com o som da geladeira, aparecendo do nada, resultado daquele ciclo de liga/desliga. Em função disto, talvez por não estar pensando em nada muito efetivo, comecei a listar as coisas que tenho em casa, iniciando pela geladeira, claro. Foi assim que comecei mais uma reflexão das madrugas, pensando em como me empobreci no decorrer dos anos.

Listei meus pertences mentalmente, e me vi reduzido a proprietário de alguns poucos bens. Alguns já bem usados, outros mais novos, embora não totalmente pagos. Um carro na garagem (financiado), uma geladeira e um fogão. Um sofá e uma TV, um aparelho muito simples de DVD. Uma mesa com quatro cadeiras, duas camas e muitos livros. Está aí um resumo da minha "riqueza". Ao comparar isso com o que eu tinha antes, a realidade de minha pobreza pesou sobre mim de uma maneira avassaladora.

No passado eu tinha uma frota de carros, todos meus, nenhum deles financiados. Tinha carros esportivos, modelos mais convencionais e alguns bem antigos, verdadeiras peças de colecionador. Tive também alguns caminhões, três grandes ônibus e o luxo de ter quatro ou cinco tratores que, vez ou outra, utilizava em minhas construções.

Tive  prédios inteiros de escritórios e fábricas das mais diversas áreas da produção. Cheguei até mesmo a ter uma fábrica de robôs mega modernos. Mais de uma vez tive barcos e lanchas à minha disposição, e fazia viagens inusitadas, sem me preocupar com distância, recursos, pacotes turísticos ou dia de voltar. Participava de corridas com minhas lanchas e também mergulhava, fazia esqui e pescava peixes enormes.

Perdi a conta de quantas fazendas tive. Mas me lembro perfeitamente dos meus aviões e helicópteros e que uma vez utilizei vários deles para transportar meu gado. Eu tinha um verdadeiro exército de vaqueiros também. E quando mudava minha fazenda de lugar, levava junto as casas e até as árvores.

Tive foguetes interplanetários, um castelo com fosso, cavalos que voavam, submarinos, e até fui rei. Explorei minério em outros planetas, tive postos de gasolina e estações de trem. Fui presidente e imperador. Em meu vasto império eu colecionava diamantes e tinha minhas florestas e lagos particulares. Eu era realmente e verdadeiramente muito rico.

Toda esta incontável riqueza ficava guardada no meu quintal. Uma boa parte em algumas caixas de brinquedos que eu colocava debaixo da cama. A maior parte, porém, ficava bem escondida na mente de um garotinho de olhos verdes, bochechas rosadas e tanta inocência que dava dó... Andava de pé no chão, morou em um barracão de 3 cômodos, e brincava nas ruas de terra do bairro onde morava, que ainda não tinha rede elétrica, água encanada ou rede de esgoto. Um garotinho de família humilde, que ficava com o rosto sujo pela fuligem da lamparina de querosene, e que “escutava” os desenhos preferidos da TV colando o ouvido na parede da casa vizinha. Realmente eu era um garotinho sem muitos recursos, mas extremamente rico. Por volta dos 15 anos de idade, infelizmente, comecei a perder tudo...

Você, lendo estas linhas, pode até pensar que isto não passa de uma brincadeira, mas é sério. A sensação de riqueza que eu sentia era muito real. Me faziam muito bem minhas posses de mentirinha, meus carros e aviões. Eu verdadeiramente viajava pelo mundo, explorava minas, pilotava navios e naves espaciais. As imagens da minha mente infantil eram muito mais nítidas do que aquelas que vejo na TV de alta definição que tenho na sala e ainda não terminei de pagar. Nas riquezas sem fim de minha imaginação eu angariava alegria verdadeira, sorrindo e me divertindo profundamente com meus caminhões de lata, com meus exércitos de carretel de linha. E como eu me sentia plenamente realizado quando via brotar meus pés de feijão e milho, cultivados por meus fazendeiros de plástico e regados com a água tirada da cisterninha feita de latas de óleo de soja enterradas no quintal.

Naquela época eu era próspero na confiança que tinha em mim mesmo. Realizava meus sonhos de uma forma que só meus infinitos recursos podiam pagar. Era pleno em autoestima, e me sentia inteligente e capaz. Não fazia a menor ideia de que eu me compararia com outros no futuro para tentar medir minha “grandeza”... Quando a gente faz uma coisa desta é que começa a ficar pobre.

Eu, enquanto garotinho que vivia no quintal, era farto em coragem. Lutei muitas vezes com tigres, leões e dinossauros assustadores. A riqueza de minha imaginação permitiu que meu cachorro interpretasse com maestria cada um destes enormes animais. Rico como era, eu esbanjava ousadia e determinação. A palavra desistir não era conhecida e o deixar pra depois servia apenas para o ato de almoçar ou tomar banho depois de um dia de brinquedo da terra ou entre as árvores (muitas vezes em cima delas...).

Meus cofres, assim como a caixa forte do Tio Patinhas, estavam abarrotados de paciência. Minha riqueza de mentira me proporcionou a obtenção de qualidades de verdade, tais como o gosto pelo estudo (quando eu era um renomado cientista que explorava outros planetas), a solidariedade (quando eu era imperador e dividia minha enorme colheita de frutos com os imperadores vizinhos, também conhecidos como colegas) e a empatia (quando meu amigo perdeu sua nave espacial, que era a árvore em que subíamos para viajar ao espaço e foi cortada de seu quintal...).

E assim, o pequeno bilionário que habitava mansões feitas de caixas de papelão, tinha muitas jóias raras como coragem e otimismo, e brilhantes fabulosos como consideração e carinho pelos outros, além de uma pérola valiosa ao extremo, chamada SATISFAÇÃO.

Entre os 18 e 20 anos eu já não era tão rico... Assim que a riqueza material começou a se insinuar e a busca por aquilo que “é de verdade” no mundo adulto começou a ganhar força fui ficando mais pobre de coragem, de ousadia, de criatividade... Minha fortuna de autoestima diminuiu drasticamente. Já não sou mais tão determinado, há muito não sei o que é desfrutar de um passeio no meu carro de verdade sem pensar no desgaste das peças e no preço da gasolina...

Triste esta realidade de ir ficando mais pobre a cada dia... Hoje de madrugada vasculhei meus cofres e só consegui encontrar uma moeda. Parecia uma daquelas bem antigas, que os exploradores do fundo do mar encontram em navios naufragados. Esta moeda tem cunhado em um dos lados a palavra EXPERIÊNCIA.

Olhando DE UMA OUTRA FORMA para minha única moedinha “de mentira” , alimentei uma esperança em meu coração. Pensei, durante as horas da madrugada, enquanto minha esposa e filho dormiam, que talvez eu pudesse comprar um pouco de sabedoria divina, para que o pobre homem que me tornei pudesse recuperar sua fortuna.

Se você tem sentido que está ficando pobre, assim como eu, procure a última moeda em seu cofre. Faça com ela o investimento da sabedoria. Creio que a vontade de Deus para nós é que todos sejamos abundantemente abastados, principalmente daquela “riqueza de mentirinha” de que tanto precisamos. Ela faz parte da promessa de Deus pra nós. Pense nisto.